O cenário econômico brasileiro caminha para uma leve recuperação a partir de 2017, entretanto apenas entre 10 a 15 anos o País deve voltar a contar com o grau de investimento, pois as agências de rating levam em conta a relação dívida/PIB.
Este diagnóstico foi apresentado nesta manhã pelo economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, no evento Zurich Corporate Conference 2016, em São Paulo. “Por mais que fiquemos muito tempo no mercado financeiro olhando para a política, temos que lembrar que somos parte da economia global”.
O crescimento global está um pouco abaixo de 3%. Apesar do que acontece na China, os Estados Unidos serão a grande decepção econômica. Eles devem crescer apenas 1,5%, diferente dos 3% projetados. A taxa de desemprego é descendente, mas a taxa de juros não subiu conforme o esperado. Ao contrário do Brasil, a inflação americana continua baixa.
2016 é um ano de dólar fraco, perdendo terreno frente às outras moedas fortes, como euro e ien. “O fato é que estamos nos beneficiando do movimento global, principalmente com o mercado americano”, afirma Kawall.
A ideia nova é de que o mundo crescerá menos , porque está envelhecendo, e teremos que nos acostumar com taxas de crescimento econômico mais baixos, porque temos excesso de poupança frente à demanda de poupança.
No Brasil, esta situação é completamente diferente, mas somos beneficiados pelo cenário mundial. Em 2016, houve uma recuperação dos preços das commodities, que beneficiou as moedas dos países emergentes.
O Brasil deverá ter o pior desempenho do G-20, em uma crise econômica sem precedentes. O desempenho brasileiro no biênio 2015/2016 é o pior desde que foi criada a base estatística, com queda do PIB de 7,2%. Este desempenho se verifica em países em guerra. “Isto mostra que a situação é muito grave”, ressaltou Kawall.
Na medição do PIB trimestral, houve a sexta queda consecutiva.
A recuperação deverá ser lenta em função do crédito e contração e elevação do desemprego. O PIB deverá contrair-se em 3% este ano. A produção industrial do Brasil não cresceu nos últimos oito anos. O desemprego chegou a 11,3% em 2016, podendo chegar a 12 ou 13% em 2017, porque ele continua a se deteriorar mesmo quando as empresas começam seu ciclo de recuperação. Pelos dados do CAGED, em 2015 houve redução líquida de 1,6 milhão de empregos formais. Até julho deste ano, o saldo é de -664 mil vagas.
A situação das famílias brasileiras também não é das mais favoráveis. O comprometimento da renda tem se mantido elevado em função da queda do rendimento real. Apenas com dívidas bancárias, as famílias brasileiras tem em 25% da sua renda comprometida com dívidas bancárias.
Um dos maiores vilões da crise econômica é o crescimento do déficit primário, pelo terceiro ano consecutivo. O problema é de natureza estrutural, pois gastos obrigatórios correspondem a 88,9% das receitas líquidas da União, engessando o orçamento e dificultando o ajuste fiscal frente à queda do produto potencial e crescimento mais lento das receitas. As despesas crescem num ritmo de 6% real ao ano.
“O Brasil não cabe mais dentro da sua própria constituição. Não há como arcar com o peso crescente das despesas obrigatórias. As projeções futuras dependem das reformas que precisam ser feitas na previdência, por exemplo”, avaliou Kawall.
Agenda
A agenda dos próximos 12 meses, que se fecha no final de 2017 por conta das eleições presidenciais, conta com importantes medidas, como a proposta da PEC 241, que trata da limitação dos gastos, a reforma da previdência devera ser enviada proximamente e a reforma trabalhista.
Para Kawall, “estas três já estariam de bom tamanho, mas a reforma tributária e a política também são importantes. Mas a abertura comercial é crucial para que o Brasil ganhe e abandone esta ideia de criar barreiras para alguns setores, o que acba acobertando a ineficiência de alguns setores”.
Kelly Lubiato, do Guarujá/SP
Revista Apólice