Ultima atualização 24 de julho

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O desafio de financiar a adaptação das cidades às mudanças climáticas

Tão importante quanto mitigar os impactos das mudanças climáticas é realizar a adaptação das cidades, tornando-as mais resilientes

EXCLUSIVO – O tema é muito urgente porque ele já não é mais um assunto do futuro. O impacto das mudanças climáticas já se mostrou real no Brasil e a frequência dos eventos deve se tornar ainda maior. Por isso, o ICS (Instituto Clima e Sociedade), em parceria com diversas entidades, entre elas a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), promoveu uma discussão sobre Os Impactos das Mudanças Climáticas: Como Escalar a Adaptação Financeira e Construir Cidades Resilientes.

O debate aconteceu sobre a reflexão de como as cidades podem pensar em políticas públicas para todo o seu entorno e partir de várias esferas de Poder, além da iniciativa privada e entidades representativas da sociedade. Os especialistas afirmam que estamos na era da adaptação aos impactos dos riscos climáticas e é preciso pensar, principalmente, nas populações mais vulneráveis, porque elas são as mais (e primeiras) afetadas pelos eventos climáticos.

A CEO do ICS, Maria Netto, contou que a ideia do evento nasceu da urgência de discutir o tema e trazer todos os tomadores de decisão para a mesa, sejam eles governadores, prefeitos, executivos do setor privado, mercado de seguros etc., pensando nos problemas comuns e nas soluções possíveis. O Brasil assumiu a presidência do G20 com vários desafios e oportunidades para fortalecer a entrega de financiamento climático e avançar com importantes discussões internacionais em grandes questões de financiamento climático. Ao mesmo tempo, o financiamento global para adaptação climática caiu de 7% para 5% nos últimos dois anos e há uma necessidade urgente de maiores investimentos globais em esforços de adaptação climática para enfrentar os crescentes desafios impostos pelas mudanças climáticas.

“O Brasil não teve evento extremos antes, com grande custo para todos os setores. Porém, isso vem aumentando exponencialmente nos últimos anos. Precisamos entender estes riscos e ninguém melhor do que os agentes do mercado de seguros para ajudar nesta tarefa”, ponderou Maria. Ela acrescentou que o seguro tem diferentes papeis nesta mesa, mas é preciso ter uma visão mais ampla, junto com a sociedade civil, de como se planejar para enfrentar estes riscos.

O evento foi realizado para estabelecer uma agenda de diálogo internacional com agentes econômicos estratégicos, internacionais e formuladores de políticas para avaliar o progresso e discutir desafios e soluções inovadoras para promover o aprimoramento do financiamento da adaptação e o desenvolvimento de cidades resilientes.

“O mercado de seguros já está integrado à agenda climática, que envolve uma relação global. O enfrentamento da crise climática vai exigir o maior esforço de organização entre pessoas, governos, universidades, empresas, centros de pesquisa. As mudanças climáticas são o resultado de um conjunto de ações onde a prática individual é insignificante. O problema é o conjunto das ações. É preciso quebrar o paradoxo da adaptação e fazer o investimento sem a certeza de que aquilo vai acontecer com você”, comentou Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.

Maria Netto e Dyogo Oliveira

A indústria de seguro sabe gerenciar risco na sua essência e conhece o risco climático, por isso seu papel é atuar na prevenção e na gestão do risco. “Toda a agenda de mitigação é fundamental, mas a falta da adaptação mata”, sentenciou Dyogo, ressaltando que as populações dos países mais vulneráveis são as que serão mais atingidas pelas mudanças. A dificuldade é como coordenar os investimentos globalmente para sair do processo de inação. 

O mercado de seguros pode colaborar com esta agenda das maiores diferentes maneiras, seja criando seguros sociais contra catástrofes, seguros para infraestrutura, produtos para proteção agrícola ou investimento do setor em títulos sustentáveis. O importante é estar próximo às discussões para promover medidas capazes de tornar as cidades mais adaptadas aos riscos. Muito foi discutido sobre a construção de infraestruturas resilientes, medidas que não foram consideradas no Novo PAC do Governo Federal, por exemplo.

Desta forma, Oliveira acredita que é preciso colocar os conceitos de mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas nas discussões setoriais do Governo, nas agendas de transporte, agricultura e infraestrutura.

Números envolvidos

Butch Bacani, Head of Insurance do Programa de Meio Ambiente da ONU, apontou que 2,2 bilhões de pessoas (40% da população global) são afetadas diretamente pela degradação do meio ambiente Cerca de 577 mil bilhões de dólares da produção agrícola global anual estão em risco devido à perda de polinizadores. “O declínio da natureza e da biodiversidade nas trajetórias atuais prejudicará o progresso em direção a 35 das 44 metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU relacionadas à pobreza, fome, saúde, cidades aquáticas, clima, oceanos e terra”.

Pelo lado das seguradoras, Norma Rosas, executiva da Global Federation of Insurance Associations (GFIA), informou a associação recomenda o investimento nas pesquisas para redução dos riscos, com ações para prevenir grandes perdas futuras. “Teremos que investir em produtos parametrizados, específicos para eventos climáticos. Além disso, a GFIA recomenda a promoção de produtos de seguros adaptados às necessidades locais, principalmente através do fomento do microsseguro quando possível”.

Kelly Lubiato, do Rio de Janeiro

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