EXCLUSIVO – A transformação digital foi o eixo central de um dos debates durante o Conec 2025, em um painel que juntou CEOs e presidentes das principais seguradoras que puderam discutir os impactos da tecnologia no setor deixando uma mensagem clara: a digitalização é irreversível, mas o corretor permanece como peça essencial na relação com o cliente.
Durante todo debate os executivos reforçaram que qualquer inovação no setor precisa nascer junto ao corretor. Tanto Ferrara, diretor presidente da Tokio Marine, quanto Nascimento, CEO da Mapfre Brasil, sublinharam que suas companhias colocam a categoria no centro dos testes e avaliações de novas soluções.
“Está no DNA da Tokio Marine envolver o corretor antes do lançamento de qualquer produto”, disse Ferrara, lembrando que a companhia já prepara um programa de capacitação em inteligência artificial para o primeiro trimestre de 2026. Para ele, o corretor precisa ser “híbrido”, dominando tanto o conhecimento técnico de seguros quanto o uso de novas ferramentas digitais.
Nascimento, por sua vez, apontou que a escuta ativa é a base da estratégia da Mapfre. Ele citou como exemplo o desenvolvimento do portal Corretor MAPFRE e a recém-lançada solução de aviso de sinistro via inteligência artificial, que permite interação por voz e imagem. “Foi construída junto com os corretores, de ponta a ponta”, disse.
Se há um consenso entre as lideranças, é o potencial da IA para transformar o setor. Dal Ri, CEO do Grupo HDI, foi categórico ao defender que os corretores adotem a tecnologia em suas rotinas. “A inteligência artificial é barata, funcional e pode gerar resultados concretos. É uma ferramenta para dinamizar processos e qualificar a experiência do cliente”, afirmou, lembrando que equipes da seguradora já utilizam agentes Copilot nas tarefas do dia a dia servindo de exemplo par que o corretores façam o mesmo dentro de suas corretoras.
Na visão de Kakinoff, CEO do Grupo Porto, a IA será a maior revolução do mercado nos próximos anos. “Nenhum competidor hoje deixa de falar sobre inteligência artificial. Ela não substitui o humano, mas transforma a qualidade da relação com o cliente”, disse. Para ele, a digitalização amplia o acesso a treinamentos e conteúdos, fortalecendo os corretores em sua atuação.
Ivan Gontijo, presidente do Grupo Bradesco Seguros, reforçou que a tecnologia já é uma realidade consolidada, mas alertou que a decisão final continuará nas mãos do corretor. “A IA pode eliminar processos arcaicos, mas a transparência e o olhar final sempre serão do corretor de seguros”, destacou.
Humanismo, racionalidade e proximidade
Apesar do entusiasmo com as novas ferramentas, os executivos foram unânimes em defender que a digitalização deve caminhar ao lado da essência da profissão. “Não percam o humanismo. O corretor é insubstituível na relação com o cliente, assim como o médico ou o professor continuam fundamentais mesmo diante da tecnologia”, afirmou o líder da Mapfre.
Essa visão foi reforçada por Gontijo, que destacou a importância da presença física no atendimento. “O corretor conhece o cliente de verdade. A perda está em quem ainda não trouxe essa transformação para o dia a dia”, conta. Ao mesmo tempo, os líderes alertaram para a necessidade de racionalidade. “É preciso analisar o retorno dos investimentos tecnológicos. O entusiasmo não pode se sobrepor ao olhar crítico sobre custos e resultados”, ponderou Nascimento.
Ferrara resumiu a transformação em uma metáfora: “Ao invés de dar o peixe frito, quero dar a vara de pescar. O corretor precisa ser híbrido, adaptando-se às realidades regionais e aos segmentos em que atua”. Kakinoff complementou que a mudança não deve ser vista como uma corrida individual, mas como um movimento coletivo. “Quando um corretor adota novas práticas e compartilha com colegas, o ganho é de todo o mercado”. conclui.
Nicholas Godoy, de São Paulo.