Ultima atualização 19 de janeiro

Brasil precisa entender melhor os seus riscos

O tempo de dizer que “Deus é brasileiro” ou que o País está distante das catástrofes naturais definitivamente ficou no passado. Se, por um lado, a nação está livre de furacões e terremotos, por outro, registra ano a ano enchentes que destroem regiões e causam a morte de muitas pessoas. A tragédia que afetou a Região Serrana do Rio de Janeiro, considerada a maior do Brasil, já fez 711 vítimas fatais – até o fechamento desta matéria. Paralelo a isso, o País também já enfrentou furacões no Sul, abalos sísmicos no Sudeste. “Há mais de 100 anos, já passávamos por enchentes em Porto Alegre. Nunca foi certo afirmar que o Brasil estava livre das catástrofes naturais. Esta teoria é comprovada com o aumento gradativo nos últimos anos de atendimentos prestados pelo mercado de seguros aos clientes atingidos pelos desastres ocasionados por conta do clima”, raciocina Roberto Zegarra, Líder Regional de BCM da Marsh para a América Latina.
Para o especialista, é necessário conhecer melhor o risco. Embora ele acredite que o mercado de seguros esteja caminhando na direção correta, seguradoras, segurados, Governo e sociedade devem entender os seus riscos. Afinal, com o controle e a minimização dos danos, as reclamações são reduzidas, os estragos contidos e as perdas seguráveis. Quanto mais pessoas e empresas fizerem a sua lição de casa, implementando ferramentas e ações que ajudem a controlar e mitigar os riscos, melhor serão o acesso e o preço pago pela proteção securitária. “É uma prática global e resulta num ganha-ganha para todo mundo”, observa Zegarra.
As seguradoras têm não só de identificar e reconhecer ações de gerenciamento de riscos, mas também cobrar dos segurados uma postura mais preventiva. Especialistas acreditam que a gestão adequada do risco pode minimizar entre 10 e 15% o agravo de um risco.
Apesar de boa parte dos desastres naturais afetar, em sua maioria, as classes de menor renda, que ainda não contam com a proteção do seguro, os recentes eventos comprovaram que toda a sociedade está sendo prejudicada com as mudanças climáticas. “Estudos sobre eventos catastróficos mostram que, no mundo todo, a intensidade das enchentes está aumentando”, alerta Rolf Steiner, diretor da Swiss Re para o Brasil e Cone Sul.
Tanto sinistros em automóveis e residências seguradas até mesmo em clientes empresariais, como indústrias, hotéis e pousadas, crescem em quantidade e intensidade. “O seguro tem um papel relevante que é a reposição imediata do bem dos segurados”, atenta Ricardo Saad, presidente da Bradesco Auto-Re. De acordo com ele, apesar de não ter números exatos da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, a dificuldade de repor um bem estimula o crescimento do mercado, que a cada dia, reforça a sua estrutura para atender o cliente.
Mesma opinião é compartilhada por Laur Diuri, diretor Executivo de Sinistros da Allianz Seguros. Para o especialista, o momento é positivo para ampliar o seguro culturalmente. Isso porque as recentes tragédias estimularão uma maior demanda de pessoas que até então desconheciam possíveis riscos no âmbito patrimonial e pessoal. “Teremos de fazer uma melhor análise das áreas de subscrição. É preciso haver um esforço do Governo e da sociedade civil na mapeação das áreas de riscos, na retirada de pessoas que habitam esses locais e, posteriormente, uma parceria com o mercado de seguros para prevenir eventos desastrosos”, analisa.
Segundo ele, essa parceria já acontece no seguro agrícola e tem de ser expandida para que as seguradoras possam auxiliar com seus estudos e ajudar a reduzir os impactos dos fenômenos climáticos. Uma das alternativas viáveis são as parcerias público-privadas. Além de permitir que os governos alavanquem a disponibilidade de fundos através do uso de seguro e instrumentos do mercado de capitais, elas os ajudam a amenizar e proteger orçamentos com oportunidades de baixo custo e permitem que entidades do setor público gerenciem despesas de desastres com mais eficiência.

