A chegada da inteligência artificial (IA) ao setor de seguros provoca hoje um efeito parecido com o que a internet causou há 35 anos. Na época, muitos corretores se sentiram ameaçados. Hoje, é a IA que gera apreensão, mas também abre portas para novas oportunidades, lembra Rogério Freeman, secretário do Sincor-SP.
Durante o painel “SinergIA Digital: O futuro inteligente do corretor de seguros”, realizado no terceiro dia do Conec 2025, executivos do mercado e especialistas mostraram como a tecnologia vai impactar a rotina do corretor. Rafael Altomore, mentor de lideranças com IA, fez uma demonstração prática de ferramentas como o ChatGPT, evidenciando que a inteligência artificial vai muito além do suporte: pode criar novas oportunidades de negócio, ajudar em vendas e até atuar por meio de robôs humanoides. “Se o corretor não começar a usar IA, a profissão corre risco. É fácil de dominar; quem não se adaptar vai ficar para trás”, alertou, reforçando também a importância de explorar redes como LinkedIn.
O consenso é que a IA não substitui o corretor. Marco Antônio Messere Gonçalves, presidente do Conselho Consultivo da MAG Seguros, destacou que a tecnologia será uma aliada na construção de modelos preditivos e estratégias de cross-selling, liberando o corretor para se concentrar na consultoria e no acompanhamento do cliente. Fábio Ventura, da SulAmérica, complementou que a automação de tarefas repetitivas permite que o corretor dedique mais tempo a estratégias de relacionamento e vendas personalizadas. “O primeiro passo é usar ferramentas simples, como o ChatGPT. Com isso, há ganhos de produtividade e liberdade para atuar em outras frentes que antes consumiam muito tempo”, disse.
Edson Franco, CEO da Zurich Seguros Brasil, trouxe uma perspectiva complementar: apesar da crescente automação, o contato humano continua central. Estudos de empatia realizados pela seguradora mostram que clientes ainda valorizam o atendimento direto, e que a tecnologia deve ser usada para potencializar, e não substituir, esse relacionamento. Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros, reforçou que a confiança do cliente permanece no centro do trabalho do corretor, e a IA pode ser usada para mapear perfis e personalizar o atendimento, demonstrando conhecimento e cuidado.
A experiência prática já existe no mercado. Amit Louzon, CEO da Ituran Brasil, explicou que sua empresa utiliza IA há cinco anos para análise de big data, criação de mapas de risco e otimização de processos de recuperação de veículos. “A IA é o melhor funcionário que você pode ter: não tira férias, não falta e funciona 24/7. Mas não substitui o corretor; ele ajuda a tornar a jornada de trabalho mais eficiente e focada na consultoria”, afirmou.
O painel também trouxe recomendações para implementação gradual. Eduardo Borges, do Grupo Autoglass, sugeriu começar com agentes de voz, imagem ou mensagens, para que o corretor se acostume com a tecnologia antes de explorar ferramentas mais complexas. “Vejo um futuro em que o corretor será totalmente tecnológico e usuário frequente de IA em todos os seus processos e negócios”, disse.
Nicholas Godoy, de São Paulo.