EXCLUSIVO – Dentre os princípios do cooperativismo estão a igualdade entre as pessoas e a busca do mesmo objetivo. A Mapfre, que nasceu como uma mútua dos proprietários de fazendas na Espanha que buscavam se proteger em algum momento da história, promoveu um encontro entre as cooperativas que já distribuem seus produtos de seguros.
Felipe Nascimento, CEO da Mapfre, abriu a Coop Week e lembrou os princípios do mutualismo e a sua importância neste momento da história, tanto do ponto de vista do setor de seguros quanto da sociedade, pois a ONU declarou 2025 como ano Mundial do Cooperativismo.
O presidente da CNseg falou sobre a regulamentação das associações de proteção patrimonial mutualista. Até julho, 2217 associações entraram com requisição para regularização das suas atividades. “A lei restringe a regulação apenas para as cooperativas que queiram atuar com proteção patrimonial. A regulamentação deve ser equilibrida, com as mesmas obrigações de seguradoras e cooperativas”, salientou Oliveira.
Em um momento de grandes transformações regulatórias, o mercado de seguros brasileiro se prepara para uma nova fase de expansão e fortalecimento institucional. Duas legislações recentes — a Lei Complementar 213/2024 e a Lei 14.540/2023, conhecida como Marco dos Contratos de Seguro — abrem espaço para maior transparência, inclusão e competitividade no setor. Com destaque especial para a regulamentação das cooperativas de seguros e das associações de proteção veicular, o cenário é promissor, mas exige atenção e responsabilidade.
Aprovada neste ano, a LC 213 regulamenta as cooperativas de seguros e, pela primeira vez, estabelece um marco legal para as associações de proteção patrimonial mutualista, as chamadas PPRs (Proteções Patrimoniais Mutualistas). A medida vem ao encontro de uma pauta estratégica do setor: ampliar a cultura do seguro no país. “A expansão da cobertura de seguros é a nossa grande luta cotidiana. Queremos que mais brasileiros compreendam o valor da proteção e tenham acesso a ela”, afirmou um representante do setor durante evento recente.
A tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, com perdas estimadas em mais de R$ 100 bilhões e apenas R$ 6 bilhões pagos em indenizações seguradas, evidenciou a urgência da pauta. Menos de 15% das residências na região afetada estavam seguradas, e grande parte dessas não possuía cobertura completa. No campo, foram registradas apenas cerca de 300 indenizações rurais. “Esses dados mostram que o desafio de levar o seguro às diferentes regiões e realidades do país ainda é gigantesco”, reforçou o líder da CNseg.
Nesse contexto, a regulamentação das cooperativas de seguro surge como um catalisador relevante. A nova legislação estabelece que cooperativas podem atuar em quase todos os ramos do seguro — exceto aqueles relacionados à capitalização e previdência (como VGBL e PGBL). Com isso, essas entidades deixam de operar exclusivamente por meio de parcerias e passam a atuar diretamente como seguradoras registradas, preservando sua natureza jurídica de cooperativa, sem a exigência de constituírem-se como sociedades anônimas.
A expectativa é de que essa abertura traga ao setor uma nova dinâmica de negócios, com ampliação de produtos, canais e públicos. As cooperativas têm capilaridade, profundo conhecimento da base de clientes e presença nacional — atributos que agregam valor ao mercado segurador. “Estamos otimistas. A lei trata as cooperativas com equilíbrio, assegurando igualdade regulatória em relação às seguradoras”, afirma a fonte.
Já no caso das associações de proteção veicular, o tratamento legal é distinto. Essas entidades passam a operar legalmente como prestadoras de PPRs, um produto diferente do seguro tradicional. A lei cria um regime próprio para elas, o que tem gerado preocupações sobre o risco de desequilíbrios concorrenciais. Antes da regulamentação, essas associações atuavam à margem da legislação, sem fiscalização, sem obrigações consumeristas e sem recolhimento tributário — o que gerava uma concorrência desleal com as seguradoras regulamentadas.
O setor, que apoia a regularização, agora busca garantir que a regulamentação seja simétrica. “A nossa principal preocupação é que essas entidades cumpram as mesmas obrigações que seguradoras e cooperativas: regras de solvência, reservas técnicas, transparência, governança e respeito ao consumidor. Sem isso, haverá um privilégio injustificado”, alertou Oliveira.
A Lei 14.540/2023, por sua vez, introduz regras claras e organizadas para os contratos de seguro, consolidando práticas do mercado e decisões judiciais em um instrumento único. A lei estabelece prazos para análise de sinistros, critérios para aceitação de propostas, deveres de comunicação e transparência entre seguradoras e segurados. “É um avanço importante. A lei oferece previsibilidade e fortalece a relação de confiança no setor”, pontuou uma fonte O texto legal está em fase de regulamentação e conta com a participação ativa da autarquia e da CNseg, que inclusive lançou um livro explicando artigo por artigo do novo marco.
