Ultima atualização 09 de fevereiro

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Seguro para coleções e obras de arte: um mercado movido a paixão

Conheça o mercado de seguros para objetos e obras de arte, que protege instituições, galerias e também aqueles que fazem das coleções um hobby

Artes coleções

Muitos pensam que apenas coleções de obras de arte famosas podem contar com o seguro, mas isso não é verdade. Os museus, galerias e instituições podem proteger suas peças tanto quanto um colecionador particular pode fazer o seguro do que, para alguns, é um hobby, mas para outros é uma paixão.

Para saber um pouco mais como funciona o mercado de seguro de obras de arte e coleções, a Revista Apólice conversou com Christiane Fischer, CEO da AXA Art Américas. “Carregamos a arte em nosso nome, mas fazemos seguros para além das pinturas e esculturas. Nós seguramos, basicamente, tudo aquilo que pode ser colecionado”, afirmou a executiva. Na carteira de arte da companhia há moedas, selos, memorabilias esportivas, coleções de grandes times de esportes e até mesmo algumas bengalas. O negócio é mundial e chegou ao Brasil há quatro anos.

Como funciona o mercado

Por aqui ou em qualquer outro lugar, os negócios são bastante similares. As coberturas das coleções, em geral,

Christiane Fischer
Christiane Fischer

são apólices all risk, com exclusões são mínimas e bastante específicas para cada lugar. “Terrorismo, por exemplo, é um risco excluído aqui e não é em outras partes do mundo; mas também existem algumas exclusões que são globais, como a confiscação das obras pelo governo, por exemplo”, explica Christiane.

Em termos de sinistros também há peculiaridades. Nos EUA ou no México, por exemplo, há muita ocorrência de terremotos, furacões, tempestades etc e essas são grandes fontes dos danos causados às obras e por lá são contratações essenciais, diferente do Brasil, onde esses fenômenos não acontecem. Mesmo assim, o momento de alerta máximo fica por conta do transporte dessas peças, quando elas são levadas para exposições ou voltam para seus donos. Esse é, de fato, o momento no qual a maioria dos sinistros ocorre, pois elas estão mais vulneráveis.

“Nós temos sorte, porque os roubos não são uma grande preocupação, na verdade. Muito porque as casas de pessoas que colecionam essas obras, assim como as instituições, galerias e os museus são muito bem protegidos. Há também o fato de que as artes não sendo muito visadas para roubo porque é algo muito difícil de revender”, conta a especialista. Inclusive, há um banco de dados mundial onde as obras de artes roubadas ficam cadastradas, facilitando a identificação de uma tentativa de venda que não parta do proprietário.

As falsificações podem acontecer, mas também são raras. Como a companhia possui muitos especialistas, é difícil que alguém surja com uma obra falsa e passe despercebido, mas Christiane não nega que é possível que isso aconteça e que, provavelmente, peças falsas já podem ter sido seguradas em meio a uma grande coleção. “Não conseguimos ser tão precisos em cada obra, individualmente. Então, pode acontecer. Mas tentamos ser muito cuidadosos e procurar pelo histórico da peça, saber com quais tipos de galerias o colecionador trabalha, se ele tem referências etc”, conta sobre o gerenciamento de riscos do mercado. Já os sinistros por perda e roubo que acabam sendo fraudes são mais difíceis de detectar, pois é muito difícil dizer, com precisão, se o colecionador realmente foi roubado ou perdeu, de fato, a peça de sua coleção.

O seguro é importante porque ele parte, geralmente, de quem o coleciona. Muitos museus no Brasil, por exemplo, não fazem um seguro para o acervo que possuem, mas fazem para suas mostras e exibições. Isso porque elas vêm de outras localidades sujeitas a uma série de fatores garantidos pelo seguro.

O preço é pelo todo. A companhia não trabalha com cada peça separadamente e fica atenta às condições gerais, como se a coleção é muito frágil ou muito antiga, daí se tira a precificação do seguro. Para serem seguradas, as coleções precisam ser avaliadas em, no mínimo, R$ 350 mil. Sobre o valor máximo, como brinca Christiane, “o céu é o limite”.

