Ultima atualização 08 de março

Maioria no mercado de seguros, mulheres representam resiliência do setor

Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, a Revista Apólice conversou com algumas representantes femininas do segmento para contar suas trajetórias

EXCLUSIVO – Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, o mercado de seguros não é masculino. De acordo com o 4º Estudo Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil, realizado pela ENS (Escola de Negócios e Seguros) com apoio da Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros) e da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), a proporção de mulheres nas seguradoras é de 54,4% em todos os níveis.

Entretanto, nos cargos de liderança, elas ainda não conquistaram o mesmo espaço que os homens. Para os níveis hierárquicos mais altos, este número avançou para 2 homens para cada mulher, contra 4 x 1, proporção do primeiro estudo da ENS, feito há 10 anos. Em termos salariais, as mulheres ainda recebem cerca de 70% do salário masculino.

Além de terem menos espaço no mercado de trabalho e receberem menos, muitas mulheres sofrem com a jornada dupla. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres ocupam 53,3 horas por semana com o trabalho, incluindo afazeres domésticos, enquanto os homens tomam 50,2 horas semanalmente. Segundo o Global Gender Gap Report 2022, o Brasil ficou em 94º entre 146 nações na diminuição da desigualdade de gênero.

(Foto: BBC)

Disseminando a cultura de equidade de gênero no mercado de seguros, a atuação de organizações como a Sou Segura (Associação das Mulheres do Mercado de Seguros), o IDIS (Instituto pela Diversidade e Inclusão do Mercado de Seguros) e até mesmo os coletivos dentro das próprias seguradoras é fundamental para uma maior igualdade no setor. Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, a Revista Apólice conversou com algumas representantes femininas do segmento para contar suas trajetórias.

Fernanda Pires

Fernanda Pires

Viciada em vídeo game e séries de investigação policial, Fernanda Pires atua como supervisora Comercial na Minuto Seguros. Há mais de 12 anos no mercado de seguros, ela possui experiência nas áreas de Sinistro, Benefícios Empresariais e Pós-Vendas. Estudante de Recursos Humanos com foco em Gestão de Pessoas na Universidade Descomplica, no início da sua carreira foi indicada por um conhecido que já atuava no setor e assim foi “picada pelo bichinho do seguro”.

Lésbica e sem filhos, Fernanda afirma que já sofreu preconceito no ambiente de trabalho em experiências anteriores, mas que atualmente se sente livre e respeitada para seguir suas escolhas com o apoio de sua família. Ela reforça que é fundamental as empresas trabalharem para fazer a equidade de gênero virar uma realidade no mundo corporativo.

“Eu sou uma mulher em cargo de liderança e tenho inspiração de outras mulheres em outros níveis hierárquicos, me mostrando que há oportunidade para todos. Representar a comunidade LGBTQIA+ para mim é algo natural, pois a empresa onde trabalho atua de forma igualitária. Assim, vejo a divulgação da minha história como uma oportunidade de mostrar que existe espaço para todos no mundo corporativo”.

Flávia Bianco

Flávia Bianco

Formada em Publicidade e pós-graduada em Gestão Empresarial e Inteligência Competitiva, Flávia Bianco é apaixonada por música e toca piano em seu tempo livre. Habilitada como Comissária de Avarias desde 2005, trabalhou por mais de 20 anos em empresas do setor logístico portuário, no âmbito do Porto de Santos, e atualmente atua em uma multinacional do segmento de saúde, na área de Gestão Operacional Hospitalar.

Desde 2007, Flávia é professora e consultora técnica eventual nos quadros do curso de habilitação de Comissário de Avarias da ENS. Por ser uma mulher transexual, ela afirma que ao passar pela transição de forma tardia, aos 42 anos, sofreu preconceito no local onde trabalhava, o que acabou motivando a saída da empresa.

“Enquanto mulher trans, o fato de ocupar espaço no mercado como profissional formada, comissária de avarias e professora eventual da ENS me coloca em local de privilégio. Vivemos num país que pelo 14º ano consecutivo é o que mais mata pessoas trans no mundo, segundo o Dossie Antra. A expectativa de vida de uma mulher transexual no Brasil é de 34 anos, além de mais de 90% delas tema na prostituição a sua principal ou complementar fonte de renda, não por opção, mas por imposição de uma sociedade que ainda traz a intolerância ao diverso em suas raízes”.

Flávia ressalta que é preciso abrir vagas afirmativas, dando oportunidades a pessoas transexuais dentro das companhias, mas é preciso ter cuidado com alguns requisitos exigidos pelas organizações, pois a maioria da população trans acaba por ter sua qualificação profissional e acadêmica comprometida devido à falta de acolhimento, violência e assédio. “É preciso abrir vagas, mas também desenvolver iniciativas de qualificação profissional e acolhimento à cidadania através de parceria com ONGs e entidades voltadas a minorias”.

