Ultima atualização 28 de fevereiro

Riscos climáticos: CNseg cria ferramenta para ajudar seguradoras

Entidade divulgou o projeto "Construindo Seguros para a Transição Climática", que visa mitigar os impactos das mudanças no clima
riscos
Dyogo Oliveira

EXCLUSIVO – Para facilitar a avaliação da exposição e o impacto dos riscos físicos climáticos, adaptadas ao mercado segurador brasileiro, a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), em parceria com a UNEP FI (Iniciativa Financeira do Programa Ambiental das Nações Unidas), lançou a ferramenta “Construindo Seguros para a Transição Climática”. O objetivo da entidade é mitigar os impactos dos riscos climáticos, utilizando projeções que consideram diferentes cenários de condições climáticas no Brasil.

O projeto piloto contou com a participação de 21 seguradoras brasileiras, fornecendo capacitação e a disponibilização de ferramentas para análise de cenários que consideram riscos climáticos. Durante o desenvolvimento do projeto, foram desenvolvidas duas ferramentas: um Mapa de Calor de Riscos Climáticos Físicos e uma Ferramenta de Cenários de Perdas Climáticas por Inundações Urbanas. No primeiro momento, a plataforma irá atender apenas as companhias que atuam nos ramos de Danos e Responsabilidades. Para apresentar a novidade ao mercado, a CNseg realizou um workshop na manhã desta quarta-feira (28).

Dyogo Oliveira, presidente da entidade, afirmou que o setor de seguros, por ter expertise na mitigação e proteção de riscos, está sendo convidado a ser um dos protagonistas da agenda de sustentabilidade do mundo inteiro. “Estivemos na COP 28, em Dubai, e o tema seguro foi citado diversas vezes. As mudanças climáticas já são uma realidade e custam caro, principalmente para o Governo e as seguradoras, e se preparar para elas significa usar cada vez mais o seguro como ferramenta de adaptação. Não dá mais para sermos tímidos, pois temos muito a contribuir para diminuir os impactos da mudança climática”.

Segundo Jéssica Bastos, diretora da Susep (Superintendência de Seguros Privados), as ferramentas também irão auxiliar as seguradoras no cumprimento das exigências estabelecidas pela Circular nº 666. “Esse é um tema transversal para o Governo, que tem sido encabeçado pelo Ministério da Fazenda e por todas as agências reguladoras de mercado financeiro. Na Susep, temos trabalhado arduamente em iniciativas que façam as nossas supervisionadas adotarem uma operação mais sustentável. Lançamos o terceiro edital do Sandbox, que vai ser bastante focado em transição ecológica, além de termos criado um grupo de trabalho para discutir taxonomia e seguros sustentáveis. Esperamos muita contribuição da própria CNseg e da sociedade civil para que possamos promover a mudança de paradigma quando falamos sobre riscos climáticos”.

André Andrade, diretor do Ministério do Meio Ambiente, também participou do evento da CNseg para comentar sobre os desafios enfrentados pelo Governo para diminuir os impactos dos riscos climáticos. “Quando pensamos na Política de Clima, enfrentamos um desafio de adaptação, mitigação e governança. O Brasil é um país com diferentes realidades sociais, econômicas e ambientais. Precisamos unir atores do setor público e do privado para enfrentar esse problema. Um desastre natural não vai respeitar se você é rico ou é pobre, e na hora que ele acontece vai afetar mais quem está menos desenvolvido. Precisamos fomentar a capacidade de conhecimento do mercado de seguros em relação à mudança do clima”

Segundo o Atlas Digital de Desastres Naturais, organizado pela Defesa Civil, desde 1995 são estimados prejuízos de mais de R$ 500 bilhões e oito milhões de brasileiros foram/estão desabrigados devido a eventos da natureza. “Além de destruir capital, os riscos climáticos estão destruindo vidas. Isso está relacionado à forma como o Governo está se preparando para a mudança do clima. De acordo com o Adapta Brasil, plataforma do Ministério de Saúde e Tecnologia, dos 5.570 municípios brasileiros, mais da metade tem pouca condição financeira e capacidade de se adaptar a essas mudanças. Com a ajuda do mercado de seguros, podemos mudar esta realidade”, disse Andrade.

Pedro Werneck, especialista em ASG da CNseg, comentou mais sobre a ferramenta durante sua apresentação. De acordo com ele, a plataforma contará com a representação geográfica por identificação de níveis de impacto de 11 riscos físicos climáticos em diferentes regiões do país. “Apesar das ferramentas terem limitações, o racional das metodologias pode ser utilizado para subsidiar sistemas semelhantes a serem elaborados pelas seguradoras, e esta é a grande entrega do projeto. O setor de seguros brasileiro representa 43% da arrecadação do mercado da América Latina. A partir da consideração e avaliação dos riscos climáticos será possível orientar a transformação para uma economia de baixo carbono”.

Ivani Benazzi, superintendente de Sustentabilidade Bradesco Seguros, uma das companhias que participou do projeto, comentou sobre a importância do engajamento de todas as áreas dentro da empresa para que os critérios ASG possam ser seguidos à risca. “A sustentabilidade é um pilar que faz parte de todo o Grupo Bradesco Seguros, sendo discutido inclusive pelo conselho de administração. Participando deste projeto da CNseg, pudemos enxergar os gargalos da nossa operação. Temos um forte engajamento com as áreas de Compliance e Subscrição, e estamos trabalhando na comunicação interna para fortalecer ainda mais o nosso papel no combate às mudanças climáticas”.

Fernando Libano, technical officer do International Labour Organization (Organização Internacional do Trabalho), ressaltou a importância da transição justa para minimizar os riscos climáticos, promovendo uma economia ambientalmente sustentável de forma inclusiva e criando oportunidades de trabalho decente para todos. “A transição justa envolve a maximização de oportunidades sociais e econômicas da ação climática e ambiental, proporcionando um ambiente favorável para empresas sustentáveis, enquanto minimiza e gerencia os desafios. O papel das seguradoras, enquanto gestoras de riscos, é de absorver os impactos diretos por meio de produtos e serviços, do apoio à adaptação e mitigação das mudanças climáticas”.

Finalizando o workshop, a diretora de Sustentabilidade e Relações de Consumo, Ana Paula de Almeida Santos, comentou sobre as próximas iniciativas da Confederação para tornar o setor mais sustentável. A entidade deve elaborar um roadmap de sustentabilidade para o setor, alinhado às melhores práticas globais e fomentando a sinergia entre a agenda ASG e as relações de consumo na construção de produtos adaptados à necessidade do consumidor. “Devemos criar produtos para proteção de créditos de carbono no Brasil, tornando o seguro peça fundamental  para o desenvolvimento dos mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil. Também já levamos para o Governo um projeto para a criação do ‘Seguro Social Catástrofe’. Além disso, queremos desenvolver um hub de dados climáticos, que contenha informações relacionadas a eventos e dados climáticos e seus impactos nas associadas da CNseg e federações, assim como seu cruzamento com dados estatísticos da Susep. Vamos tornar esta entidade e o mercado referências na disponibilidade de informações relacionadas à dados climáticos”.

Nicole Fraga
Revista Apólice

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