“Transformando prestação de serviços em resultados” é o tema central do evento realizado pela Zurich e que reúne, no Guarujá, em São Paulo, 140 pessoas (executivos, corretores de seguros e clientes). O vice-presidente da companhia, Werner Stetler, disse que o tema do evento tira as pessoas da zona de conforto, porque abre a possibilidade de discutir de forma aberta maneiras de melhorar os serviços com quem os utiliza.
Paulo Rabelo de Castro, economista, falou sobre a grande preocupação de empresas globais com o cenário mundial. O Brasil, por sua dimensão continental, é virado para o próprio umbigo. “Somos um quadro muito grande e é difícil olhar para a própria moldura”.
Ele usou este exemplo para mostrar que a configuração comercial do Brasil está voltada para as commodities, o que acaba nos distanciando das cadeias globais. A retomada das supply chains vai se tornar crucial em 2015. Apesar do FMI projetar crescimento de 3,3% para o mundo, há fatores que podem refrear ainda mais este número.
O economista citou problemas na economia global que podem afetar diretamente o Brasil, como o caminho de recessão da Europa, e a recuperação frustrada do Japão, além do final do hiperciclo das commodities.
Outra recessão na Europa? Castro mostrou a queda do overnight dos bancos europeus mostra que a situação desde 2010 traz taxas próximas a 0,5%. Agora, esta taxa está próxima de 0, que mostra que ninguém está emprestando nada a ninguém. “Você poderia pegar dinheiro barato, mas não tem dinheiro”.
A recuperação das commodities aconteceu de forma espetacular. A crise que vai demandar maior eficiência vai voltar em 2015, mostrando como um dos sinais da crise futura a deterioração da moeda de países emergentes. Vale prestar atenção no que acontece com outros países emergentes, porque o movimento tende a ser geral, atingindo os países de forma distintas.
Como consequência, Castro cita o carregamento financeiro mais oneroso e a moeda dos emergentes tendendo à depreciação. O lado bom é a recuperação das margens da indústria e custo menor do frete internacional.
O desafio político é muito grande e a conta corrente brasileira está bastante pressionada. Os gastos públicos crescem muito acima da capacidade de financiamento do País, o que causa o foco inflacionário resistente. “Damos o remédio amargo da taxa de juros alta para o setor privado, quando o setor público continua com altos gastos”, avisou o economista.
O freio financeiro prejudica demais as perspectivas financeiras brasileiras. O varejo perdeu o fôlego, com a indústria fragilizada e sem financiamento externo, que fica mais caro. “A festa está acabando, com o crédito entrando em proporção menor. Apesar dele ter alcançado seu maior patamar, agora é pressionado pela alta taxa de juros”. Os recursos livres, de bancos privados, estão em ligeira queda, em torno de 30% do PIB, ante 26% de recursos direcionados, de bancos públicos.
O último ensaio de euforia do varejo foi em 2013 com a retirada do IPI dos produtos de linha branca. Em 2014, houve uma diminuição do ritmo de crescimento, alcançando cerca de 2% no final do ano. “O consumidor ainda não sentiu o ‘beliscão’ do cobrador que ele não conseguiu pagar”, brincou Castro.
O problema provém do próprio Governo, que gasta demais e constrange o setor privado a pagar a sua conta. Pior do que o gasto demasiado (se ainda fosse para obras de infraestrutura) ele é estéril, com 60 milhões de contracheques por mês (30 milhões de aposentados, 15 milhões de bolsas-família, 2 milhões de servidores ativos e inativos, 7 milhões de seguro-desemprego).
“Estamos elegendo um síndico sem saber se ele vai varrer o prédio. Estamos diante de um drama político, nem tanto econômico. O Aécio está melhor em fundamentos e em sentimentos do mercado. Mas acho que o movimento do PT caso vença, será de melhorar os fundamentos para então reverter o sentimento para positivo. Com o Aécio, o sentimento positivo será elevado assim como os fundamentos da economia”, previu.
O Brasil não é um País entregue ao ilusionismo político. O Brasil tem todas as chances de dar a volta por cima. Só precisa de lideranças políticas que tenham vocação para mudar a forma de pensar. Um novo modelo passa pela simplificação fiscal, pela contenção dos gastos correntes e pela capitalização popular.
Kelly Lubiato, do Guarujá/SP
Revista Apólice