O mercado de seguros de grandes riscos corporativos está em alerta. Com o movimento esperado de enormes investimentos em eventos como Copa do Mundo e Olimpíada, aliado aos projetos para exploração do pré-sal e à expectativa de que a segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) saia de intenção política para a forma de obras reais, o setor espera um boom de crescimento e o fechamento de apólices milionárias nos próximos anos.
Com uma fatia estimada em torno de 10,5% do total do mercado de seguros no país, o segmento de grandes riscos trabalha pesado na preparação de equipes e prospecção de negócios neste momento. E obras como a hidrelétrica de Belo Monte, com investimentos previstos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em R$ 19 bilhões, são apenas um exemplo de foco em que todas as empresas consultadas pelo Brasil Econômico estão de olho.
Segundo dados consolidados pelo membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP), economista Luiz Roberto Castiglione, com base em números da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o segmento de grandes riscos movimentou R$ 4,9 bilhões em prêmios no ano de 2009, alta de 16,5 %em relação a 2008. “O mercado geral de seguros deve crescer em torno de 12% ao ano até 2014, e os grandes riscos é que vão dar forte impulso a esse crescimento”, diz Castiglione.”Se tomarmos somente a área de construção civil, os seguros de grandes riscos devem crescer a taxas de 30% ao ano até 2014″, observa.
Líder brasileira no segmento, com cerca de 20% de marketshare, a Itaú Unibanco Seguros atua com apólices de garantia, responsabilidade civil, riscos de engenharia, de transportes e riscos operacionais, entre outras modalidades. “Acreditamos que o risco de engenharia e o seguro de garantia vão crescer muito agora, pois se olharmos apenas para Copa, Olimpíadas e PAC 2 haverá grande quantidade de obras em estádios, hotéis, estradas, portos, aeroportos e geração de energia”, aponta o diretor de produtos pessoa jurídica do banco, Antonio Trindade, que projeta um crescimento de entre 10% e 15% para grandes riscos em 2010.
Apenas em seguros, a Itaú Unibanco faturou R$ 6 bilhões em prêmios em 2009, sendo R$ 1,3 bilhão em prêmios de grandes riscos. Trindade concorda que o segmento tem margem de rentabilidade menor em relação aos seguros massificados, trabalha com equipe mais especializada e tem estrutura mais complexa, mas vê a área como estratégica.
A Bradesco Auto/RE faturou em 2009 R$ 780 milhões em prêmios na carteira de grandes riscos corporativos – cerca de 8% do total da carteira, que engloba também a área de automóveis – e nega rumores do mercado sobre uma possível saída do segmento. “A Bradesco Auto/RE jamais declarou que pretende sair dos grandes riscos.A área é importante dentro de uma estratégia multilinhas de atuação do Bradesco.O que aconteceu foi apenas maior seletividade, em função de uma crise de crédito internacional que afetou a todos”, explica o diretor-gerente da Bradesco Auto/RE, Carlos Eduardo Corrêia do Lago.
Reforma do Mineirão
Assim como a Itaú Unibanco, a Bradesco Auto/Re faz um trabalho junto a empresas que já são clientes e busca o know-how internacional para estar pronta quando os projetos nacionais se concretizarem. “Temos nos reunido com resseguradores e parceiros participantes dos seguros de riscos na Copa da África do Sul, assim como da Olimpíada de Londres, em 2012, para que nossos colaboradores trabalhem em projetos ´tailor-made` para o mercado brasileiro”, afirma Lago.
A Allianz Seguros, empresa de capital alemão que atua no seguro e no resseguro através da AGCS, já tem apólices de risco de engenharia nas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira, e na reforma do estádio Governador Magalhães Pinto (conhecido como Mineirão, em Belo Horizonte) para a Copa de 2014-o pacote de obras do estádio é estimado em R$ 8,2 milhões. “Oknow-howda equipe é mantido através do treinamento em polos de excelência que temos em áreas como mineração, na Austrália, e hidrelétricas, na Holanda”, diz o diretor de grandes riscos da Allianz Seguros, Angelo Colombo.Segundo o executivo, a área de grandes riscos corresponde a 35% de todo o portfólio da Allianz no Brasil.
Na LIU Surety, divisão de grandes riscos da Liberty Seguros, a experiência in-ternacional também dá respaldo aos projetos locais.Um exemplo é a Olimpíada de Londres, em 2012, que tem a LIU por trás de mais de 20 apólices de seguro garantia.
“Quando o Rio foi escolhido para sediar a Olimpíada, eu estava em Londres. Imediatamente sentamos com a equipe de lá para discutir os possíveis projetos aqui no Brasil”, conta o diretor da LIU Surety,Virgil Antonio de Souza.
A Zurich Brasil Seguros não foge à regra e também quer entrar nos grandes projetos de preparação de estádios para a Copa, obras de hidrelétricas, rodovias, saneamento, exploração do pré-sal e o que mais o potencial brasileiro permitir. “Já conseguimos o seguro de risco de engenharia da construção do metrô de Brasília, que faz parte dos projetos de infraestrutura da Copa, e trabalhamos neste momento em conjunto com as equipes da Zurich na Suíça e na Inglaterra para estarmos preparados assim que forem definidas as construtoras para as obras de estádios que ainda estão em fase de concorrência”, afirma o gerente de riscos de engenharia da Zurich Brasil Seguros, Fabio Silva.
O vice-presidente da Aon Risk Services, Marcelo Homburguer, observa que todo o mercado internacional está de olho no Brasil e no potencial de investimentos por aqui, mas é preciso ficar atento ao fato de que projetos previstos no PAC 2 podem não acontecer. O especialista ressalta o grau de complexidade do segmento. “O nicho de grandes riscos é muito especializado, precisa de boa gestão e para uma seguradora subscrever esse risco precisa de muita qualidade de informação. Mas o Brasil conta com os principais players globais e está preparado”, analisa.
Eva Rodrigues
Valor Econômico