Gleiziele Batista

Gleiziele Batista

Assistente de RH na Pottencial, Gleiziele Batista é apaixonada por estudar libras e tirar fotos em seu tempo livre. Estudante de Gestão de Recurso Humanos na Universidade Estácio de Sá, ela acabou entrando na empresa após se candidatar à vaga através do Linkedin.

Como mulher negra e PCD, Gleiziele afirma que também já passou por preconceitos em empregos anteriores e fora do ambiente de trabalho, o que a fez se sentir pressionada a mostrar que, mesmo com limitações, pode executar atividades como qualquer pessoa. “Profissionalmente eu sempre tento superar as expectativas, pois nunca gostei do papel de vítima, por isso estou sempre pronta a mostrar que eu posso mais do que as pessoas imaginam”. Para ela, a inclusão no mercado de seguros só irá melhorar se houver uma conscientização por parte de quem atua como liderança.

“Já é uma vantagem sermos maioria no mercado de seguros, mas para que a realidade seja diferente no ambiente corporativo é preciso que todas as empresas tratem as funcionárias com respeito, credibilidade e valorizem o trabalho e as entregas das mulheres. As ações preventivas são as mais eficazes, como disponibilizar cursos de capacitação, oferecer acompanhamento psicológico e profissional, reconhecer o bom trabalho através da meritocracia, dar liberdade para a criatividade dos colaboradores em relação a profissão e proporcionar harmonia entre a equipe”.

Juliana Caligiuri

Juliana Caligiuri

Com mais de 20 anos de carreira, Juliana Caligiuri é vice-presidente Comercial da SulAmérica. Formada em Administração de Empresas pelo Mackenzie e com MBA pela Kenan-Flager Business School at Chapel Hill, a executiva possui experiência nos setores de Saúde, Varejo, Mercado Financeiro e Consultoria Estratégica. Mãe de três filhas, seu passatempo preferido é viajar, conhecer novos restaurantes e frequentar museus.

Para equilibrar o lado profissional e a maternidade, Juliana afirma que busca se dedicar 100% naquilo que está fazendo, dando o seu melhor para não se sentir culpada quando não está com as filhas. Ela acredita que ser mulher só enriquece a sua carreira, ajudando a ter mais sensibilidade ao liderar pessoas. Além disso, a executiva ressalta que para chegar em cargos de gestão é preciso que as mulheres tenham mais autoconfiança e convicção de onde querem chegar.

“Não existe uma parte mais difícil em liderar, cada desafio nos traz uma oportunidade de aprendizado, transformação e impacto nas pessoas e no negócio. O mais importante é sempre lembrar que estamos trabalhando e lidando com outras pessoas, pois o ser humano é diverso e isso é o que faz de cada pessoa um ser único. Saber como inspirar, mobilizar, ampliar o melhor que cada um pode entregar é desafiador, mas muito gratificante. Aprendo com as diferenças e busco me inspirar no que me compete, entendendo as necessidades de cada um”.

Karine Brandão

Karine Brandão

Graduada em Administração de Empresas, com pós-graduação em Marketing e MBA em Desenvolvimento Executivo e Gestão de Negócios, Karine Brandão assumiu em janeiro desse ano o cargo de vice-presidente Comercial e Marketing da AXA no Brasil. Nascida em uma família de corretores, a executiva começou sua carreira trabalhando na corretora do seu tio, a Assurê Seguros, tendo a oportunidade de atuar em diversas áreas da empresa para entender a operação e quais eram as necessidades dos clientes.

O principal hobby de Karine é jogar vôlei, ela acredita que o esporte ajuda a trazer satisfação e equilíbrio para o lado profissional. A executiva afirma já passou por momentos de constrangimento durante sua trajetória apenas por ser mulher, mas que fica feliz em ver que a realidade do mundo corporativo está mudando. “Hoje, a Sou Segura tem um papel muito agregador e importante para a inclusão da mulher no mercado, não só na promoção do diálogo, mas também oferecendo dados e informações comparativas sobre nosso setor. O caminho é este: criar políticas, assumir compromissos públicos, trocar boas práticas e buscar uma evolução conjunta”.

Karine reforça que se sente realizada em liderar pessoas e trocar experiências diariamente com a equipe, mas manter um time focado é um grande desafio.

“Para as mulheres que desejam entrar no mercado de seguros, meu conselho é: seja 100% você. Tenha o espírito de aprendiz, procure sempre estar conectada ao o que está acontecendo no mundo e as novidades do setor. E o mais importante: não tenha medo, aceite os desafios mesmo não se sentindo 100% preparada”.

Nicole Fraga
Revista Apólice

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