EXCLUSIVO – Em um momento decisivo para as estratégias climáticas globais, o Brasil se posiciona como peça-chave no mercado de carbono, combinando potencial ambiental e oportunidades econômicas. Durante debate sobre Mercado de Carbono, Seguros e Desafios Climáticos no Brasil, especialistas da academia, do governo e do setor privado destacaram como o seguro pode viabilizar e acelerar este novo cenário, oferecendo proteção contra riscos climáticos e aumentando a credibilidade das iniciativas, na Casa do Seguro, espaço organizado pela CNseg na COP30.
Daniel Vargas, professor da FGV e coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade, ressaltou que a regulação adequada é essencial para dar segurança jurídica ao mercado. Segundo ele, um mercado mal implantado pode atrasar a consolidação do setor, como ocorreu na Califórnia. “Para muitos países, a regulação do mercado de carbono é mais um problema do que um milagre. Mas o Brasil tem um capital natural que pode ser convertido em valor, se tivermos governança e cooperação entre setores público e privado”.
Na visão de André Andrade, diretor de Programa da Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente, a ausência de seguros robustos limita o alcance de projetos de carbono. Ele lembrou que, no caso das enchentes no Rio Grande do Sul, de R$ 95 bilhões em perdas estimadas, apenas cerca de 10% estavam segurados, o que mostra a necessidade de expansão da cultura de proteção e desenvolvimento de produtos voltados aos eventos climáticos extremos.
Luísa Heráclito Panico, coordenadora-geral de Governança da recém criada Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono do Ministério da Fazenda, vê no seguro uma ferramenta fundamental para dar suporte ao cumprimento das metas, principalmente diante de riscos como a reversão do carbono sequestrado por incêndios ou desmatamento. “Existe um nicho que o setor de seguros pode explorar, tanto para mitigar riscos de reversão quanto de compliance regulatório. Mas tudo isso ainda precisa ser regulamentado com participação da sociedade”, afirmou .
Empresas como a Reservas Votorantim e a re.green já sentem na prática os impactos da ausência de seguros específicos. Davi Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim, relatou que incêndios no Cerrado afetaram diretamente a capacidade de geração de créditos em seus territórios. “A safra de crédito de carbono precisa de seguro como qualquer safra agrícola. Sem isso, dependemos de buffers que podem ser insuficientes quando o evento se repete”, alertou .
Mariana Barbosa, diretora de Relações Institucionais da re.green, vencedora do Earthshot Prize 2025, reforçou que os projetos de restauração florestal carregam riscos técnicos significativos, como incertezas sobre o crescimento de espécies nativas e dependência climática, o que torna os produtos de seguros essenciais para a previsibilidade financeira dos investidores. “O setor precisa de instrumentos que quantifiquem o risco e se integrem com os mecanismos de financiamento. Sem isso, os projetos perdem escala, e o risco é de todos nós, da sociedade”.
O Brasil tem vantagens competitivas naturais e tecnológicas para liderar um mercado global de carbono. Entretanto, sem a integração do setor de seguros, com produtos adequados, comunicação efetiva e garantias regulatórias, o país corre o risco de perder uma oportunidade histórica de transformar seu capital ambiental em desenvolvimento sustentável e em proteção dos seus cidadãos frente às mudanças climáticas.
Kelly Lubiato, de Belém/PA




