EXCLUSIVO – A inclusão do envelhecimento como tema da redação do Enem 2025 levou para a sala de aula um assunto que, até pouco tempo atrás, circulava apenas em espaços especializados, universidades, instituições de pesquisa, entidades do setor e empresas que trabalham com planejamento financeiro e previdência. Ao colocar milhões de jovens diante de uma reflexão sobre longevidade, o exame projeta o tema para o centro do debate nacional e pressiona diferentes setores, inclusive o de seguros, a acompanhar essa transformação.
O tema proposto pelo Inep aparece em um momento em que o Brasil avança rapidamente para uma configuração etária inédita: mais idosos, menos nascimentos e mudanças no perfil de consumo e de uso dos serviços públicos. Para empresas que lidam diretamente com risco e proteção, como seguradoras e entidades de previdência, a discussão envolve desde comportamento social até desenho de produtos futuros.
Alexandre Nogueira, diretor de Marketing do Grupo Bradesco Seguros, avalia que o tema do Enem acompanha um movimento que já está presente na sociedade. “A longevidade deixou de ser um debate restrito. É um assunto que atravessa gerações e que faz sentido aparecer para o jovem, que está em fase de formação e escolhas de vida”, afirma.
A presença do tema no Enem tem efeito direto sobre a percepção do público mais jovem. Embora a discussão sobre envelhecimento costume ganhar força a partir dos 30 ou 40 anos, especialistas apontam que a compreensão precoce sobre mudanças demográficas pode influenciar decisões individuais e coletivas, da entrada no mercado de trabalho ao planejamento financeiro de longo prazo.
Para o Grupo Bradesco Seguros, essa aproximação abre espaço para uma agenda mais ampla de educação para o futuro. “Quanto mais a sociedade discutir o tema da longevidade, mais fácil será compreender o valor das diferenças entre gerações, que podem contribuir para equilibrar relações familiares, profissionais e sociais”, observa Nogueira.
O executivo destaca ainda que o debate mobiliza nos jovens temas tradicionalmente associados a públicos mais maduros, como proteção, planejamento e seguros. “O respeito e o aprendizado mútuos são essenciais para uma convivência mais saudável e colaborativa”, completa.
Mudança cultural e espaço para novas conversas
A discussão pública sobre envelhecimento tem se ampliado nos últimos anos, impulsionada pela mudança demográfica e por novos modelos de convivência intergeracional. Conteúdos e programas voltados ao tema registram altos índices de engajamento, um sinal de que a pauta está ganhando espaço nas conversas do dia a dia. “O interesse pelo tema vem crescendo e mostra que o assunto está cada vez mais presente nas conversas familiares, tornando-se parte da rotina das pessoas”, afirma Nogueira. Para ele, o debate estimulado pelo Enem contribui para fortalecer uma percepção mais informada sobre o futuro e sobre o papel do planejamento ao longo da vida.
A mudança cultural é considerada necessária por pesquisadores e entidades do setor. O envelhecimento acelerado do país pressiona políticas públicas, sistemas de saúde, relações de trabalho e modelos de proteção social. A discussão entre jovens funciona como ponto de partida para ajustes estruturais de longo prazo.
A transformação demográfica já impacta diretamente o mercado segurador. Com mais idosos economicamente ativos e uma população que vive mais tempo, empresas têm redesenhado ofertas, jornadas de atendimento, benefícios e serviços complementares. Há também alterações no comportamento de consumo e na busca por soluções personalizadas.
“O envelhecimento da população brasileira já causa impacto em produtos, serviços e padrões de consumo”, afirma Nogueira. Segundo ele, atender diferentes gerações simultaneamente exige revisões constantes. “É essencial estar preparado para oferecer soluções adequadas a cada fase da vida. Esse processo reforça o papel das empresas e da sociedade na construção de um futuro mais equilibrado, consciente e seguro.”
A escolha do tema pelo Enem também abre uma janela para empresas e instituições planejarem ações educativas e de comunicação voltadas a públicos diversos. O diálogo entre gerações aparece como elemento central em políticas internas, programas corporativos, campanhas e iniciativas de responsabilidade social.
Para o Grupo Bradesco Seguros, o destaque do tema no exame nacional fortalece essa agenda. “Ver a longevidade ganhar evidência no Enem é algo muito positivo, pois reforça sua importância e atualidade”, diz Nogueira. A companhia afirma que continuará promovendo fóruns, eventos e conteúdos sobre o assunto, com foco em ampliar a discussão e incentivar práticas de planejamento e bem-estar ao longo da vida.
Embora apareça como tema de redação, o envelhecimento representa questões estruturais que o país precisará enfrentar nas próximas décadas: readequação de políticas públicas, sustentabilidade dos sistemas previdenciários, adaptação das cidades, revisão de modelos de cuidado e reorganização das relações de trabalho.
Nicholas Godoy, de São Paulo.




