O setor de saúde suplementar brasileiro se prepara para um ano desafiador em 2026, mas também com oportunidades de avanços significativos para os 53 milhões de beneficiários. Para a FenaSaúde, a recuperação recente das operadoras, após anos de resultados negativos no período pós-pandemia, precisa ser analisada com cautela, considerando a preponderância dos resultados financeiros no desempenho total e as desigualdades estruturais que ainda afetam, principalmente, pequenas operadoras em cidades menores do Norte e Nordeste.
Entre 2021 e 2023, as despesas do setor superaram as receitas em mais de R$ 17 bilhões, deixando cicatrizes profundas. Apesar dos sinais de retomada, o lucro líquido das operadoras médico-hospitalares registrou variação negativa de 14,1% em relação ao trimestre anterior, passando de R$ 5,5 bilhões para R$ 4,8 bilhões.
Merece atenção o fato de que o lucro líquido do terceiro trimestre de 2025 teve contribuição do resultado operacional, que somou R$ 2,0 bilhões, mas principalmente do resultado financeiro, que alcançou R$ 4,2 bilhões. Esse desempenho está fortemente relacionado ao cenário macroeconômico, no qual a taxa básica de juros da economia, a Selic, se mantém em patamares elevados.
O setor também apresenta elevada heterogeneidade: uma em cada quatro operadoras registra resultado líquido negativo. A margem de lucro apresentou redução, passando de 6,7% para 5,6%. Já o índice combinado — que representa a relação entre despesas operacionais (administrativas, de comercialização e assistenciais) e as receitas provenientes das contraprestações efetivas — aumentou 1,1 ponto percentual, de 94,2% para 95,3%.
Além disso, o número de operadoras de planos de saúde com resultado operacional negativo cresceu ao longo de 2025. No primeiro trimestre do ano, eram pouco menos de um terço do total (202 operadoras, ou 31,7%). Atualmente, esse percentual se aproxima da metade do setor, com 315 operadoras (49,2%). Ao todo, 8,65 milhões de beneficiários estão vinculados a operadoras com resultado operacional negativo.
Perspectivas e desafios para 2026
“Para 2026, projetamos um setor de saúde suplementar com foco em sustentabilidade, inovação e ampliação do acesso à população. É fundamental avançar em modelos de financiamento equilibrados, adotar novas tecnologias como inteligência artificial, fortalecer a coordenação do cuidado e a atenção primária e implementar soluções como franquias para tornar os planos mais acessíveis. Precisamos também combater fraudes e reduzir a judicialização excessiva, garantindo que a expansão ocorra de forma responsável e com qualidade”, afirma Raquel Reis, CEO da SulAmérica e presidente da FenaSaúde.
“A saúde suplementar é um ambiente complexo, e sua boa condição econômico-financeira é essencial para o equilíbrio do sistema de saúde brasileiro como um todo. Quando o setor funciona bem, o SUS também se beneficia”, destaca Bruno Sobral, diretor-executivo da FenaSaúde. “O desafio de 2026 será ampliar o acesso de forma responsável, garantindo que a incorporação de novas tecnologias não comprometa a sustentabilidade do setor, especialmente para os beneficiários de pequenas cidades e regiões mais vulneráveis.”
Segundo a entidade, a expansão da oferta de planos de saúde em 2026 dependerá da manutenção de preços acessíveis, especialmente para pequenas empresas, segmento considerado um termômetro do crescimento do setor. No entanto, o cenário permanece complexo: a regra de reajuste dos planos individuais limita a oferta desse produto, concentrando o mercado nos planos coletivos, que hoje representam mais de 83% das contratações.
O crescimento da saúde suplementar seguirá atrelado ao desempenho da economia brasileira, ainda de acordo com a FenaSaúde. Entre janeiro e setembro de 2025, foram criados 1,7 milhão de empregos formais, elevando para 48,9 milhões o número de vínculos ativos, o que tende a impulsionar a contratação de planos de saúde no próximo ano.
O envelhecimento da população e a incorporação de tecnologias de alto custo continuam pressionando os sistemas de saúde no Brasil e no mundo, tornando a racionalização das despesas assistenciais uma prioridade para 2026. Além disso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deixou para o próximo ano discussões regulatórias estruturantes, como o reajuste de planos coletivos, a coparticipação, a oferta de planos segmentados e a revisão do marco regulatório da Lei nº 9.656/1998.
Apesar das incertezas, o setor apresenta potencial para avanços relevantes, desde que as decisões sejam tomadas de forma ampla, transparente e baseada em evidências, equilibrando a ampliação do acesso com a sustentabilidade do sistema.