Atendimento

Enquanto a Região Sudeste sofre com as chuvas fortes diárias do Verão, as seguradoras reestruturam todo o seu atendimento para dar conta dos chamados e atender o segurado o mais rápido possível. Ainda é cedo para fazer um balanço, mas o número de indenizações tende a ser maior que em 2010. De acordo com Marcelo Goldman, diretor Técnico de Massificados da Tokio Marine, as chamadas para reboque de veículos estão sendo maiores no mês de janeiro – cerca de 10% a mais na comparação com o final do ano passado. Para as aberturas de sinistros de automóveis relativos a enchentes, até o momento existe um equilíbrio em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto no Estado do Rio de Janeiro, onde já foi registrada alta de 50%. “Para os próximos dias, é esperado um aumento ainda maior”, prevê Goldman.
Em épocas de chuvas, o volume de socorros prestados pela Porto Seguro costuma aumentar aproximadamente 30% se comparado aos dias sem chuva. Neste ano, a seguradora aumentou a frota e suspendeu as férias dos funcionários em janeiro por conta do aumento da demanda. A seguradora já teve de resgatar carros de dentro de rios e utilizar até caminhões chamados de Unimog, que operam sobre a lama para levar os automóveis até o guincho.
Na Mapfre, o objetivo é tirar o segurado do local do risco o mais rápido possível. “É difícil saber onde será o sinistro, por isso, realocamos equipes para prestar o primeiro atendimento ao cliente”, esclarece Maurício Galian, diretor Auto Mapfre, do Grupo Segurador BB & Mapfre. De acordo com ele, apesar do seguro garantir cerca de 95% das perdas financeiras, os segurados têm de ter uma maior preocupação com a sua segurança pessoal, evitando locais de alagamento. “O seguro não repara todos os prejuízos, tais como os objetos pessoais, o período que o cliente ficará sem carro e o custo total da compra de um automóvel novo”.
A Allianz deslocou peritos de automóvel e riscos patrimoniais, além de despachantes para as cidades de Teresópolis e Petrópolis na tentativa de simplificar o processo e agilizar ao máximo o pagamento das indenizações. Sua equipe está entrando em contato via telefone com os corretores da região e os seguros Allianz Auto nas cidades afetadas com final de vigência desde 12 de janeiro de 2011 terão sua renovação automática garantida até 27 do mesmo mês nas mesmas condições da apólice anterior.
Outra companhia que está estruturada para o aumento dos chamados na época de chuvas é a SulAmérica. Conforme dados da seguradora, houve um acréscimo de 16% nos acionamentos de reboque entre 10 e 11 de janeiro, comparado com os dias 22 e 23 de novembro de 2010, um total de 620 solicitações. Os serviços mais requisitados durante as enchentes por quantidade de acionamentos são Reboque, Mecânico, Táxi, Borracheiro e Chaveiro.
A Bradesco Auto-Re preparou uma dinâmica para atender a população afetada e socorrer os segurados com a instalação de um posto avançado para coordenar as ações no Rio de Janeiro. Ainda nesta linha, a seguradora realizará em 2011 a terceira edição do Fórum de Riscos, cujo objetivo central é trazer ao debate os principais riscos que afligem a sociedade civil. “Queremos contribuir com a população discutindo riscos climáticos, de urbanização e segurança para que possamos estudar como mitigá-los”, explica Ricardo Saad.
Para Felipe Humberto, funcionário da corretora Lopes & Moretti, este é um momento para os corretores ficarem atentos para as novas apólices. “O aumento da sinistralidade é um motivo para elevar o prêmio do seguro”, destaca. Segundo algumas companhias consultadas, o custo do seguro já leva em conta o aumento de chamados por conta das chuvas. A elevação no preço pode ocorrer, mas deve ser pequena.

Doações
O mercado de seguros também está se mobilizando para arrecadar doações para os desabrigados e desalojados da região serrana do Rio de Janeiro. A Mongeral Aegon disponibilizou um caminhão para captar doações de seus funcionários e corretores para as vítimas das chuvas de Teresópolis. A seguradora recolheu roupas, material de higiene pessoal e alimentos não-perecíveis para os desabrigados da região.
A Brasilveículos montou postos de coletas nos Centros Automotivos BB Seguro Auto, localizados em Brasília e Fortaleza, e nos Centros de Diagnósticos BB Seguro Auto, que ficam em São Paulo, Curitiba e Florianópolis. Até o dia 31 de janeiro, todas as pessoas que fizerem doações ganharão um diagnóstico veicular para seus automóveis de passeio, exceto na cidade de Fortaleza. Além disso, a companhia já doou cobertores, colchonetes e água para toda a região afetada pelas chuvas.

Aline Bronzati
Revista Apólice

Foto: Marino Azevedo

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