EXCLUSIVO – Na noite em 14 de maio, o Estádio do Morumbis foi palco de um incidente que abalou a partida entre São Paulo e Libertad (PAR), pela Conmebol Libertadores. Após o gol de empate, torcedores na Arquibancada comemoraram batendo em uma placa metálica que cedeu e caiu atingindo três pessoas. Dentre elas, Ivan Bezerra da Silva, de 49 anos, que ficou gravemente ferido e foi levado às pressas para o Hospital Albert Einstein.
Diante de episódios como esse, o que uma empresa ou um clube como o São Paulo FC que promove grandes eventos esportivos, deve contratar para se proteger e, ao mesmo tempo, garantir amparo às vítimas?
De acordo com Márcio Silva, CEO da Consede Corretora e vice-presidente do Sincor-SP, os clubes têm à disposição diferentes tipos de seguros de Responsabilidade Civil (RC), capazes de indenizar terceiros em casos de acidentes. “O clube pode contar com modalidades distintas, conforme sua necessidade e orçamento. O mais abrangente é o RC Operações, contratado de forma anual e que oferece proteção contínua, independentemente de jogos ou eventos”, explica.
Outra alternativa é incluir a cobertura de RC dentro do Seguro Empresarial do clube, embora com limites mais baixos e escopo reduzido. “Essa cobertura pode até ser válida em situações fora dos dias de evento, mas dificilmente terá a mesma amplitude do RC Operações”, acrescenta.
Já o RC Eventos funciona de maneira pontual, sendo contratado especificamente para um jogo, show ou atividade determinada. Nesse caso, a apólice pode abranger desde danos a torcedores e artistas até incidentes envolvendo fornecedores, equipes médicas e processos de montagem e desmontagem de estruturas. A cobertura é restrita ao período de realização do evento, incluindo a fase preparatória e a desmontagem posterior.
Além dessas, existem produtos ainda mais específicos, como o RC Exposições, voltado para feiras e mostras culturais, e o RD Eventos, que cobre peças de valor ou obras de arte. “Há soluções diversas que permitem adequar a proteção ao perfil da operação. O grande desafio é a conscientização dos gestores sobre a necessidade de contratar o seguro certo antes do início das atividades”, afirma o corretor.
Seguro embutido no ingresso: mito ou realidade?
Outro ponto que gera confusão é a ideia de que a compra de ingressos para eventos esportivos ou culturais já inclui automaticamente algum tipo de seguro para o consumidor. A realidade, segundo Márcio Silva, é que não existe legislação federal obrigando essa prática no Brasil.
Ainda assim, muitos organizadores optam por contratar coberturas de Acidentes Pessoais (AP Evento ou AP Turista), geralmente com valores de indenização mais baixos. “É uma medida preventiva, que ajuda a reduzir o risco de ações judiciais, mas que não se equipara a uma cobertura robusta de Responsabilidade Civil. Na prática, trata-se de um complemento, não de uma solução integral”, observa.
Esses seguros podem oferecer indenização em caso de morte acidental ou invalidez permanente, mas seus limites costumam ser determinados por pacotes padronizados contratados pelas produtoras, de modo a não impactar significativamente o preço do ingresso.
A visão das seguradoras
Do ponto de vista das companhias, a contratação de seguros adequados é essencial para proteger tanto o público quanto a própria instituição. Anderson Soares, gerente de Responsabilidade Civil da Tokio Marine, explica que o Seguro de Responsabilidade Civil Geral da empresa foi desenhado justamente para cenários como o de um estádio.
“O produto cobre danos involuntários a terceiros como corporais, materiais ou morais desde que haja comprovação de responsabilidade do segurado e que o evento esteja contemplado na apólice. É uma proteção especialmente indicada para operações com grande circulação de pessoas, como arenas esportivas e centros de convenções”, afirma.
Segundo o executivo, alguns clubes brasileiros já contratam esse tipo de seguro para todo o calendário anual, garantindo tranquilidade na gestão de riscos. A contratação deve ocorrer antes do início das atividades, o que permite cobertura contínua e evita lacunas que poderiam comprometer o pagamento de indenizações em caso de sinistros. “Cada apólice é estruturada de acordo com os riscos e particularidades do cliente. O papel do corretor, nesse contexto, é fundamental para ajudar a identificar as necessidades e montar a solução adequada”, reforça.
Se por um lado o seguro é um instrumento financeiro de proteção, por outro a prevenção segue sendo a principal recomendação das companhias. Para a Tokio Marine, a gestão de riscos deve começar antes da primeira partida ou evento. Isso inclui vistorias periódicas, manutenção preventiva das estruturas e revisão constante dos planos de segurança. “Um seguro bem estruturado protege contra prejuízos financeiros e assegura a continuidade operacional, mas não substitui os cuidados básicos de segurança. O ideal é sempre somar as duas frentes: prevenção e proteção financeira”, observa Soares.
Márcio Silva reforça que a imagem institucional de clubes e organizadores também depende dessa combinação. “Mais do que evitar ações judiciais, um seguro adequado transmite confiança ao público. Mas a prevenção é indispensável para preservar vidas e a credibilidade das instituições”, completa.
O episódio no estádio do Morumbis funciona como alerta para clubes, organizadores de eventos e gestores de arenas esportivas. A contratação de seguros de Responsabilidade Civil adequados, associada a práticas de manutenção e segurança rigorosas, é fundamental para reduzir riscos e proteger todos os envolvidos.
Procurado, o São Paulo FC não se manifestou sobre as modalidades de seguros contratadas para cobertura de incidentes como este.

Nicholas Godoy, de São Paulo