EXCLUSIVO – Advogada e filosofa apaixonada pelo mar, a presidente da Sou Segura, Liliana Caldeira, acredita que lidar com o preconceito de gênero é ter que, constantemente, provar o seu profissionalismo e o seu valor. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, 8 de março, a Revista Apólice conversou com Liliana sobre a importância do mercado de seguros adotar iniciativas que promovam a equidade de gênero e a inclusão das mulheres no setor, falando também sobre o papel da entidade para que cada vez mais mulheres ocupem posições de lideranças dentro do segmento.
Veja abaixo a entrevista completa
Fale sobre sua experiência profissional e formação acadêmica.
Minha formação acadêmica conta com duas graduações: Direito pela UFRJ e Filosofia pela UERJ. Tenho uma pós em Direito Econômico pela FGV/RJ e um mestrado em Direito Empresarial pela UFRJ.
Comecei minha carreira como advogada júnior corporativa. Nos anos 90, passei a dar aulas na ENS, onde sigo até hoje, nos cursos de Habilitação de Corretores de Seguros, Tecnólogo em Gestão de Seguros e várias pós-graduações em seguros, tudo com enfoque jurídico.
Fui head do setor jurídico das seguradoras Nationwide, Mongeral Aegon e Generali. Atualmente, estou na ENS como coordenadora e docente, sou membro ativo da AIDA, acadêmica da ANSP e presidente da Sou Segura.
Como entrou no mercado de seguros e como se sente em trabalhar nesse setor?
Entrei no mercado de seguros pela porta da academia, ou seja, lecionando para a ENS em 1990. Sinto-me sempre inspirada e renovada.
O setor é resiliente como segmento econômico e se reinventa e inova a cada ciclo, instigando seus participantes a uma renovação e estudo constantes.
Quais são seus principais hobbies? O que mais gosta de fazer fora do trabalho?
Sou apaixonada pelo mar e meus principais hobbies atualmente são esportes aquáticos: natação em águas abertas e canoa havaiana no mar.
Estou na parai do posto seis em Copacabana pelo menos quatro vezes por semana, onde nado no mínimo dois km ao dia, e remo pelo menos uma hora duas vezes por semana.Além disso, participo de travessias aquáticas de contemplação e competições de canoa havaiana para a minha categoria, que é a 50 +.
Acredita que por ser mulher já foi vítima de algum preconceito dentro do ambiente de trabalho? Como lidou com a situação?
Sim, com certeza.
Em um processo seletivo, na última fase, escutei do entrevistador que a diretoria “não possuía tempo para esperar que eu, como mulher, vencesse as sabotagens que meus eventuais subordinados homens fariam comigo” e que, por conta disto, ficariam com um candidato homem.
Também já ouvi de um superior que as mulheres têm um grave problema: “elas ficam grávidas…”. Quero crer que hoje em dia estas frases não mais seriam ditas em voz alta, mas as emoções e pensamentos que as geraram persistem.
Lidar com o preconceito de gênero é ter que, constantemente, provar o seu profissionalismo e o seu valor. Infelizmente, as mulheres têm que “fazer prova” disto de forma muito mais enfática que os homens.
Como você equilibra a maternidade com a sua carreira?
Sou mãe do Matheus de 29 anos e do Paulo Henrique de 15 anos.
O equilíbrio entre a maternidade e o trabalho é sempre um desafio, e eu não fui exceção no sentimento de culpa que as mulheres têm por sua “ausência” como mãe em termos quantitativos de tempo.
Meus dois filhos foram para creche integral com 4 meses de idade e eu me dedicava a eles com o tempo de qualidade que eu possuía, quando estava fora do trabalho. É desafiador. Não tem receita de bolo. Criar filhos e trabalhar é tarefa de criatividade, dedicação, muito afeto e resiliência.
Segundo o 4º Estudo Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil, realizado pela ENS, a proporção de mulheres nas seguradoras é de 54,4% em todos os níveis. Para os níveis hierárquicos mais altos, este número avançou para 2 homens para cada mulher. Em termos salariais, as mulheres ainda recebem cerca de 70% do salário masculino. O que o mercado de seguros pode fazer para melhorar essa realidade?
Acredito que o mercado de seguros pode mudar essa realidade e fazer ações afirmativas. Por exemplo, implementar política de quotas para mulheres em posições de liderança, ter metas objetivas de inclusão de minorias, acompanhar salários e corrigir disparidades.
Se existe uma distorção ou um gap, isso tem que ser enfrentado de forma expressa, objetiva e contundente. Esta é a única maneira de sair da teoria para se adentrar na prática.
A Sou Segura é uma das instituições que nasceu com o objetivo de lutar pelo espaço das mulheres no setor. Qual a importância da atuação da entidade para a promoção da diversidade e da equidade de gênero?
A importância da atuação da Sou Segura, do ponto de vista corporativo, está na conscientização e engajamento que gerou no nosso mercado em torno da equidade de gênero e promoção da diversidade.
Do ponto de vista das pessoas, está na realização de iniciativas que permitem às mulheres ter mais visibilidade e se desenvolver, seja por meio de eventos, treinamentos, palestras, programa de mentoria, espaço para escrita e fala de mulheres.
Dessa forma, colocamos em evidência não apenas a necessidade, mas também as vantagens da inclusão e da diversidade e apoiamos mulheres a escalarem em suas vidas profissionais e a buscarem sua saúde física, mental e emocional com espaço de escuta e acolhimento.
Quais dicas você daria para as mulheres que desejam trabalhar com seguros? Seja como corretora ou securitária
A maior dica é: tenha foco em educação e treinamento contínuos.
Vivemos em um mundo em constante mudança e as mulheres precisam estar preparadas para as mudanças que nosso mercado passa, para aprender e poder propor soluções aos novos riscos que surgem.
Manter o espírito inquieto e curioso de uma criança é a chave. Aprender sempre, em qualquer estágio de sua vida profissional é o lema. Além disso, se associar à Sou Segura. Essa é a maior rede de networking e desenvolvimento de mulheres do mercado de seguros. Deixo aqui o meu convite. Aguardamos todas vocês.
Nicole Fraga
Revista Apólice