Ultima atualização 08 de setembro

ASG e experiência do cliente podem significar um campo de avanço

Com menos dinheiro disponível, startups da área de seguros devem iniciar uma nova fase em 2024, apostando em ocupar espaços ainda vagos no mercado

EXCLUSIVO – Cooperação é a palavra de ordem no mundo das insurtechs, seja no Brasil ou no mundo. Se elas surgiram para cobrir lacunas na operação do mercado, ou para investir na distribuição digital de produtos, ainda precisam demonstrar seu valor para continuar recebendo investimentos. 

Segundo Hugues Bertin, CSO da Digital Insurance Latam, o baixo investimento em insurtechs em 2023 (entre US$ 70 e 80 milhões no primeiro semestre, na América Latina) continuará até que as insurtechs não resolvam pelo menos dois dos cinco atributos principais a seguir: custos de aquisição mais baixos; menores custos de administração; melhora do risco com dados ou prevenção; aumento do valor do tempo de vida; cobertura de uma nova necessidade real.

“Esperamos que as insurtechs retomem esse “Back to basics” como chave de sucesso e, por isso, devemos ver a partir de 2024 uma nova onda de insurtech 2.0, já que nosso setor de seguros tem muitas ineficiências para resolver apenas a tecnologia conseguirá resolvê-los”, prevê o especialista.

Há algumas tendências que são comuns aos mercados globais. O aumento da resiliência e a agilidade continua a ser prioridade, assim como a evolução das empresas ligadas aos riscos climáticos, a atenção às políticas de ASG (ambiente, social e governança) e o investimento na experiência do cliente. 

Há também pontos que se cruzam com as tendências das seguradoras tradicionais, como a necessidade de parcerias entre incumbentes e insurtechs, conforme estudo “Tendências da Indústria de Seguros”, publicado pela consultoria Accenture. Este mesmo estudo aponta que o seguro precisa deixar de ser um produto elitizado e, neste ponto, as insurtechs têm muito a contribuir, porque elas ajudam a democratizar o acesso a produtos e serviços mais ágeis e com custo menor. “No cenário atual, a parceria entre insurtechs e incumbentes será acelerada, e os números já mostram isso, com um crescimento de 7% entre fusões e aquisições em 2022, comparado a 2021”, destaca Hugo Assis, sócio Líder da Indústria de Seguros para Latam da Accenture.

Para o consultor, as insurtechs já apoiam o mercado de seguros para acelerar partes importantes do ecossistema, como distribuição, aumento do portfolio, inserção de produtos em canais digitais e muitas outras alavancas que irão ajudar a melhorar o acesso aos produtos de seguros.

“Algumas tendências para o mercado das insurtechs não se realizaram”, afirma José Prado, fundador da Insurtech Brasil e da Associação Brasileira das Insurtechs. “Estamos no momento de mostrar o que aprendemos e que está sendo aplicado nas seguradoras, MGA’s e corretoras. Temos que ressaltar a inovação fora das insurtechs e mostrar que todos são inovadores”, provoca Prado.

Para ele, o modelo “dos sonhos”, de capital sobrando, que reinou de 2008 a 2021 não existe mais. “Ele pode voltar daqui uns três anos, porque estamos em momento de juros altos e poucos investimentos em startups, que é de risco”. O setor passa por um período de ajustes das empresas.

Um oceano de oportunidades

O mercado de seguros oferece uma série de possibilidades de atuação para empresas de tecnologia. A lacuna de proteção é um atrativo para empresas de qualquer parte do mundo, porque a participação do setor no PIB ainda é pequena, cerca de 5,2% em 2022, segundo dados da CNseg. 

“As empresas buscam novas parcerias para distribuição. O CAC (Custo de Aquisição de Cliente) de mar aberto está muito alto. O canal corretor é acessível”, confirma Prado, da Insurtech Brasil. 

Hugo Assis destaca que a distribuição não será definida apenas pelo custo, e sim pela jornada da compra e por produto. “O cliente que está comprando uma viagem pode aceitar digitalmente uma oferta embarcada de um seguro viagem, mas um seguro de vida pode necessitar de um aconselhamento mais estruturado, onde o corretor sempre terá seu espaço”.

“Na parte da distribuição, é provável que, graças à chegada da IA ​​generativa, voltemos a ver uma nova tendência para o Direct-To-Consumer, usando canais como o WhatsApp como um novo eixo de distribuição com um ChatBot Evolutivo”, explica Hugues Bertin. Caso a Generative AI seja um “hype” sem a capacidade de escalar esta nova tecnologia, é provável que todos os modelos de distribuição caminhem para o B2B2C, contando com plataformas de distribuição capazes de ligar as seguradoras tradicionais à distribuição.

Para o executivo da Digital Insurance, nos próximos meses, devemos ver cada vez mais insurtechs trabalhando em novos riscos (cripto, ciber) ou riscos tradicionais “maltratados até agora”, como PMEs e independentes. “Do ponto de vista dos produtos, a nova matriz que vai passar por uma grande revolução está relacionada aos benefícios para funcionários, como Betterfly, Fully Ecosystem etc.

Bertin completa: “do lado dos habilitadores, as áreas que gerenciam os dados para melhorar os riscos (assinatura, segmentação, retenção) devem ser as estrelas. Agora, a digitalização dos processos, a APIficação do setor continuará a ser as áreas chave para atuação das insurtechs. Por fim, a tendência Open Insurance abre um mar de oportunidades que vão surgindo aos poucos”.

