Hoje, no Brasil, não há um seguro específico que cubra os prejuízos resultantes de falhas na cadeia de suprimentos das empresas. A cobertura disponível no mercado está ligada ao seguro de riscos patrimoniais e é considerada “acessória”. Para que seja acionada, depende da ocorrência de algum dano material na planta do fornecedor. E considera apenas problemas ocorridos com fornecedores diretos.
Em outros países, no entanto, já existe um seguro desenhado especificamente para atender essa questão e não precisa responder às exigências citadas acima. O seguro, desenvolvido pela Zurich no exterior e nomeado ‘Supply Chain Insurance’, não está vinculado a nenhum outro produto e cobre todos os riscos, com exceção dos especificados na apólice. Ele foi apresentado na Zurich Conference Corporate, evento direcionado a corretores e clientes corporativos realizado pela companhia nesta quarta-feira, 12, no Guarujá (SP).
O seguro deve chegar ao Brasil no próximo ano, uma vez que o clausulado precisa ser traduzido e adaptado para a legislação brasileira e, posteriormente, aprovado pela Susep. “Já lançamos o conceito. A previsão para trazer o produto para cá é 2014. É um produto específico para clientes de grandes riscos, como siderúrgicas, montadoras, fábricas de papel e celulose, de móveis e de componentes eletroeletrônicos etc.”, explicou Octávio Luiz Bromatti, diretor de Property e Liability da Zurich.
Conforme dados do BCI (Business Continuity Institute), parceiro da Zurich na análise de riscos nas cadeias de suprimentos, em 2012, 73% das empresas pesquisadas tiveram problemas na cadeia de suprimentos. Dessas, 50% já haviam passado por mais de uma ruptura e 40% das empresas não conseguem resolver os problemas causados pelas rupturas e param de produzir.
Segundo a apresentação de Linda Conrad (foto), especialista em riscos na cadeia de suprimentos (“supply chain”, em inglês), que a Zurich trouxe de fora, entre as principais causas de falhas na cadeia estão fatores geopolíticos, sociais e comerciais. A falta de infraestrutura (como fornecimento de água, energia e TI) é outro problema sério, que o Brasil está enfrentando – apesar dos investimentos em melhorias. “No ano passado, 50% das interrupções nas cadeias de suprimentos foram devido a problemas com TI”, comentou Linda. A falta de mão de obra é também um fator problemático. “50% das pessoas que trabalham em fábricas na China vão para casa para celebrar o ‘ano novo chinês’ e não voltam para trabalhar”, exemplificou a especialista.
América Latina
Na América Latina, as principais causas de rupturas na cadeia de suprimentos ocorrem devido a falta de mão de obra, apontou Lisa. Outro dos propulsores para a ruptura da cadeia de suprimento é o roubo de cargas, risco cada vez maior. “No Brasil, na Argentina e na Venezuela geralmente há muito sequestro. Gangues levam tanto o motorista, quanto o caminhão e a carga. Gera uma violência e é um risco para o funcionário, colaborando para a escassez da mão da obra”, refletiu a especialista.
No ano passado, roubos de cargas geraram perdas de R$ 450 milhões na economia brasileira. 70% dos roubos de carga foram registrados em São Paulo e n Rio de Janeiro.
Linda contou que a modelagem de interrupção de negócios feita pela Zurich apontou que o prejuízo gerado por falhas na cadeia de suprimentos é, geralmente, dez vezes o impacto calculado pelo fornecedor.
Para evitar e mitigar esses riscos, a companhia mapeia também os fornecedores de itens para a produção e para distribuição dos artigos já prontos. “Se a distribuição é por um único lugar, é preciso ter proteção ali também, pois se há problema com esse distribuidor, a mercadoria não chegará ao cliente”, raciocinou.
Os fornecedores indiretos também são mapeados. Afinal, segundo análise do BCI, 40% das rupturas na cadeia de suprimentos ocorrem abaixo do nível um de fornecedor – ou seja, de fornecedores indiretos.
“Esse seguro é voltado principalmente para empresas que dependem de muitos fornecedores. É o mercado que vislumbramos. A nossa estratégia é mostrar para o mercado esses novos riscos e que as empresas estão vulneráveis. Mostrar que o mundo está mudando e a tecnologia é dinâmica e, assim como traz benefícios, também traz riscos”, finalizou Bromatti.
Jamille Niero/Revista Apólice