Seis pilares orientam a nova regulação para todos os entes do setor — seguradoras, cooperativas e associações: governança, solvência, transparência, gestão de riscos, relação com o consumidor e regras de comercialização. Todos devem cumprir exigências como a qualificação dos dirigentes, a constituição de reservas técnicas, o uso de mecanismos como resseguro e a oferta de informação clara e acessível ao cliente.
O desafio, agora, é equilibrar os interesses de crescimento com a proteção da credibilidade do mercado. “Este é um setor que vive da confiança. Precisamos garantir que todas as operações — sejam elas de seguradoras, cooperativas ou associações — sigam práticas prudenciais sólidas”, alerta um dirigente do setor. Isso inclui impedir que modelos baseados exclusivamente na divisão de custos, como ocorre em algumas associações, ponham em risco a solvência dos grupos e, consequentemente, a proteção dos consumidores.
O momento é, portanto, de construção regulatória e de diálogo institucional. Com a realização da COP30, em Belém, neste ano — e a presença confirmada da Casa do Seguro no evento —, a sustentabilidade e a inclusão financeira ganham ainda mais relevância nas discussões do setor. A participação ativa do mercado, por meio de cooperativas, seguradoras, entidades reguladoras e associações, será essencial para consolidar um ambiente seguro, equilibrado e preparado para os desafios de um país em transformação.
Cooperativismo e Seguros foi o tema de um dos paineis, falando sobre atuação e ESG. Fatima Lima, diretora geral da Fundacion Mapfre no Brasil, foi a mediadora do painel que tratou de alianças para um mundo mais resiliente. Isaura Morél, gerente de sustentabilidade da Confederação Sicredi, Itamar Vodzicki, gerente do Instituto Cresol, e Luiz Edson Feltrim, Superintendente do Instituto Sicoob para o Desenvolvimento Sustentável.
O Sicredi é um sistema com mais de 100 anos de história e se preocupa com as comunidades onde atua. “A gestão do negócio é feita para diminuir os impactos
O impacto da inovação tecnológica
A inteligência artificial já é realidade na Mapfre. A seguradora vem implementando diversas iniciativas que vão além do discurso de modernização, promovendo, na prática, uma transformação no atendimento, na subscrição e na gestão do sinistro — tudo com foco no cliente e no fortalecimento das cooperativas parceiras.
Segundo Hugo Assis, diretor geral na companhia, disse que atualmente há pelo menos 10 frentes com uso ativo de IA em diferentes etapas da cadeia do seguro. Um dos destaques é o uso da tecnologia para realizar vistorias com 99,8% de assertividade, o que agiliza processos e eleva o nível de precisão nas decisões. “Seguro é algo complexo. Um seguro agrícola, patrimonial rural, por exemplo, exige um conhecimento técnico profundo. A inteligência artificial entra como uma aliada para apoiar nossos profissionais e distribuidores a oferecerem uma experiência mais consultiva ao cliente”, destacou Assis.
Essa abordagem parte de uma visão clara: a IA não vem para substituir pessoas, mas para qualificá-las. A Mapfre acredita que o futuro do seguro passa por uma atuação mais humana, mais personalizada e mais conectada com a realidade de quem contrata uma apólice — e também de quem a vende. Nesse sentido, a companhia mantém um programa interno chamado “Tubarões”, que incentiva os próprios colaboradores a proporem soluções inovadoras para melhorar a jornada dos clientes e dos parceiros de distribuição. Na edição mais recente, foram mais de 160 ideias recebidas.
A conexão com o ecossistema das cooperativas é outro diferencial. A seguradora foi fundada a partir de um modelo cooperativista e mantém esse DNA vivo em sua atuação. A parceria com cooperativas se traduz na escuta ativa das necessidades regionais e na criação de soluções sob medida. “Nada enlatado funciona para todos. Estamos sempre cocriando com nossos parceiros, ouvindo suas demandas e adaptando nossos produtos e serviços”, reforçou o porta-voz da seguradora.
Uma das iniciativas mais promissoras é o uso de IA para auxiliar os distribuidores a entender melhor suas carteiras e oferecer produtos com base em perfis personalizados. A ferramenta analisa dados e sugere abordagens mais eficazes para cada cliente. “É um modelo de aconselhamento mais educativo e eficiente, que garante mais valor tanto para o cooperado quanto para o segurado.”
Kelly Lubiato, de São Paulo