Li essa notícia no jornal com perplexidade. Como que o resultado de uma pesquisa que aponta que o brasileiro não se planeja para a fase de aposentadoria pode ser manchete de jornal? O brasileiro se planeja para alguma coisa? Você conhece algum brasileiro que planeja sua vida e segue esse planejamento? Se a sua resposta for positiva eu garanto que você conhece vários bem sucedidos, porque os poucos brasileiros que planejam suas vidas são pessoas vitoriosas, quanto a isso eu posso apostar.
Eu conheço um senhor que trabalhou como zelador de prédio comercial por mais de 20 anos. Nos finais de semana fazia faxina em três salas de escritórios do prédio. Estava sempre atento na locação e venda das unidades e, claro, ganhava comissão pelos negócios fechados. Aprendeu assim sobre negociação de imóveis. Comprou três salas de escritório e um apartamento de três dormitórios para morar. Criou dois filhos e hoje, aposentado, ainda faz uma e outra negociação de salas de escritórios à venda. Vive bem, obrigada. É ou não é uma história de sucesso?
Conheço também um rapaz que recebeu do pai três apartamentos, além de uma educação impecável com direito, não só a bons colégios e cursos de idiomas, mas também a entrada como sócio de um excelente clube esportivo da cidade. O garoto promissor se formou, abriu seu próprio negócio com a venda de uma das propriedades, faliu, vendeu outra propriedade para pagar a dívida. Investiu em mais um empreendimento, que também não deu certo. Perdeu assim os três apartamentos que havia herdado e conquistou duas derrotas seguidas. Aos 40 anos de idade, foi trabalhar como funcionário e luta pela sobrevivência. Fazer o que?
Duas histórias, dois exemplos diferentes. Você pode achar que o que deu certo lutou sozinho e o que deu errado era filhinho de papai. Nada disso. Conheço quem não teve nada e continuou sem nada e quem teve tudo e soube dobrar o patrimônio. A diferença está no planejamento. Um trabalho que o Brasil desconhece.
No nosso país as regras mudam, as leis também, sem o menor respeito ao cidadão. Os adultos ainda se lembram bem do Plano Collor. Quer coisa mais assustadora? E as ruas que viram avenidas, passagem para um lado e outro, fazendo com que aquele cantinho sossegado para viver virasse um inferno da noite para o dia? Na construção do Minhocão centenas de pessoas viram seus imóveis perderem valor em mais de 50%, por exemplo. Locais de zona 1, viram comerciais através de um simples projeto de lei e assim por diante. Vivemos num país sem planejamento algum. Cada político faz o seu plano de governo sem se incomodar com continuidade, aliás, nem ele dá continuidade no que planejou. Essa é a nossa história e lição de vida.
Vamos falar de algo mais próximo de todos? Veja só o péssimo exemplo que o Brasil está dando aos brasileiros com o advento da Copa do Mundo 2014. Nada feito, nada pronto, nada planejado. Um verdadeiro fiasco que me deixa cheia de vergonha ao ver a nossa bandeira que dita a regra: Ordem e Progresso!
Pois é, caro leitor, com um país que dá esse exemplo, com certeza você está desculpado, mas continua vislumbrando uma aposentadoria faminta e cheia de necessidades básicas, então… desaprenda a lição do “vamú que vamú” e comece, sim, a se planejar. Nunca é tarde.
Planejamento vai além do aspecto financeiro. Planeje, por exemplo, a sua qualidade de vida. Se está com mais de 40 anos, está na hora de abrir mão do cigarro e beber só socialmente e ainda assim escolhendo bebidas de qualidade. Olhe bem o seu prato de comida e inclua nele a salada e os legumes. Ah! E comece, no mínimo, a caminhar.
Planeje também seu grupo de amigos. Os amigos com os quais você trabalha são os chamados “amigos ativos” que só existem enquanto você está no mercado de trabalho. Não são eles que estarão ao seu lado quando você estiver mais velho. Valorize aqueles que sempre estiveram presentes na sua vida, independente da organização aonde você produz sua carreira.
Com amigos, saúde e o dinheiro para, pelo menos cobrir as despesas básicas, você começa a desenhar uma aposentadoria um pouco mais gratificante. Ordem e Progresso – uma lição para aprender e não apenas decorar.
* Ellen Dastry é jornalista, radialista e pós-graduada em comunicação e marketing
