Ultima atualização 29 de outubro

powered By

Público 60+ muda o mapa urbano e o comportamento de consumo

Pesquisa do IBGE mostra que idosos concentram-se em áreas com melhor infraestrutura e alto valor imobiliário. Números apontam oportunidades para o setor financeiro e de seguros

EXCLUSIVO – O envelhecimento da população brasileira está redesenhando a geografia das cidades e o comportamento de consumo. Dados do IBGE mostram que 93,3% dos brasileiros com 70 anos ou mais vivem em vias largas e bem estruturadas, enquanto 36,7% em regiões com alta arborização. Índices que revelam a concentração do público idoso em áreas valorizadas, mostrando mudança de perfil territorial e econômico já movimenta o setor financeiro e de seguros, que vê na longevidade um dos principais vetores de crescimento da próxima década.

Esses números indicam um envelhecimento que combina longevidade, renda e autonomia, abrindo novas oportunidades para setores como o financeiro e o de seguros. Para Marcos Ferreira, especialista em economia da longevidade e cofundador da Silver Hub, esse grupo está redesenhando a lógica de consumo no país. “Esses setores são os grandes protagonistas da longevidade. Previdência, vida, saúde e patrimônio são pilares da boa velhice e estão todos sob esse guarda-chuva”, afirma.

O estudo mostra que as regiões mais valorizadas do país concentram a maior proporção de idosos, reflexo do ciclo de vida e do acúmulo patrimonial. “Com o tempo, a pessoa busca conforto, acessibilidade e proximidade de serviços essenciais. Isso naturalmente leva a bairros com melhor infraestrutura e maior valor de mercado”, explica o especialista.

Mas o fenômeno não se resume ao poder aquisitivo. O envelhecimento ativo também está ligado à segurança, mobilidade e bem-estar urbano. “Os especialistas defendem que o melhor lugar para envelhecer é a própria casa. A moradia se torna parte do planejamento de vida”, acrescenta Ferreira.

Outros indicadores reforçam esse cenário. Estudos do IBGE e do Ipea estimam que o número de brasileiros com mais de 60 anos deve ultrapassar 32 milhões até 2030. As projeções apontam ainda que essa população movimenta cerca de R$ 2 trilhões por ano em consumo, segundo o estudo Economia Prateada no Brasil. Isso representa aproximadamente 20% do PIB nacional, uma potência ainda subaproveitada pelo mercado.

Outro dado relevante é a digitalização desse público. Pesquisas da Datafolha e do Cetic.br mostram que mais de 70% das pessoas com 60 anos ou mais já utilizam a internet regularmente, sobretudo para serviços bancários, compras e comunicação com familiares. “O 50+ já está digitalizado. Ele usa aplicativos de banco, pesquisa preços e compara seguros online. As empresas que entenderem isso estão um passo à frente”, avalia Ferreira.

Segundo ele, um dos desafios da indústria é adaptar produtos e linguagem a esse perfil. Algumas companhias já avançam nesse caminho, como a Mapfre com produtos voltados a residências adaptadas e a Brasilprev, que desenvolveu soluções específicas para a fase de “desacumulação” de patrimônio. “São sinais de amadurecimento do mercado”, observa o especialista.

A comunicação também faz parte desse desafio. Mesmo com o avanço do consumo entre o público 60+, o setor ainda falha em representar essa geração. Ferreira cita uma pesquisa da UMAP que revela que 70% dos consumidores maduros não se sentem representados nas propagandas e 40% acreditam que as empresas não desenvolvem produtos voltados para eles. “Falta diálogo. As marcas falam sobre longevidade, mas não com o público longevo”, afirma.

Observando a atuação do único agente capaz de levar esses produtos ao público maduro, Ferreira ressalta o papel do corretor de seguros, profissional mais bem posicionado para atender essa nova geração. “Ele conhece o ciclo de vida do cliente — sabe quando o filho sai de casa, quando o casal troca de imóvel ou quando surge a necessidade de um plano de saúde mais robusto. Isso é ouro para personalizar soluções”, afirma.

Ele acredita que o corretor pode atuar também como educador financeiro e parceiro de longo prazo, fortalecendo o vínculo com clientes maduros. “A longevidade abre espaço para novas formas de relacionamento e o corretor pode ser o grande agente dessa transformação”, completa.

Com o país a poucos anos de ter mais idosos do que crianças, o envelhecimento tende a se tornar o eixo do consumo. Ferreira resume. “A longevidade é a nova fronteira da inovação. Quem entender isso agora vai liderar o mercado nos próximos 20 anos”.

Nicholas Godoy, de São Paulo

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e desempenham funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.