Ultima atualização 30 de janeiro

Seguradoras se preparam para atender sinistros resultantes das chuvas de verão

Mais da metade dos sinistros envolvendo alagamentos é registrada nas estações mais quentes do ano

enchente2No Brasil, infelizmente verão é sinônimo de enchentes e alagamentos, que costumam causar prejuízos materiais a milhares de famílias. Apenas para se ter uma ideia, cada ponto de alagamento formado na cidade de São Paulo após uma chuva forte provoca um prejuízo diário de mais de R$ 1 milhão ao país. O cálculo é de Eduardo Amaral Haddad, professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e Eliane Teixeira dos Santos, mestranda em Teoria Econômica, em estudo realizado recentemente.

A análise ainda considerou que com 749 pontos de alagamento identificados na cidade, as perdas anuais no âmbito do município chegam a quase R$ 336 milhões. E, se levar em conta os efeitos pelas longas cadeias de produção e renda, o prejuízo subiria para R$ 762 milhões em escala nacional.

É também nos meses mais quentes do ano (geralmente no período de outubro a março) que se concentram os sinistros envolvendo ocorrências relacionadas às fortes chuvas. As seguradoras confirmam este fato. A Tokio Marine, por exemplo, divulgou este mês que a empresa devolveu aos segurados em forma de indenização algo em torno de R$ 1,7 milhão, num total de 516 ocorrências resultantes dos problemas ocasionados pelas chuvas de verão. Esse número de ocorrências é referente aos meses de outubro, novembro e dezembro e envolve seguros empresarial, condomínio, residencial e automóvel.

“Neste período, a população enfrenta diversos problemas e é agora que as grandes chuvas são esperadas, acarretando em enchentes nas regiões próximas aos grandes rios que cortam as cidades, como é o caso principalmente das cidades da região Sul. Nas cidades do interior de São Paulo, temos ocorrência de ventos fortes e chuva de granizo que também acompanham a estação das chuvas”, afirma o diretor de Sinistros da companhia, Alexandre Vieira.

Os clientes atingidos com essas ocorrências acionam a companhia com frequência. Por isso, a seguradora oferece o pagamento de indenizações e assistência 24 Horas. “Em situações como essas, em momentos de perdas, limpeza e reconstrução, é que mostramos a importância e o papel social do seguro”, explica.
De acordo com o executivo, a equipe de sinistros vem monitorando os eventos mais críticos e agindo proativamente se colocando à disposição da área comercial e dos corretores, que muitas vezes ajudam a identificar as áreas mais atingidas – o que permite ações direcionadas, agilizando e muito o reparo dos danos.

Vieira explica que este ano a seguradora mudou o procedimento para atender os sinistros. A equipe passou a acompanhar as notícias pela internet e pelos meios de comunicação e, ao perceber a possibilidade de concentração de chuvas em determinados locais, já entra em contato com as filiais da região afetada e estas, por sua vez, avisavam os corretores. “Quando ocorrer o evento, todos estão previamente preparados e cientes do fluxo de avisos de sinistros que receberão”, sinaliza.

Com isso, alega o executivo, o processo que demoraria por volta de 15 dias – desde o aviso do sinistro até a indenização – passa a ocorrer em 4 dias.

Segundo Vieira, houve aumento mais de 30% nas ocorrências nestes quatro ramos (residencial, empresarial, condomínio e automóvel) em relação ao mesmo período do ano anterior. A justificativa para este aumento inclui o fato de a seguradora ter conquistado mais clientes, refletindo no número de ocorrências, e também as chuvas terem “começado mais cedo”. “Pode ser que no final do verão não ocorram tantas chuvas e com tanta intensidade, compensando estes meses que já passaram”, analisa.

Na SulAmérica, o cenário é similar. No ramo de automóvel, por exemplo, houve aumento significativo nesse período. Do total de ocorrências em 2013 referentes a alagamento, cerca de 40% aconteceram de outubro a dezembro, informa Eduardo Dal Ri, diretor de Auto da companhia.

O executivo conta que, como esses meses de verão são mais propensos a esse tipo de ocorrência, algumas medidas foram tomadas. “Um exemplo é o direcionamento de reboques para lugares estratégicos a fim de facilitar o deslocamento para as áreas onde sabemos que podem ser impactadas pelas chuvas. Além disso, temos os 37 Centros Automotivos SulAmérica (C.A.S.A) para onde procuramos direcionar os veículos. Lá, encaminhamos para a vistoria dos danos, depois para a oficina e autorização dos reparos”, detalha Dal Ri.

Na SulAmérica, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo são, comumente, as que apresentam a maior quantidade de sinistros de alagamento. No ramo de automóvel, os dois estados representaram 65% do total de ocorrências em 2013.

