Em dia de mudanças significativas para a política brasileira, com Lula aceitando o cargo de Ministro da Casa Civil, a Tokio Marine recebeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para uma palestra especial sobre o momento político e econômico brasileiro.
A expertise em Grandes Riscos foi mote para que a seguradora desses seus bons resultados, que ressaltam os motivos de otimismo do presidente da companhia, José Adalberto Ferrara. Se 2010 foi um dos melhores anos para o mercado segurador como um todo, a situação foi se agravando negativamente desde 2013. Isso não impediu que algumas empresas pudessem se destacar, a Tokio fechou 2015 em 7° no ranking do mercado de seguros. “Se janeiro representasse todo ano de 2016, a seguradora já seria a 4ª do ranking”, avaliou Ferrara. Para manter esse crescimento a seguradora resolveu traçar suas metas baseadas em dados internos, baseando seus próximos três anos de crescimento nos números apurados internamente. Com isso, estipulou crescer 50% no Brasil até 2017.
Para ajudar não só a própria empresa, mas o setor, simplificar o seguro e investir em mídia securitária para a cultura do seguro são metas para colaborar com o desenvolvimento. Efetivamente, ajudar corretores a desenvolver novos canais de distribuição e incluí-los em áreas que não são muito exploradas por eles também está nos planos e a Tokio deverá trazer novidades nesse sentido em breve. O microsseguro foi citado por Ferrara como uma oportunidade. “120 milhões de pessoas, nos últimos dez anos, entraram em produtos de microsseguros”, sinalizou.
Entre os compromissos assumidos para 2016 está alcançar o montante de R$ 4,3 bilhões em prêmios emitidos. Nesse sentido, a ampliação de atuação foi o núcleo da fala de Felipe Smith, diretor executivo de produtos PJ, que adiantou que esse ano a seguradora entrará nos ramos D&O e Agro. RC de obras, em riscos de engenharia, também entram nas apostas, assim como o RC geral que atingiu um market share de 11,9% em 2015. “Essa era a meta para 2017, portanto, adiantamos dois anos”, comemora Smith.
Mas para que o mercado continue vingando e nadando contra a maré, é preciso ter ciência do que está acontecendo nos bastidores políticos e econômicos. Fernando Henrique Cardoso, o convidado especial do evento, deu seu ponto de vista em uma palestra didática. O ex-presidente lembrou outros tempos difíceis, com o períodos de alta inflação, aos olhos de FHC o Brasil daquela época “pedia a abertura de mercado para que o País entrasse na globalização”, que era a tendência mundial.
Entre as tendências que vê agora, ele indicou as matrizes energéticas que devem ser reavaliadas. “Todos os países estão se preparando para essa transformação, enquanto o Brasil continua investindo no petróleo”, criticou. Para ele, a insistir em arcar essa exploração levou ao endividamento da Petrobrás, companhia que, segundo ele, “cedo ou tarde precisará ser capitalizada.
Seguindo a linha histórica, o ex-presidente citou a última crise mundial, causada pela bolha no mercado imobiliário dos EUA, ente 2008 e 2009. “Nós entendemos essa crise de maneira errada. Com isso, acabamos investindo em crédito público e consumo e esse tipo de investimento acaba por não ser reinvestido no setor produtivo”, apontou. Todos esses pontos levantados serviram para endossar a visão do ex-presidente sobre quais são as melhores saídas para o momento atual. “Esse País tem um potencial imenso, mas precisamos entender a dinâmica do mundo. País ainda não perdeu o bonde da história. Temos disponibilidade de gente e de terra, isso continua sendo vantagem, ressaltou.
A maneira como a intervenção do Estado é feita é algo que preocupa FHC, muito porque ele questiona a maneira como o presidencialismo a base de coalizão com partidos muito pequenos que agem por senso de oportunidade. “Os partidos perderam características de definição de valores. Querem vantagens e com isso condicionam o apoio ao governo”, pontua FHC mostrando a inviabilidade de governança sob essas condições. “A presidente atual perdeu a chance de fazer. Se houver mudança, será o vice-presidente capaz de governar? Se não for, cai”, afirmou, completando que quando a condição de governar está perdida inevitavelmente ocorrem mudanças, utilizando como exemplo um paralelo entre as trajetórias de João Goulart e Dilma. “A situação levou à fragmentação dos partidos. Não dá pra não mexer em questões fundamentais como a previdência, questão trabalhista”, opinou.
Durante o evento, a chegada da notícia de que Lula aceitou o cargo de Ministro da Casa Civil foi imediata e duramente criticada pelo ex-presidente FHC. Ele afirmava que 2018 seria uma meta razoável para a recuperação do país, mas que ter o ex-presidente Lula nesse cargo é um erro. “Casa Civil no Brasil é responsável pelo comando da máquina administrativa não é para fazer política. É preciso de alguém que cobre e diga não nos momentos necessários”, avaliou.
Sobre o mercado de seguros, o ex-presidente incentivou o setor e rechaçou a ideia de que esse é um mercado que deve recuar. “Em momento de incertezas o mercado de seguros é muito bom”, elogiou. Finalizando, foi otimista e reiterou confiança: “No momento de dificuldade é que temos mais capacidade de mudar. Se ocorrerá mudança dependerá das lideranças”.