EXCLUSIVO – O impacto das mudanças climáticas deixou de ser apenas uma preocupação externa para o mercado de seguros e passou a afetar diretamente a operação e a subscrição das companhias. Nos últimos anos, seguradoras brasileiras vêm intensificando iniciativas para integrar variáveis ambientais, sociais e de governança (ESG) em suas estratégias de negócio, ao mesmo tempo em que buscam apoio de prestadores externos para avançar nessa agenda.
De acordo com especialistas da WayCarbon, que atua com mais de 150 consultores em finanças sustentáveis e riscos climáticos, o movimento ganhou força após eventos extremos como enchentes e quebras de safra no Rio Grande do Sul, que geraram prejuízos não previstos nos modelos tradicionais de subscrição. “As seguradoras começaram a perceber que a mudança climática não é apenas um tema reputacional, mas um fator que impacta a contabilidade, o provisionamento e, sobretudo, a sustentabilidade da carteira”, afirma Bruna Araújo, gerente de Finanças Sustentáveis da WayCarbon.
A atuação junto ao setor envolve tanto a gestão e monitoramento dos riscos climáticos nas carteiras quanto o apoio na criação de produtos inovadores. Exemplos vão desde seguros voltados à descarbonização até soluções associadas a créditos de carbono e reflorestamento. Segundo a consultoria, o desafio é integrar variáveis climáticas nos modelos atuariais, ajustando a precificação e trazendo previsibilidade em horizontes mais curtos, condizentes com a lógica anual das apólices.
Além disso, a agenda regulatória e institucional tem acelerado o processo. Iniciativas da Susep, como o sandbox regulatório e as discussões em torno da taxonomia sustentável, criam condições para que novas soluções sejam testadas e lançadas no mercado. “O setor segurador já é reconhecido como especialista em gestão de riscos. O que fazemos é adicionar a variável climática como um elemento adicional na tomada de decisão, aproveitando sinergias já existentes”, explica Bruna.
Entre os trabalhos realizados, destaca-se o projeto desenvolvido com a Porto, que foi pioneira no Brasil ao mensurar as emissões de gases de efeito estufa associadas à sua carteira segurada. “O estudo deu à companhia uma visão clara do impacto climático de suas operações e reforçou seu papel de liderança no setor. Outras seguradoras, como a HDI, também têm recorrido à consultoria para alinhar estratégias às exigências regulatórias e explorar novas oportunidades de negócio”, conta Caio Barreto, consultor de Sustentabilidade da empresa.
Expectativas para a COP30
Com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém, o setor segurador deve reforçar sua presença no debate global sobre financiamento climático. A chamada “Casa do Seguro” terá espaço dedicado para apresentar cases e discutir o papel das seguradoras na mitigação de riscos e viabilização de projetos sustentáveis.
“Nosso objetivo é mostrar que o seguro pode ser tão estratégico quanto o crédito no destravamento de investimentos em tecnologias limpas e soluções inovadoras. Muitas vezes, o que falta não é recurso, mas garantias e mecanismos de transferência de risco”, destaca a especialista da WeyCarbon.