Ultima atualização 21 de setembro

União e sustentabilidade são as palavras-chave para a saúde suplementar

Na 27ª edição do Congresso Abramge, especialistas e autoridades do setor se reuniram para debater sobre os desafios que os planos de saúde vêm enfrentando

EXCLUSIVO – Estudar o cenário brasileiro e entender os obstáculos que a saúde suplementar vem enfrentando. Esse é o objetivo da 27ª edição do Congresso Abramge. Especialistas se reúnem entre hoje e amanhã, em São Paulo, no evento da Associação Brasileira de Planos de Saúde, para discutir quais ações o mercado deve realizar para garantir a sustentabilidade do setor. O tema deste ano é “Saúde 2030”.

Na abertura da convenção, Renato Casarotti, presidente da Abramge, comentou sobre os problemas que o segmento está passando e quais medidas os agentes do setor devem adotar pensando no futuro da saúde suplementar. “Durante muito tempo, fomos um mercado que ficou muito afastado do beneficiário. Isso foi ruim, pois esse vácuo que nós deixando foi ocupado por outras pessoas. Precisamos de um resgate da aproximação do beneficiário para discutir o que é o bom cuidado”.

Casarotti ressaltou, ainda, que enxerga o setor dividido e falou sobre os pontos de polarização que têm gerado discussões no segmento, como as terapias continuadas, a pressão no legislativo, o aumento das fraudes e a incorporação de novas tecnologias. “Fechamos 2022 com o índice de sinistralidade em 89,2% e um prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões. Números como este devem servir de alerta para que possamos tomar os próximos passos com cautela, pensando no futuro dos planos de saúde”.

Apesar dos desafios, o presidente da Abramge reforçou a importância da união de todos os agentes da saúde suplementar para a construção de uma comunicação mais eficiente com o consumidor e a sociedade no geral. “É um setor que, mesmo com todas as arestas e pontos de tensão, tem tentado se unir para encontrar uma solução. Vejo muito gente bem intencionada que quer ajudar a resolver. O primeiro passo para avançarmos e pensarmos a saúde 2030 é entender que estamos enfrentando um cenário desafiador, evitar atribuições de culpa e pensar em como levamos isso para frente”.

O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, iria participar do evento, mas por outros compromissos acabou não conseguindo comparecer. Entretanto, ele gravou um vídeo com uma mensagem otimista para os participantes do Congresso. “Iniciamos um novo ciclo de crescimento econômico alicerçado em bases sustentáveis e inclusivas. Se a economia vai bem, cresce o setor privado da saúde e da medicina suplementar, que ajuda a aliviar o SUS e a melhorar a qualidade de vidas de todos os brasileiros. O futuro das novas gerações está diretamente ligado ao futuro da saúde”

Perspectivas dos elos da cadeia

Para apresentar uma visão geral de todos os agentes do setor, o evento reuniu participantes de diferentes frentes do segmento para compartilharem suas perspectivas.

Paulo Rebello, presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) comentou sobre o papel da reguladora. “A ANS completou 23 anos. Assumi o seu comando em 2018 e em 2020 veio a pandemia. Em poucos dias, tivemos que estruturar uma operação em home office para continuar atendendo à sociedade, nossa principal missão. Havia muita pressão e, para suprir todas as demandas, adotamos iniciativas para continuar próximo dos nossos regulados e do beneficiário. Elaboramos o Boletim Covid, que disponibilizava os dados referentes aos impactos da pandemia na saúde suplementar, e organizamos eventos online para debater os desafios do setor. Penso que nos tornamos uma Agência muito mais digital, e este é um momento oportuno para que todos se sentem e conversem sobre o futuro do mercado. Sempre vamos tentar encontrar um culpado, o que nos atrasa no avanço das mudanças que o segmento necessita”

