Muito tem se falado a respeito do impacto da tecnologia sobre os seguros. Inteligência artificial (IA), carros conectados, drones e a internet das coisas (IoT) estão se tornando parte integrante dos mercados de seguros e automotivo. Isso se torna evidente quando usamos o sistema de navegação do carro, por exemplo — algo que fazemos todo dia sem perceber, mas que pode gerar uma série de eventos que poucos imaginam ser possível, mesmo nos dias de hoje.
Você digita o local de destino no navegador do seu carro, que usa IA para calcular as diversas rotas possíveis para chegar lá, inclusive a mais rápida, mais segura e com menos consumo de combustível.
Com base na sua possível opção de rota, o sistema emite um alerta de alterações imediatas no prêmio do seu seguro. Você decide mandar a cautela para o espaço e opta pela rota menos recomendada, porque se trata da menor distância até o seu local de destino (o prêmio do seu seguro baseado no uso aumenta para esse percurso).
Infelizmente, você ultrapassa o limite de velocidade e acaba sofrendo um acidente envolvendo um motorista mais cauteloso, que parou de repente quando o tráfego aumentou.
Os sistemas de telemática e gestão que controlam os diagnósticos do seu carro avaliam os danos rapidamente. Sua seguradora é notificada e despacha um drone para coletar evidências no local do acidente.
Antes que você se pergunte “Por que escolhi esse caminho?”, sua seguradora já aprovou sua notificação de sinistro, ligou para uma oficina nas proximidades, pediu que enviassem um reboque para levar o seu carro e, rapidamente, informou um aumento no prêmio da sua apólice motivado pelo acidente.
Hoje isso pode soar improvável, mas um cenário desses no futuro é certamente possível, considerando o aumento do uso de Inteligência Artificial pelas seguradoras. No entanto, existem outros casos nos quais a IA poderia desempenhar um papel muito mais importante para as seguradoras e seus clientes – e muito antes do que se poderia esperar.
Contratação de seguros contra riscos
As empresas de seguro atuais estão buscando sistemas especializados de Inteligência Artificial que façam o “trabalho pesado” relativo às decisões de contratar um seguro contra riscos. Tal sistema poderia liberar os agentes da demorada tarefa de detectar padrões demográficos e ajudá-los a fazer recomendações mais sensatas a seus clientes, com base em análises de dados provenientes de “machine learning” e combinada a bancos de dados de melhores práticas.
Os sistemas de IA podem se revelar um pouco ameaçadores para os funcionários de seguradoras. A Fukoku Mutual Life Insurance, uma empresa japonesa do setor de seguros, tomou no ano passado a decisão de substituir mais de 30 funcionários pelo sistema Watson Explorer da IBM. A empresa acredita que isso aumentará em 30% a sua produtividade, apresentando retorno para o seu investimento em menos de dois anos. No entanto, independentemente desse suposto “risco” de os trabalhadores perderem seus cargos, a IA proporciona aos agentes de seguro e aos avaliadores de riscos uma visão mais rápida e abrangente com base em uma análise de big data mais profunda, que lhes permite fazer recomendações melhores para seus clientes. Os preços dos seguros também podem ser calculados em tempo real por sistemas de IA capazes de analisar com mais eficiência e eficácia os dados históricos disponíveis, as análises de risco e os preços da concorrência, para que as seguradoras possam oferecer a seus clientes as cotações mais vantajosas para seus serviços.
Processamento de sinistros e prevenção de fraudes
Os sistemas de Inteligência Artificial com algoritmos avançados podem ajudar a agilizar o processamento de sinistros e a prevenção de fraudes. A maioria das seguradoras hoje em dia está aceitando notificações de sinistros por celular e processando-as com mais rapidez e precisão do que nunca, com a ajuda de IoT, dos smartphones, de drones e de sistemas de “machine learning”. Sistemas inteligentes, com aprendizagem profunda, também são mais capazes de detectar padrões de comportamento fraudulento rapidamente e de reduzir o número de fraudes em notificações de sinistros. E as vantagens das análises em tempo real se refletem diretamente nos resultados de seguros contratados assinados pelas seguradoras.
O que as empresas de seguros precisam fazer para melhor incorporar a IA às suas operações?
Existem alguns fatores que as empresas de seguros podem considerar para melhor incorporar a Inteligência Artificial a suas práticas comerciais diárias:
- Efetuar uma mudança cultural
Os agentes de seguro e os avaliadores de sinistros de nível sênior são as grandes estrelas do ramo de seguradoras. As empresas de seguros precisam encontrar a maneira certa de combinar os sistemas de IA, que eliminam o trabalho repetitivo e comoditizado relacionado à contratação de seguros e ao processamento de sinistros, ao conhecimento e o contato humano de funcionários valorizados, que vêm trabalhando diretamente junto aos clientes há vários anos.
A IA também pode ajudar a aprimorar o relacionamento entre a seguradora e seus clientes. Ela irá agilizar a tomada de decisões e, ao permitir que os agentes de seguro se tornem mais receptivos, deixará os clientes mais satisfeitos. Por exemplo, acesso rápido e análises de registros médicos por meio de IA fazem com que o processamento de solicitações aos seguros saúde seja efetuado com maior rapidez. Além disso, o aumento da eficiência pode reduzir radicalmente os custos de contratação de seguros e de processamento de sinistros.
- Remover os silos
Uma grande seguradora pode apresentar até 19 sistemas de contratação de seguros protegidos por silos, tornando praticamente impossível a obtenção de informações úteis com base nos dados. A Inteligência Artificial não irá funcionar para essas empresas como num passe de mágica se esses sistemas empresariais cruciais não estiverem interconectados entre si e aos sistemas de IA. O mesmo acontece com as tecnologias emergentes, como a internet das coisas, que já estão produzindo volumes de dados dos quais as seguradoras podem extrair um insight mais profundo sobre seus clientes.
À medida que o setor de seguros se movimenta em direção a um papel mais ativo na prevenção e redução de riscos, as empresas estão se posicionando de forma a escalonar seus recursos digitais tirando o máximo proveito da interconexão segura e direta — por meio da troca privada de dados dentro de casa e entre empresas. O Global Interconnection Index prevê que a capacidade e velocidade de interconexão do setor de seguros deverá crescer 61% ao ano (veja o diagrama abaixo).
Essa interconexão aprimorada permitirá às seguradoras a integração da IA e da IoT, assim como de outras tecnologias digitais, a seus sistemas de contratação de seguros e notificações de sinistros. Isso lhes permitirá processar dados, analisar padrões e combinar percepções de modo a aconselhar seus clientes sobre a aquisição de seguros e reduzir as fraudes com mais eficiência.
Já que os dados constituem o ativo mais importante de uma seguradora (depois de seus funcionários), os sistemas empresariais interconectados de IA das seguradoras podem ajudá-las a selecionar e cruzar dados de silos diversos para explorar e monetizar seu valor, aumentando seus negócios e a satisfação de seus clientes.
Sobre o autor
James Maudslay é chefe global para Seguros da Equinix