O mercado segurador mundial acompanha com atenção os incêndios que atingem o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que já provocaram milhões de dólares em perdas, com pessoas sendo retiradas de suas casas. Até agora já foram 24 mortos e mais de 7 mil imóveis atingidos em uma área de 160 quilômetros quadrados.
O ano de 2025 começou com a temporada de incêndios florestais no Estado da Califórnia, nos Estado Unidos, sendo a mais devastadora dos últimos tempos e que vem sendo classificada por especialistas como um desafio para o mercado segurador americano já que, além das vidas perdidas, os prejuízos com a destruição de casas e perdas de bens aumentam a cada dia.
Marlon Basso, Superintendente de Sinistros da REP Seguros, corretora focada em seguros corporativos, destaca que as queimadas em larga escala geram um impacto direto no custo das indenizações, aumentando a pressão sobre as seguradoras. “O aumento na frequência e severidade dos incêndios, impulsionado pelas mudanças climáticas, torna essencial a revisão constante das estratégias de subscrição, reservas de capital e modelagem de risco pelas seguradoras”, afirma.
Análise da corretora Aon aponta que a exposição significativa a bens de alto valor na região, como objetos preciosos e obras de arte, além dos danos causados pela fumaça, que deve persistir sobre a bacia de Los Angeles nas próximas semanas podem impactar negativamente o setor de seguros incluem.
Impactos diretos no mercado de seguros
As queimadas afetam duas grandes áreas do mercado de seguros: coberturas de propriedades e responsabilidades civis. No primeiro caso, os incêndios provocam perdas financeiras expressivas. Segundo Basso, “os sinistros de grande magnitude em áreas residenciais e comerciais resultam em altos custos de indenizações, o que pode levar as seguradoras a reajustarem prêmios ou a restringirem a oferta de apólices em regiões de maior risco”.

Até sexta, dia 10, o banco JP Morgan estimou que o custo para as seguradoras poderiam chegar a US$ 20 bilhões. Em anos anteriores, muitas apólices de seguro residencial foram canceladas diante do risco que a região apresenta para incêndios.
Além disso, incêndios causados por negligência ou má gestão frequentemente geram ações judiciais contra indivíduos ou empresas responsáveis, aumentando a demanda por apólices de responsabilidade civil. “Essas apólices têm se tornado mais caras e, em muitos casos, mais restritas, à medida que as seguradoras tentam se proteger de perdas significativas”, complementa Basso.
O aumento na frequência dos incêndios também intensifica a pressão regulatória sobre o setor, que precisa se adaptar a políticas públicas para garantir tanto a resiliência financeira quanto a acessibilidade às coberturas.
O papel estratégico do setor de seguros na mitigação de riscos
Diante desse cenário desafiador, o setor de seguros pode desempenhar um papel crucial para ajudar empresas e indivíduos a se prepararem para desastres como as queimadas. Essa atuação envolve prevenção, contenção e conscientização.
Para Basso, as seguradoras têm um papel fundamental na análise de riscos e na promoção de medidas preventivas. “É possível oferecer descontos em apólices para propriedades que adotem práticas resilientes, como o uso de materiais resistentes ao fogo ou a criação de zonas de amortecimento ao redor das construções”, explica.
Além de proteger propriedades, o setor de seguros pode incentivar práticas sustentáveis que reduzam os riscos de queimadas, como reflorestamento e manejo adequado do solo.
Segundo Basso, a exigência de seguros ambientais pode estimular empresas a compensarem danos causados por suas atividades, investindo em práticas que protejam os ecossistemas.
O desenvolvimento de seguros customizados é outra estratégia importante. Seguros paramétricos que ganham importância diante do aumento dos riscos climáticos, por exemplo, podem garantir pagamentos mais rápidos, baseados em índices predefinidos, como a extensão de uma área queimada ou a intensidade de um incêndio.
Basso destaca ainda a importância das parcerias entre seguradoras, governos e outras organizações. “Essas colaborações podem promover políticas públicas que incentivem construções em áreas seguras e tecnologias para prevenção de incêndios”, explica.
Uma resposta necessária a um problema crescente
O aumento das queimadas exige que o mercado de seguros se adapte constantemente. Para Marlon Basso, “o setor precisa equilibrar resiliência financeira com a oferta de soluções acessíveis e eficazes para lidar com os riscos associados a esses desastres”.
Ao atuar não apenas na indenização de perdas, mas também na prevenção e na educação, o mercado segurador reforça sua importância em um cenário global de mudanças climáticas e desastres naturais. “As seguradoras não podem se limitar ao papel de reparadoras de danos; elas precisam ser agentes transformadores na gestão de riscos, ajudando a construir um futuro mais seguro e sustentável”, conclui Basso.