A retomada do crescimento da economia brasileira é fundamental não apenas para que o País retome os investimentos em tecnologia e inovação, mas também para que a sociedade possa desfrutar de novos produtos e serviços que facilitam o cotidiano das pessoas. Há setores, de fato, em que o Brasil está bastante defasado em relação ao resto do mundo. Mas também existem casos em que os consumidores ainda não usufruem todo o potencial de inovações já disponíveis.
As tecnologias de rastreamento e monitoramento de bens ainda são subutilizadas em um País em que roubos e furtos de veículos e cargas batem sucessivos recordes. Basta dizer que apenas 5% da frota nacional são equipados com esses dispositivos.
O uso da telemática automotiva ainda não está difundido no Brasil e tem um extraordinário mercado a ser explorado. As soluções de telemática podem promover muito mais serviços que a mera recuperação de veículos roubados ou furtados. Elas permitem, por exemplo, ao gestor de frota identificar o comportamento do motorista e controlar melhor fatores que possam resultar em maior eficiência e segurança de suas operações. As seguradoras também podem tirar proveito dessa tecnologia, que proporciona redução de sinistralidade e de custos. Ao diferenciar bons dos maus condutores, as seguradoras podem oferecer produtos e serviços mais personalizados, além de ampliar consideravelmente a base de clientes com nichos antes não atingidos por seguros tradicionais. Mesmo sendo de adoção mais lenta que o esperado em nosso País, a tendência é que a telemática se torne cada vez mais presente na vida das pessoas.
O otimismo no mercado acarretará maiores investimentos em infraestrutura para a implementação efetiva da Internet das Coisas (IoT). O carro conectado, presente nesse universo, certamente será um dos beneficiados, por se tratar de um passo importante em direção às smart cities, ou cidades inteligentes, nas quais a infraestrutura urbana se integra em redes inteligentes, permitindo que o controle de tráfego e mobilidade funcionem de forma integrada. Comunicações V2V (veículo com veículo) e V2I (veículo com infraestrutura) permitirão soluções para melhorar a vida das pessoas. Um exemplo: os veículos poderão detectar acidentes automaticamente e alertar outros veículos e o controle de tráfego para que busquem rotas alternativas, menos congestionadas. Ou, então, uma ambulância poderá comandar um semáforo com prioridade, otimizando seu tempo de percurso.
O carro também poderá interagir com outros eletrônicos presentes em seu dia a dia, como ligar o ar-condicionado na temperatura adequada momentos antes de você chegar em casa e acionar o forno para esquentar o jantar, sem que você interaja com nada. As possibilidades são numerosas e empolgantes.
Essa nova realidade certamente promoverá mudanças profundas no relacionamento entre montadoras, concessionárias, seguradoras e empresas de rastreamento e monitoramento.
O carro conectado já está presente e o carro autônomo é o próximo grande foco das montadoras. Muitas estimam que até 2020 já terão veículos com autonomia nível 4. Ou seja, veículos que dirigirão sozinhos, com mínimas restrições de ambiente de funcionamento. As possibilidades são instigantes e quebrarão modelos tradicionais de negócio. As montadoras deixarão de ser vendedoras de peças e veículos para se tornar prestadoras de serviços. Quem irá se fidelizar com uma marca de veículos específica ou até mesmo comprar um carro quando os veículos autônomos estiverem presentes e o “car sharing” implementado? Se o interesse é ir do ponto A ao B da forma mais barata, não importa se o carro é do fabricante X ou Y; importa apenas que você chegue com baixo custo. Nesse cenário, como as montadoras vão se diferenciar se o serviço de transporte será uma commodity e a noção de “car ownership” virada de cabeça para baixo? Pesquisas mostram que jovens estão, ano após ano, perdendo interesse em aprender a dirigir e comprar carros. Como engajar clientes e fidelizá-los nesse novo cenário?
Para as seguradoras, o cenário não é menos complexo. Nesse novo mundo, o conceito de seguros muda totalmente. Se um carro autônomo colidir, quem será o culpado se não há motorista? Montadora ou infraestrutura? Quem é o segurado? Passageiro ou veículo? São perguntas ainda sem respostas, mas que certamente abrirão possibilidades para ideias, inovações e novos modelos de negócio.
Assim como o Uber desafia os modelos tradicionais de transporte, o carro autônomo terá forte impacto sobre vários aspectos de nossa vida. A CEABS já trabalha dentro desse contexto de integração e extração de valor agregado de toda cadeia de valor do carro conectado, colocando à disposição de clientes, transportadoras, frotistas, embarcadores, montadoras e seguradoras soluções de telemática e conectividade, acelerando a criação e habilitação de produtos e serviços nesse novo mercado.
As pessoas podem até não saber, mas já marcaram um encontro com o carro do futuro.
Sobre o autor
Gustavo Muller, diretor de Tecnologia da Informação da CEABS, empresa do grupo Europ Assistance