Há cinco anos, lembra Hugues, todo mundo falava em desintermediação, que os intermediários iam acabar e que o cliente queria comprar seguro sem atrito, 100% online. A realidade mostrou-se muito diferente. “Hoje sabemos que o cliente é 80% híbrido e por isso quer ter ferramentas de autogestão (venda e pós-venda), mas também quer poder falar com um humano quando necessário. O grande vencedor destes cinco anos é o intermediário elevado ao que chamamos de “OMNI”, que consegue usar a tecnologia (facetime, diagnóstico de riscos, API, RRSS) para poder proporcionar uma experiência humana e omnicanal aos seus segurados. O desafio não é mais a famosa “Transformação Digital” e sim como podemos “humanizar o digital”.

Parceria com seguradoras

No passado, havia o mito de que as insurtechs surgiram para concorrer com as seguradoras tradicionais. Na verdade, elas vieram para somar. Muitas seguradoras começaram a investir em aceleradoras e espaços para cocriação, abrindo verdadeiros laboratórios de inovação para hospedar startups.

O Grupo Bradesco investiu na InovaBra, assim como a Porto apostou na aceleradora Oxigênio. O Grupo Mapfre institucionalizou a Mapfre Open Innovation – MOI, como forma de se conectar com o ambiente aberto.

Nik Maack, superintendente de Negócios Digitais e Inovação da Mapfre, explica que o MOI é uma grande fábrica de projetos, baseado em alguns pilares como: identificar uma dificuldade estratégica, rapidamente a seguradora se conecta neste hub local, para buscar soluções; aplicar a inovação disruptiva, onde entra a capacidade de investir nas insurtechs (através de Venture Capital própria); 

“Nosso olhar é de apoio e cooperação, porque muitas empresas já possuem solução, flexibilidade e agilidade que nós, grandes seguradoras, não temos. Isso pode ser rapidamente implementado, para gerar valor percebido pelos clientes, tanto corretores de seguros quanto consumidores”, esclarece Maack.

O MVP – Mínimo Produto Viável – para a Mapfre é Mínimo Produto de Valor. A empresa implantou a vistoria para sinistros de seguro auto por foto, para encurtar o tempo desde a vistoria até a repação. O segundo caso é para os sinistros de vidros em seguro residencial, no qual o cliente pode fazer a vistoria à distância. A tramitação de ambos os processos é feita com a aplicação de inteligência artificial. Em ambos os casos, o período de tramitação dos processos caiu drasticamente: em auto, reduziu de 2 dias para quatro horas, na média ( processo de peritação e liberação), em residencial, reduziu de 20 para 4 dias. “Como toda e qualquer inteligência precisa de massa para ir crescendo,nós testamos para depois partir para a implementação definitiva”, conta Maack.

Sustentabilidade

A mudança do modelo de atuação é mais do que uma tendência, uma necessidade. “Devido à falta de recursos financeiros e ao encolhimento da pista (número de meses que uma empresa tem antes de ficar sem dinheiro), todos os corretores digitais que investiram pesadamente em aquisição migram para modelos B2B2C ou plataformas de distribuição ‘white label’ ou venda de seus ativos e conhecimento tecnológico”, enumera Bertin.

Ele também cita, agora, a nova tendência de inovação: a Sustentabilidade. “Todas as novas insurtechs de sucesso atuais e futuras são as que têm triplo impacto: lucratividade (usando dois dos cinco atributos mencionados no início da matéria), ambiental e social”.

Na outra ponta, cada seguradora tem sua maturidade e sua estratégia. Bertin avalia que a compra de insurtechs é um eixo a ser analisado, em especial para melhorar uma parte de sua cadeia de valor ou para comprar um ativo tecnológico de distribuição que não possui. Entretanto, é pouco provável que os empresários fiquem depois da compra e integração, pelo que é fundamental que as seguradoras avaliem cuidadosamente o que compram, qual é o ativo real adquirido e a sua capacidade de integrá-lo na sua organização, eventualmente sem os fundadores”.

Pelo lado dos seguradores, Nik Maack pondera que há oportunidades para as insurtechs em modelos de subscrição, que possam atuar como MGA’s, sabendo das regras da companhia e tendo tecnologia mais flexível, conectando-se em canais de distribuição. Ele também acredita que o pós-venda merece destaque, porque as insurtechs podem buscar a simplificação para gerar experiências positivas para o consumidor.

Maack salienta: “é preciso olhar para a nova geração de consumidores, que precisam de produtos que, muitas vezes, demoram a ser desenvolvidos pelas seguradoras tradicionais. Produtos pensando na longevidade, no seguro liga e desliga, nas oportunidades de paramétricos etc”.

Qualquer inteligência para ser potente e ganhar corpo precisa de dados. Os dados de apenas uma seguradora pode restringir a capacidade de expansão desta inteligência. Às vezes, ter uma insurtech fornecendo para as seguradoras é como se elas cooperassem para um modelo de transformação de mercado, com cada uma extraindo o melhor da inteligência, com todas se beneficiando dos dados que passarem pela tecnologia. “A startup cresce, o mercado cresce e as seguradoras também, com um benefício competitivo”.

Hugues Bertin aposta que todos os produtos vão continuar passando por grandes transformações, com todas as tecnologias disponíveis até as linhas comerciais. “Depois da telemática (seguro de carro) e dos dispositivos de saúde e vida (para melhorar o bem-estar), continuaremos a ver como novas tecnologias, como a Internet das Coisas (mundo dos censores) e a IA generativa, oferecerão novas experiências”.

Mas, todos os especialistas ressaltam que é preciso olhar para a “humanização” da Inteligência Artificial. Ela não pode ser dura, precisa conseguir ler as emoções do interlocutor e adaptar a sua forma de atuação.

Kelly Lubiato
Revista Apólice

* Esta matéria foi publicada na edição 289 da Revista Apólice

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