Ultima atualização 12 de setembro

Como a atuária vê o futuro da previdência privada

Diretor de seguros do IBA analisa os fatores por trás da pior captação liquida da história da previdência privada

EXCLUSIVO – A previdência privada aberta registrou em junho de 2025 a pior captação líquida da série histórica, com saques superando os aportes em R$ 3,1 bilhões, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). O resultado representa uma queda de 170,8% em relação a junho de 2024, quando a captação líquida somou R$ 4,4 bilhões, e evidencia desafios que vão além dos números divulgados nos balanços.

Em junho, os prêmios e contribuições totalizaram R$ 8,2 bilhões, queda de 44,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os resgates cresceram 7,6%, chegando a R$ 11,4 bilhões. No primeiro semestre, a captação líquida acumulada foi de R$ 6,4 bilhões, 78,8% abaixo do observado em igual período de 2024. O setor administra atualmente R$ 1,7 trilhão em ativos, distribuídos entre 13,6 milhões de planos de previdência aberta, sendo 62% do tipo VGBL, 23% PGBL e 15% tradicionais.

Dinarte Bonetti, diretor de seguros do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), observa que, além do impacto do IOF, outros fatores estruturais e econômicos pressionam o resultado da previdência. “Os planos atuais, da forma que estão desenhados, não encorajam necessariamente uma visão previdenciária. Baixas taxas de juros no período de concessão, tábuas de mortalidade agressivas, carregamentos elevados e complexidade regulatória desestimulam o investidor. Com os papéis do governo pagando cerca de 15% ao ano sem os riscos de um plano, muitos optam por essas alternativas”, afirma.

O especialista também destaca a influência da cultura previdenciária ainda limitada no Brasil. “A previdência privada vai se tornando cada vez mais a segunda ou terceira opção de investimento. Para muitos jovens, investir em um plano de previdência está longe de ser prioridade; prioridades são educação, veículo ou despesas domésticas”, explica.

Em sua análise, Dinarte aponta que alguns segmentos mostram maior resiliência diante do cenário de queda. Planos empresariais, que possuem regras de resgate mais rígidas e contribuições vinculadas às empresas, apresentam menor volatilidade. Planos conservadores, que se aproximam dos rendimentos da renda fixa, também resistem melhor. “Esses casos escancaram a necessidade de educação financeira e previdenciária mais ampla no país”, complementa.

Outro fator analisado por Bonetti, é sobre o aumento dos resgates e a redução nos aportes que refletem ainda em fatores macroeconômicos. A inflação e o alto custo de vida obrigam famílias a recorrer às reservas acumuladas nos planos de previdência para fechar o orçamento mensal. Além disso, a flexibilidade de resgate transformou parte da previdência em um investimento de curto prazo, em vez de instrumento de renda futura. “O mercado de seguros tem repassado cada vez mais riscos ao pequeno investidor, com tábuas de mortalidade agressivas e garantias de taxa zero, dificultando a conversão em renda”, alerta.

É interessante também analisar que o perfil do investidor também é um fator importante. As novas gerações buscam produtos mais flexíveis, digitais e personalizados, com menos burocracia e regras complexas. Produtos híbridos, como o Universal Life, prometem atender a essas demandas, oferecendo versatilidade sem abrir mão da proteção previdenciária. Aspectos como ESG e previdência digital passam a influenciar a escolha dos investidores, refletindo a necessidade de clareza, transparência e facilidade de uso.

Bonetti reforça que a ciência atuarial é essencial para equilibrar risco, solvência e atratividade do mercado. “O atuário garante que o produto seja sustentável tanto para o investidor quanto para a seguradora. Plataformas digitais que comparam produtos só funcionam com desenho técnico adequado. A negligência da atuação do atuário compromete todo o desenvolvimento do setor”, afirma.

Para o futuro, Bonetti aponta caminhos claros como maior divulgação e clareza dos produtos, governança robusta, regulação estável e educação previdenciária ampliada são fundamentais para recuperar a confiança do investidor. Com a Previdência Social reduzindo a cobertura universal, a previdência complementar se torna cada vez mais essencial para garantir renda no longo prazo.

Nicholas Godoy, de São Paulo

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