Na atual crise política e econômica, o mercado deve se reestruturar para a retomada. É o que aponta Edson Franco, presidente da FenaPrevi. “Não conseguimos dizer quanto tempo essa crise ainda vai durar porque ela depende basicamente de uma saída política. Mas nosso dever agora é estarmos preparados e com os fundamentos adequados para aproveitar essa retomada, que, na minha opinião, virá com muita força”, disse o executivo. Franco foi o convidado do almoço do Clube Vida em Grupo de São Paulo (CVG-SP) realizado ontem (16) em São Paulo, evento no qual discursou pela primeira vez como presidente da FenaPrevi.
Ainda sobre o ambiente de longo prazo, o executivo enfatizou alguns contextos. Como, por exemplo, o fato de o Brasil ser um país jovem e ainda vivenciar o famoso momento de donos demográficos, mas ao mesmo tempo ter um gasto bastante elevado. Se a renda per capita da população aumentou ao longo das últimas duas décadas, os gastos com a saúde aumentaram em proporção ainda maior. Segundo Franco, o crescimento da longevidade, o envelhecimento da população, a queda do nível de natalidade e o aumento dos gastos com saúde, combinados com o fato de que grande parte da população vive em um alto nível de informalidade no emprego, fazem com que a maioria das pessoas não tenha nenhum tipo de cobertura securitária formal. O resultado disso é um enorme gap de proteção contra mortalidade.
“O gap de proteção de mortalidade, ou seja, o gap de cobertura de capital segurado que temos no Brasil, é da ordem de US$ 2,4 trilhões. Para toda a América Latina, são US$ 7 trilhões. O Brasil vem em primeiro lugar, seguido do México e da Argentina. Isso aqui também mostra o tamanho da oportunidade que nós temos. E, junto com tudo isso, o tema de previdência social que, de alguma forma, afeta a todos os nosso negócios tanto nos seguros de acumulação quanto nos seguros de proteção”, destacou Franco.
Dentro desses gastos, o mais preocupante são os gastos em proporção ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB). De 1998 a 2005, o nível de gasto saiu da ordem de 9% para 12% do PIB. “Ou seja, temos uma população muito mais jovem do que a população do Japão, por exemplo, e gastamos em relação ao PIB quase o dobro do que os japoneses gastam com seguridade social. Obviamente, essa é uma situação absolutamente insustentável”, afirmou o presidente da FenaPrevi.
Resultados e perspectivas
Franco também apresentou os resultados obtidos em 2015 pelo segmento de seguro de pessoas. No ano passado, o segmento de risco cresceu 7,3% ante uma alta de 16% no segmento de acumulação. O que se destacam, no entanto, são os produtos VGBL e o seguro individual, que no mesmo período cresceram 18% e 25,8%, respectivamente.
“Aqui temos diversas considerações. Nosso segmento é um segmento em que algumas linhas de negócios não devem ser analisadas de modo agregado, porque elas sentem o efeito da retração muito mais rápido. Um exemplo é o seguro prestamista, que sente o efeito da retração de forma absolutamente instantânea. Em janeiro desse ano comparado a janeiro do ano passado, a queda do seguro prestamista foi de 25%”, disse.
Em janeiro passado, o segmento de seguro total teve crescimento de 25% ante o mesmo período de 2014, seguro viagem teve alta de 25% em relação a 2014, e assistência funeral cresceu acima de 15%. Para Franco, ainda que algumas linhas de negócio tenham um efeito retardado do que acontece na economia atualmente, o mercado começará, especialmente a partir do segundo semestre, a sentir a retração. “Para os produtos de acumulação isso deve demorar um pouco mais a acontecer, porque a aversão ao consumo na verdade gera um maior nível de prudência das pessoas que, em um primeiro momento, pode se materializar em um maior nível de acumulação e de poupança”.
Lívia Sousa
Revista Apólice