Organizadores de festivais de rock e conferências na América Latina, ou eventos paralelos às Olimpíadas no Rio de Janeiro, devem ficar atentos: se ainda precisam de cobertura para cancelamentos que podem ocorrer devido ao Zika Vírus é, provavelmente, tarde demais.
O Comitê Olímpico Internacional não deverá ter problemas, já que contratou o seguro de cancelamentos para os jogos de agosto no Brasil há anos, muito antes da epidemia se espalhar do País para o resto das Américas. Qualquer outro organizador que se preparou cedo deverá estar a salvo. “As apólices existentes não são afetadas e a cobertura está garantida”, afirmou Gary Flynn, da corretora de seguros JLT Specialty.
Mas os responsáveis por eventos que ainda estão procurando proteção encontram agora cláusulas que bloqueiam qualquer sinistro que venha a ter o vírus como causa. Por isso, é possível que tenham seus eventos cancelados devido ao Zika. “Seguradoras começaram a excluir esse perigo de qualquer uma de suas apólices de cancelamento para eventos na área afetada“, conta Flynn, que, na JLT, é líder das práticas para federações esportivas.
Seguradores dizem que ainda não há nenhuma notícia de algum evento que tenha sido cancelado por esse fator, mas os subscritores das companhias não querem assumir o risco do possível impacto que isso poderia causar em seus patrocinadores ou operadoras de saúde.
Muito sobre o Zika continua desconhecido e a ligação com a microcefalia em bebês ainda precisa ser provada. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde alertou mulheres grávidas para que não viajem para áreas afetadas pelo surto, devido ao potencial risco que a doença representa para a gestação.
Algumas organizações e países foram além. Os Estados Unidos disseram às federações esportivas que atletas e equipes que estiverem preocupados com sua saúde devem considerar não participar das Olimpíadas de 2016.
Comitê preparado
O comitê olímpico informou que contratou o seguro de cancelamento no valor de, aproximadamente, US$ 800 milhões para as Olimpíadas, por um prêmio de cerca de US$ 13 milhões.
Cobertura para eventos tão grandes são compradas, pelo menos, cinco anos antes do acontecimento, de acordo com o subscritor. Mas patrocinadores, donos de hotéis e bares ou pessoas que organizam grandes maratonas ao ar livre e precisam de seguro em vias públicas por onde a corrida passa, podem ainda não ter comprado o seguro.
A Copa do Mundo de Futebol em 2014, no Brasil, teve uma cobertura para cancelamento, incluindo direitos de televisão e patrocínio, estimada em US$ 1,25 bilhão, de acordo com a Beazley Plc. Outra cobertura complementar, para hotéis, adicionou cerca de US$ 600 milhões a essa conta.
Como a América do Sul é um destino popular para bandas e artistas internacionais, grandes shows estão entre os eventos em países afetados que enfrentam exclusão de clausulas relacionadas ao Zika, assim como feiras exposições e conferências. Teoricamente, a cobertura poderia continuar disponível para contratação, mas os seguradores dizem que os clientes teriam que pagar um prêmio “significante” – no sentido de que o custo provavelmente seria um impeditivo.
Risco Transmissível?
O Lloyds, especialista mundial em seguros como os de cancelamento de eventos ou contingência, divulgou que a o plano de contingência no Reino Unido vale de 150 a 200 milhões de libras em prêmios, de acordo com a JLT, com exposição a bilhões de dólares de perdas.
Alan Norris, líder de contingência na Talbot Underwriting, afirmou que lá os subscritores ficaram preocupados com doenças transmissíveis depois de da epidemia de febre aftosa, em 2001, na Grã-Bretanha. Como a doença se espalhou rápido, as pessoas foram desencorajadas a visitar a região rural, levando ao cancelamento de muitos eventos, o que teve um forte impacto ruim, particularmente no turismo.
O resultado dessas apólices de contingência, normalmente contém uma gama de exclusão para doenças transmissíveis – aquelas que podem ser espalhadas entre as pessoas ou transmitidas de animais para humanos. Esse é o único elemento de dúvida para os que já estão segurados: a definição do Zika.
Seguradores estão divididos se o vírus que é transmitido por mosquitos pode também ser classificado como uma ameaça de doença transmissível, essas dúvidas explicam a necessidade de separação das cláusulas específicas para o Zika. “Eu, pessoalmente, sempre enxerguei como uma doença transmissível, apesar de algumas formulações referentes a organismos patogênicos ou outras características que não se encaixam nesse vírus”, afirmou uma fonte.
Como sempre, tudo no final dependerá das particularidades de cada apólice. E seguradores dizem que, mesmo que apólices de algumas companhias cubram cancelamentos causados pelo Zika Vírus, esse aspecto deveria estar fora do controle do organizador para se encaixar na cobertura. “Precisa ser um cancelamento necessário”, afirmou Elizabeth Seeger, subscritora de contingência na Hiscox. “O organizador segurado não pode, simplesmente, querer parar o evento”, concluiu.
Fonte: Reuters
A.C.
Revista Apólice
