Ultima atualização 19 de abril

Mitsui Seguros quer aumentar fatia no Brasil

Em um dos setores mais competitivos da economia brasileira, uma das maiores seguradoras japonesas faz planos para se manter firme em um mercado cada vez mais disputado por grandes bancos. Mas Hyung Mo Sung, vice-presidente da Mitsui Seguros, faz projeções otimistas para a atuação da seguradora nos próximos anos. No ano passado, a companhia conseguiu crescimento de 66% nos prêmios retidos, o equivalente a receita líquida para as empresas de outros setores. Depois de um ano tão positivo, Mo Sung acredita que a empresa não vá parar por aí. “Temos crescido em média 10% ao ano nos últimos 10 anos, e em 2010, acreditamos que podemos crescer mais 25%”, afirma.
Pela força que a Mitsui tem no Japão, Mo Sung se diz tranquilo quanto a posição da seguradora no Brasil, em um momento de consolidação do setor, com diversas parcerias firmadas principalmente entre grandes bancos e seguradoras. “Somos líderes no Japão e a quinta maior do mundo quando se exclui o seguro de vida”. Além disso, a Mitsui é o segundo maior acionista privado da Vale, com 15% de participação, atrás somente da Bradespar, braço de participação do Bradesco. Por isso, Mo Sung aposta no crescimento orgânico da Mitsui no Brasil, sem a necessidade de fazer fusões ou aquisições.
E não é difícil entender esse otimismo do vice-presidente da Mitsui. O mercado de seguros do Brasil está em um momento muito bom. Segundo relatório divulgado no início deste mês pelo Banco Santander, o setor de seguros no Brasil deve crescer pelo menos 16%, e deve superar os R$ 100 bilhões em prêmios. Para os próximos anos, até 2014, o setor deve manter taxas de expansão de 15% ao ano. O crescimento deve ser puxado por vários fatores, como vendas crescentes de automóveis, queda no desemprego, crescimento do crédito, especialmente o imobiliário, e “explosão” do setor de construção civil.
Entre os vários segmentos de seguros, o Santander destaca o potencial de crescimento das apólices de saúde, que “podem crescer acima das expectativas”, dependendo do comportamento do emprego. O banco avalia que o segmento deve apresentar expansão no mínimo na mesma taxa que apresentou em 2009, de 11%. Para o seguro de vida, a previsão é que o segmento supere facilmente os 13% de crescimento de 2009%.
O Santander não vê espaço para maior consolidação no setor de seguros. A expectativa maior agora é com relação à SulAmérica. O grupo holandês ING, sócio da seguradora no País, já avisou no ano passado que quer sair do setor de seguros no mundo todo. Há também a expectativa do fim da parceria da SulAmérica com o Banco do Brasil na seguradora de saúde do banco.
Confira abaixo a entrevista de Hyung Mo Sung para o programa Panorama do Brasil, parceria do DCI com a emissora TVB e a rádio Nova Brasil FM, apresentado pelo jornalista Roberto Müller e que contou com a participação de Milton Paes, da Nova Brasil FM, e de Márcia Raposo, diretora de Redação do jornal DCI.

Roberto Müller: O seu grupo é, aparentemente, um dos mais sólidos do Japão. Qual o posicionamento aqui no Brasil?
No Brasil, depois do Bradesco, somos o segundo maior acionista privado da Vale, com 15%. É um posicionamento que consideramos muito importante e relevante.

Roberto Müller: E no setor de seguros, qual o posicionamento?
No Brasil temos uma taxa de crescimento em torno de 10% ao ano, nos últimos 10 anos. Dobramos nossa participação relativa nos últimos 15 anos. O setor chega perto de 3,5% do PIB nacional, considerando-se títulos de capitalização e previdência privada. Na década de 90, o número era 1,5% do PIB. A taxa de crescimento é muito forte. No Japão, a partir de abril, tomamos a liderança do mercado de seguros quando o grupo fez algumas fusões com outras seguradoras. Passamos para a quinta posição no setor de “seguro-não-de-vida” do mundo. O contexto histórico nosso é de muita solidez e de estabilidade. No Brasil, apresentamos um crescimento razoável e interessante. No ano passado, em termos de prêmios emitidos, o crescimento foi de 44%. No retido, crescemos 66%. O ano de 2009, para nós, foi um ano de crescimento expressivo. Em 2006, saímos de uma posição, dentro do segmento em que atuamos no Brasil, de 24º para 17º lugar.

Márcia Raposo: Então em 2009 o senhor não chegou a ouvir a palavra ‘crise’ na companhia, é isso? Quais são os números mesmo? O que puxou o crescimento na área?
No ano passado crescemos 44% nos prêmios emitidos, que são aqueles que consideramos a receita bruta. O importante é o montante líquido – o retido – cujo resultado foi de 66%. O que alavancou o crescimento foram duas áreas importantes: a de seguros contra incêndio, faixa que abocanha tanto pequenas, como médias e grandes empresas; e também crescemos na categoria automóveis. Foram esses os ramos que puxaram nosso crescimento.