Breno Monteiro, presidente da CNSaúde, afirmou que é preciso construir uma parceria com a indústria para trazer-la para um conjuntos de ações que ajudem a melhorar o cenário da saúde suplementar. Ele ressaltou também que os prestadores de serviços estão mais atentos na operação do negócio. “Eles entenderam que, se algo impacta as operadoras, os prestadores também serão prejudicados. O custo assistencial não está se elevando, basta analisar os dados da própria ANS. O que tem acontecido é que quem compra os nossos serviços não está conseguindo pagar, pois houve uma queda na renda média do brasileiro. Ou a gente constrói um sistema parceiro, em que todos estamos unidos para que possamos diminuir o valor final do plano, ou a saúde suplementar no Brasil poderá se tornar insustentável”.

Para Anderson Mendes, presidente da Unidas, é preciso que o mercado faça uma reflexão sobre em que posição ele está diante os problemas que vem enfrentando. “Enquanto estamos aqui conversando sobre o futuro, milhares de pessoas estão sendo atendidas. As operações das organizações do setor, individualmente, precisam ser sustentáveis e dar resultado. Quando sentamos com o Conselho de Administração, falamos em sustentabilidade na perspectiva econômica, mas muita vezes esquecemos do atendimento. Precisamos buscar um equilíbrio para sermos os protagonistas da transformação da saúde suplementar. Percebo que a crise está instalada, mas há a oportunidade de pela primeira vez trabalharmos todos juntos”.

Saúde 2030: Caminhos para a sustentabilidade

Anderson Mendes, Nelson Teich, Jorge Oliveira e Jorge Antonio

Em um painel moderado por Jorge Oliveira, presidente do Sinamge (Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo), o diretor da Diope (Diretoria de Normas e Habilitação das Operadoras) da ANS, Jorge Antonio Lopes, compartilhou insights sobre as diretrizes e regulamentações que orientam o cenário da saúde suplementar.

Segundo Lopes, um dos desafios que o segmento enfrenta é a dificuldade de atendimento no SUS e a falta de prevenção e promoção de saúde. “Para mudarmos essa realidade, precisamos ter uma melhor análise de dados para podermos superar estes problemas. Acredito muito no modelo de redes técnico-econômicas para resolvermos os desafios da saúde suplementa. A redução das barreiras corporativas, o sistema Open, a expansão tecnológica e o bem estar do beneficiário reduzem os riscos de todos.

Nelson Teich, ex-ministro da Saúde e consultor sênior da Teich Health Care, apresentou as diferenças entre os planos de saúde e o SUS. O especialista defendeu a criação de um programa de informação e inteligência nacional, unindo o Estado, a saúde suplementar, a academia e a iniciativa privada. “Se a gente quer que a saúde privada trabalhe como um sistema, é preciso que a gente foque em dados de pessoas. Não adianta desenvolver leis e projetos se você não criar condições para que eles sejam colocados em prática, e a Atenção Primária não vai resolver os problemas e a ineficiência do setor”.

Teich ainda afirmou que a inovação não é o caminho para solucionar a ineficiência e a iniquidade do sistema. “Acabar com o Fee For Service não vai resolver os problemas do mercado. Na prática, hoje brigamos mais para reduzir custo, do que oferecer cuidado ao beneficiário. Se quisermos alcançar um futuro sustentável, é preciso tratar o cuidado em saúde sempre como contínuo, e não apostar em soluções isoladas e fragmentadas”.

Anderson Mendes finalizou o painel falando sobre a importância do setor ter como foco o cuidado com o paciente. “A saúde suplementar no Brasil nasceu como um produto, e isso foi um grande erro. Quando tratamos o plano de saúde como mercadoria, o beneficiário pensa que se ele está pagando é para usar a vontade. É preciso trazer mais a ideia do mutualismo e de sistema, focando numa visão sistêmica do mercado. Temos que olhar para o futuro e entender que alguns pilares vão ajudar, como o poder transformador da informação. Quando tenho dados, consigo tomar uma decisão melhor. Acredito que falta foco para trazer isso enquanto uma prioridade”.

Nicole Fraga
Revista Apólice

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