O papel do corretor, nesses casos, é orientar o segurado sobre o que ele precisa fazer caso ocorra um sinistro de alagamento. “A primeira providência é ligar para a seguradora para chamar o reboque e avisar o sinistro”, aponta Dal Ri. Se o veículo for considerado indenização integral, o corretor pode auxiliar o segurado na coleta da documentação necessária, mas a seguradora sempre fará contato para auxiliá-lo também, continua o diretor de automóvel da SulAmérica.

Apesar de registrar muitos prejuízos causados por alagamentos, deslizamentos de terra e outros resultados das fortes chuvas de verão, o Brasil não faz parte do time dos países com as piores enchentes no globo terrestre. Pelo menos de acordo com o relatório relatório Global Catastrophe, formatado pela corretora Aon, que listou entre as piores enchentes de 2013 países da Europa central, Alemanha, Indonésia, Filipinas, China e Austrália. Ainda segundo o levantamento, no ano passado o número de sinistros e perdas ligadas a desastres naturais somou 192 bilhões de dólares no mercado global. Desta cifra, 35% correspondem a enchentes em todo o mundo. “Apesar de ser um valor alto, já houve anos piores. A média dos últimos 10 anos é de 200 bilhões de dólares”, observa Jorge Stelmach é Gerente de desenvolvimento de negócios da Aon Affinity.

Analisando os dados da corretora, 2010 foi um ano “pior” nesse sentido para o seguro automóvel, ramo com a maior carteira do mercado. 2011 foi 14% pior que 2010, em termos de eventos ligados a enchentes e alagamentos em sinistros de veículos. Em 2012, os sinistros foram quase metade do que em 2010 – chegou apenas a 57% do número registrado. Já 2013 foi o ano que chegou mais perto de 2010: alcançou 90% do que ocorreu em 2010.

O “seguro básico” de veículos costuma cobrir perdas parciais e totais por enchente e alagamento em água doce. “O que acontece hoje são que as perdas totais são muito pequenas, cerca de 2% a 3%. Os outros 97% são perdas parciais e, nesses casos, há todo um processo que as companhias colocam em prática para recuperar o automóvel”, explica Stelmach.

A expectativa agora é com o mês de janeiro. Conforme os dados da corretora, em 2013, 63% dos sinistros em seguro automóvel relativos a enchentes e alagamentos ocorreram nos meses de janeiro, fevereiro e março. Em 2011, 47% dos sinistros nesse ramo pelo mesmo motivo ocorreram apenas no primeiro mês do ano.

Apesar de não ter nenhuma estatística que comprove que o aumento de ocorrências e sinistros devido às fortes chuvas no período do verão, a Fenseg destaca alguns pontos relevantes sobre o tema:

– O contrato compreensivo básico do seguro de automóvel prevê a cobertura de alagamento, assim como a de incêndio, colisão e roubo e furto. Neste caso, todos os danos causados pelas chuvas, salvo quando são de responsabilidade do motorista, deverão ser indenizados pela seguradora;

– O segurado não terá direito a acionar o seguro em casos de danos provocados por enchentes somente quando tiver contratado apenas o seguro de Responsabilidade Civil Facultativa ou a cobertura de roubo e furto;

– Se for detectada a impossibilidade de reparo do carro, a seguradora indenizará o cliente conforme o contrato estabelecido entre ambas as partes. Quando há possibilidade de reparo, a seguradora realiza lavagem e higienização completa do motor, além da recuperação dos revestimentos e reparos necessários para o funcionamento do veículo;

– Se a seguradora comprovar que os danos causados pela enchente são irreparáveis, o segurado receberá indenização conforme disposição no contrato firmado com a empresa. Apenas uma inspeção será capaz de confirmar a intensidade dos danos causados pela chuva aos veículos;

– No caso de veículos segurados, uma vistoria realizada pela seguradora irá detectar se há possibilidade de reparo e qual é o custo. Se este for maior do que 75%, o veículo será indenizado integralmente.

Já o seguro residencial não oferece cobertura para enchente e alagamento, como ocorre em outros países, como os Estados Unidos, onde a apólice básica já contém essa cobertura. A justificativa das seguradoras para não comercializar a cobertura varia. “Algumas dizem que quem contrataria a cobertura seria apenas quem precisa, ou seja, já teve um caso de alagamento e enchente na região. Com o risco certo, não existe o princípio básico do seguro, que é o mutualismo. Uma solução seria incluir em todas as apólices, mas a questão passa a ser que poderia encarecer o seguro e diminuir a penetração do seguro residencial, que já não é alta. É algo a ser discutido”, opina Stelmach.

Para empresas, a cobertura existe, mas é estudada caso a caso. Não consta no pacote básico para quem contrata o seguro de propriedade, mas as empresas – grandes e médias, geralmente – estão dispostas a bancar o custo. “Ainda assim a cobertura geralmente é para danos causados à propriedade e não costuma cobrir danos causados a estoques, por exemplo”, indica Stelmach.

Jamille Niero / Revista Apólice

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Ads Blocker Detected!!!

We have detected that you are using extensions to block ads. Please support us by disabling these ads blocker.

Powered By
100% Free SEO Tools - Tool Kits PRO