Márcia Raposo: O que o senhor prevê para este ano? Tem fôlego para alcançar no mínimo o mesmo patamar?
Não, não, este ano será um pouco mais. Almejamos um crescimento de 25%.

Roberto Müller: O segmento em que a Mitsui atua é voltado apenas para empresas? Vocês não miram o varejo?
A companhia está estruturada em dois eixos: linha de produtos e canais de distribuição. Do ponto de vista de produtos temos a linha de ‘produtos massificados’, que são destinados tanto ao varejo como para operações de produtos customizados. No ramo ‘canal de distribuição’ temos o canal local, que é uma característica mais de varejo, temos o canal internacional, que geralmente é de grandes operações, e o de concessionário de automóveis. São três canais e duas linhas de produtos. O que diferencia é que atuamos com produtos massificados, mas uma pessoa jurídica pode ser atendida, basicamente em um produto como automóvel customizado. O que diferenciamos são características entre produto massificado e diferenciado. Por exemplo: um McDonald’s é um produto massificado, pronto para o consumo; já o customizado tem suas necessidades específicas para atender o cliente.

Márcia Raposo: O Brasil passa por uma consolidação no setor de serviços. Temos o fator abertura, que é um cenário que ajuda a raciocinar. Vocês estão na ponta de compra?
Existem dois fatores interessantes. Desde que chegamos ao Brasil tínhamos um modelo de posicionamento para 10 anos. Dentro do planejamento, tínhamos claro qual seria o posicionamento, pensando no crescimento orgânico e não pensando em fusões e aquisições. Não pensamos em comprar para crescer.

Milton Paes: A seguradora chegou quando ao Brasil, e com qual objetivo?
A seguradora está no Brasil desde 1972. Mantemos um pensamento típico de empresa japonesa. Outras empresas copiam este modelo. Várias empresas que chegaram no fim de 1970 ao Brasil já vinham seguradas, e a princípio viemos para atender estas empresas. Geralmente elas possuíam seguros no Japão, e quando se instalaram no Brasil demandaram o serviço.

Roberto Müller: Há quanto tempo o grupo existe no Japão?
O Brasil tem mais de 500 anos de descobrimento, mas como nação tem uns 200 anos. Acreditem: somos mais velhos que a nação brasileira. Temos 376 anos. Somos o segundo grupo mais antigo em atividade no mundo.

Márcia Raposo: Vocês resistiram a duas guerras mundiais, brincaram com a companhia… Então este crescimento de 66% reportado ao Japão não chega a ser um resultado que eles não esperam do senhor?
Acho, sim… vivemos realidades diferentes. O mercado japonês já está consolidado, assim como o americano. Logicamente estas taxas de crescimento não são comuns. O Brasil tem características que facilitam obter essas taxas de crescimento. Quando eles observam estas taxas de crescimento, a primeira reação é de espanto.

Márcia Raposo: Dentro do Japão, quando o senhor divulga os resultados, o senhor diz que vai passar de 20º para que lugar? Onde o senhor vislumbra que pode crescer, além dos pilares em que a empresa atua no Brasil?
Hoje, o Brasil é a quinta operação mundial, mas acredito chegar em 3º, em breve. No mercado como um todo, temos oportunidades quando olhamos as classes C e D. Já do ponto de vista da nossa empresa, temos a abertura de resseguro. Tínhamos questões que pessoas analisavam, como: quando houver abertura de capital os preços devem cair; haverá desordem no mercado, como o que aconteceu com a Argentina. Aqui não aconteceu nem uma coisa nem outra. A abertura foi bem ordenada e os operadores locais tinham uma reserva de mercado de 60% e os preços não caíram, tampouco houve desordem, como operadoras entrarem e saírem. Foi uma transição bem feita. Do ponto de vista de quebra do monopólio, entrou uma variável nova: o custo de crédito. Antes 50% pertenciam ao Tesouro, e o restante, ao mercado, não havia risco de crédito. Quem fazia o seguro não precisava saber quem era a resseguradora, se era privado ou se era o Estado. Com a abertura do mercado de recebíveis, isso acaba. Quando uma empresa faz o seguro, precisa saber quem é o segurador e o ressegurador. O segurador se responsabiliza por uma parte pequena de um grande risco; o restante está no ressegurador. Do ponto de vista legal, quem responde é o segurador, mas se a resseguradora não for solvente, a seguradora terá problemas. Temos dois aspectos: as seguradoras que não têm resseguradora própria precisam prestar atenção para quem está dando o dinheiro, pois ele e o segurado assumem o risco de crédito. Esse panorama trouxe uma situação diferente. Algumas seguradoras locais não queriam assumir o risco de crédito no mercado corporativo e as marcas de resseguro passaram a ser menos atuantes. É um segmento de grande oportunidade para nós.