De maneira geral, o valor é ligado a quanto o colecionador pagou pela peça. Se ela foi comprada por R$ 1 milhão, o seguro será feita por esse valor, sempre respeitando as alterações de mercado, as valorizações que as peças têm ao longo dos anos. É o chamado valor atual de mercado. Para essa avaliação, a AXA Art conta com colaboradores internos especializados que vão até essas coleções e dão o preço final. Quando uma coleção chega à companhia, especialistas estão a postos para reconhecer e precificar as obras e objetos – 60% dos colaboradores desse nicho têm experiência no mercado de arte. “É muito mais fácil você trabalhar com alguém que já conhece a arte e ensiná-lo a técnica, do que fazer um técnico entender a arte”, comenta.

Caso uma nova peça chegue à coleção, ela está automaticamente segurada, pois há um valor extra de 25% da cobertura para elas. Então, o segurado pode adquirir novos objetos, tendo até 60 dias para informar a seguradora e ela fazer a adição e o aumento dos valores da apólice.

Corretores de arte

Por ser um mercado especializado, assim também são os corretores. São eles que levam os negócios novos à companhia. Por isso, Christiane conta que as visitas e o relacionamento com esses profissionais é bastante próximo e constante e, embora seja preciso apreciar e aprender como o nicho funciona, qualquer corretor pode trabalhar com seguro para obras de arte. “Eu diria que as instituições, galerias, sim, procuram corretores já especializados, mas muitos colecionadores privados recorrem aos corretores que eles já conhecem, com quem fazem seus seguros de automóvel, residência, vida etc, para fazer o seguro de obras de arte”, conta a executiva.

Sendo assim, não há motivos para ficar intimidado só porque o mercado parece algo complexo e distante. É trabalho da seguradora treinar, preparar e ensinar os corretores que querem investir nesse nicho e é ela que conta com os experts que são capazes de tirar as dúvidas e explicar coberturas e demais detalhes da apólice. A própria Christiane, vinda do mercado financeiro para o mundo de seguros e arte, aprendeu com o tempo, com as experiências. Ela afirma que trabalhar no mercado de arte tem muito mais a ver com sentir, ter intuição. A parte técnica, segundo ela, é mais fácil de aprender.

O mercado de arte no Brasil

Embora a chegada seja recente, Christiane diz que o mercado no País é promissor e que tem sido um ótimo ano para a companhia no desenvolvimento de sua reputação nesse nicho, construindo o relacionamento com corretores. “No começo, você quer ir devagar, ter a certeza de que está lidando com bons riscos”, afirma a executiva –  que começou sua exploração artística no Brasil por São Paulo e Rio de Janeiro, locais com mais demanda para o produto, mas que não descarta expandir a atuação para outras cidades como Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza.

Cada país com sua arte. No Brasil, a representante afirma ter encontrado boas coleções – como peças do século XX – e que já consegue reconhecer trabalhos de brasileiros, citando a artista carioca Fernanda Gomes como uma de suas preferidas. Há muitas peças seguradas dos anos 40,50 com referências modernistas, especialmente móveis no mercado brasileiro.

Essas coleções são montadas a base de paixão. Mesmo que os sejam investimentos, que possam se valorizar e valer uma fortuna em algum tempo, o que se percebe em comum no perfil dos colecionadores ao redor do mundo é que eles têm adoração pelos objetos que colecionam. Essa similaridade tem internacionalizado o mercado. Colecionadores de todas as partes do mundo compram peças de todas as partes do mundo. “É maravilhoso ver o crescimento dessa conexão internacional no mundo da arte”, comemora.

Mas nem o berço da civilização ocidental tira o posto dos EUA de maior mercado mundial de arte. 65% dos negócios da companhia nesse nicho estão lá, seguido por Alemanha e França. Os americanos, nesse mercado, são aproximadamente cinco vezes maiores do que todos os países da Europa juntos.

Comparado a isso, o mercado de arte no Brasil ainda é bastante pequeno, mas cresce. Pelo histórico de crescimento da AXA Art, é possível notar que esse aumento vem não só de migração de clientes de outras seguradoras, mas também de colecionadores que não tinham seguro e daqueles que começaram a reunir obras e objetos agora.

O nicho promete se tornar uma alternativa viável até mesmo para que corretores expandam sua atuação e ofereçam coberturas que muitos ainda desconhecem. Mas Christiane faz um alerta: para quem pretende priorizar a carreira dentro da indústria do seguro será difícil conciliar com outras carteiras, os corretores que entram para esse nicho também costumam se apaixonar.

Amanda Cruz
Revista Apólice

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