Roberto Müller: O senhor havia dito que o seu grupo chegou ao Brasil porque existiam grupos já segurados no Japão pela sua empresa. Hoje a sua carteira de clientes preserva esta característica ou já existem empresas brasileiras e de outras nacionalidades no escopo?
Hoje as empresas locais já são majoritárias. Temos uma estratégia bem definida. No Japão, onde o mercado é consolidado, a taxa de crescimento é de até 2%. Dentro do cenário internacional, principalmente na questão do BRIC, temos representação na Índia, na China e escritório na Rússia. Somente neste contexto, não daria para crescer somente com empresas japonesas, por isso nos preparamos para atender o mercado local.

Márcia Raposo: O senhor afirmou que pretende crescer 25% em 2010. Pensando em mais longo prazo, o que o senhor espera reportar à matriz daqui a dois anos? Fora a meta de ser o terceiro maior mercado da companhia, quais os ramos que o senhor vai perseguir para aumentar a rentabilidade da empresa?
Vamos buscar o segmento de grandes indústrias, dado a nova realidade de investir em resseguros. Vamos buscar a carteira de transportes, a qual está estruturada, mas precisa de crescimento. Temos a carteira, ainda pequena, de riscos pessoais e de vida. A carteira de automóveis é uma que deve continuar a crescer e devemos dar um grande foco a ela. Queremos reportar daqui três anos um portfólio de produtos mais equilibrados. A carteira de automóvel é maior do que gostaríamos que ela fosse. Com mais equilíbrio, queremos apresentar mais rentabilidade.

Milton Paes: Como se configura o setor de transportes? Ele engloba os segmentos de aviação e transporte terrestre, por exemplo?
Se segmentássemos, veríamos que o primeiro mercado é o transporte internacional. As possibilidades são interessantes com a abertura cada vez maior do mercado. O segundo foco são os embarcadores próprios donos das mercadorias, e, por último, empresas de transporte rodoviário.

Márcia Raposo: É um mercado que está mais direcionado à importação ou à exportação? Há alguma tendência de olhar para o mercado asiático, como a China?
Mais para exportação, pois, geralmente, o importador já vem com o seguro embutido na compra. Basicamente não existe uma região específica, mas por causa das raízes culturais asiáticas podemos ter uma maior proximidade. Mas não é algo determinante.

Márcia Raposo: O senhor olha além dos benchmarks típicos? Quem o senhor gostaria de segurar que ainda não está no segmento mais típico?
É difícil pôr na lista uma única empresa. Acho que temos de pensar por que uma empresa nos escolheria para ser sua seguradora. Se fossemos dividir as seguradas em ramos como eficiência, portfólio de produtos e relacionamento, seria difícil alguma atingir todos os quesitos necessários. Quem teria um modelo operacional interessante? Para explicar, vou contar uma breve história. Quando era criança, tive uma educação, por parte de pai, muito rígida no tocante a disciplina e a educação. À véspera de uma prova estava nervoso, e tal. Tinha por volta de oito anos, e um amigo de dez me disse que eu poderia colar. Respondi: se meu pai deixar, posso colar. Meu amigo me disse que colar não é copiar, mas olhar a prova do vizinho, ver uma palavra-chave e desenvolver em cima. Mesmo que se escreva em um pedaço de papel, está-se estudando o assunto. Esse princípio, utilizamos. Não é menos nobre olhar a ideia de alguém: Deus nos deu olhos e ouvidos para isto; o que não pode é copiar. Se alguém faz alguma coisa boa, temos a obrigação de fazer melhor. Trabalhamos num conceito não muito comum no mercado de seguradoras, que é fazer um processo que não seja fácil vender. A primeira vez em que as pessoas se deparam com esse processo, agem de forma estranha. O que queremos é facilitar a compra: assim eu facilito a vida de quem faz negócio comigo. O processo operacional tem de enfocar quem vai comprar de mim. Por que vão me escolher como fornecedor? Porque meu sistema é mais fácil de trabalhar. A política de relacionamento foca em relacionamento de mais de 10 anos, fato raro no mercado brasileiro. Avisamos os investidores e segurados quais são os investimentos de curto, médio e longo prazo. Além disso, precisamos ter um bom produto, preço e sistema operacional. O que diferenciamos é o parcelamento de longo prazo. No longo prazo, é fundamental a confiança: ele me escolhe porque me conhece. Mas qual o valor da confiança? Parece coisa antiga, mas isso tem valor econômico, porque o cliente economiza tempo. Não será preciso discutir contrato e outros fatores. Muitas companhias não conseguem apresentar isto, porque os executivos não têm tempo para apresentar projetos de longo prazo.

DCI

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