Ultima atualização 26 de março

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Retomada dos contratos de grandes riscos

O pior da crise já passou e a oferta de seguro para grandes riscos começa a se normalizar. O único segmento que enfrenta alguma dificuldade é o de seguro garantia. Riscos de engenharia, riscos operacionais, de transporte ou de responsabilidade civil contam com boa capacidade e grande concorrência entre as seguradoras. Pelo menos é isso que 90% dos executivos afirmam. Há quem diga que os preços já apresentam queda de até 30% em alguns nichos para clientes sem histórico de perdas.
Uma prova é a renovação de três contratos de seguros da Petrobras, com valor em risco superior a US$ 90 bilhões. O contrato tem a liderança da Itaú Seguros, que numa atitude inovadora diante da falta de capacidade do setor, entrou na disputa com suas concorrentes Allianz e Mapfre. Em 2009, a petrolífera precisou prorrogar o programa de seguros de 2008 por não ter encontrado capacidade financeira a um preço adequado.
“Acredito que o preço final comparativamente ao risco segurado ficará abaixo do desembolsado no contrato anterior em razão da melhora do mercado internacional de resseguros”, diz Luiz Octavio, gerente de riscos da petrolífera, que tem rodado o mundo negociando contratos.
A CSN, que onde aparecia afugentava os seguradores e resseguradores em razão do difícil relacionamento por conta da divergência no valor de indenizações, prova que o apetite dos resseguradores está voltando. O seguro de riscos de engenharia da siderúrgica, responsável pela construção da Transnordestina, está fechado por algo próximo a R$ 11 milhões, para garantir o investimento de R$ 5 bilhões. Liderado pelo grupo Mapfre, o contrato conta com participação do grupo Liberty e tem resseguro liderado pela Munich Re.
O contrato mais importante negociado nesta semana envolve as garantias da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, com investimentos estimados em quase R$ 20 bilhões. “Estamos negociando as garantias há bastante tempo, mas nada poderia ser fechado antes de termos o edital na rua. Vamos correr para finalizar tudo”, diz Marcos Lima, que comanda a OCS, corretora de seguros do grupo Odebrecht, líder de um dos consórcios que vai concorrer no leilão do dia 20 de abril.
A crise financeira trouxe sérios problemas para os grandes contratos de seguros, que já enfrentavam uma situação de mudanças com a abertura do mercado de resseguros. Desde que o mercado deixou de ser monopólio, o IRB Brasil Re que por 69 anos teve de aceitar todos os riscos, ganhou a prerrogativa de negar contratos considerados “não rentáveis.”
Mesmo com mais de 75 resseguradores no Brasil nestes dois anos de abertura do setor, há clientes que ficam sem cobertura. Alguns em razão do histórico de acidentes não aceitam pagar o elevado preço cobrado. Outros enfrentam dificuldades em razão do grande volume de capacidade que necessitam. “A situação vem se normalizando. O mercado internacional conheceu mais de perto a situação dos riscos brasileiros”, diz Virgil Antonio de Souza, diretor de garantia da Liberty International Underwriters (LIU), divisão de grandes riscos da Liberty Mutual.
“Há contratos gigantescos em várias partes do mundo, principalmente na Índia, China e Brasil e isto faz com que os recursos se esgotem”, diz Ângelo Colombo, executivo da Allianz Seguros. A moda é fazer parcerias, operação conhecida como cosseguro, para disputar um segmento com potencial de crescer 15% em 2010. No ano passado, a área grandes riscos movimentou prêmios próximos a R$ 7,4 bilhões, sendo boa parte repassada para as resseguradoras.
Antonio Trindade, executivo de seguros corporativos no Itaú Unibanco, líder no Brasil com R$ 1,3 bilhão em prêmios, diz que está no páreo, desmentindo comentários de concorrentes de que com incorporação da Unibanco AIG pelo Itaú a seguradora estaria saindo de grandes riscos. “Pelo contrário. Aprendemos por quase 15 anos a operar grandes riscos com a AIG num mercado de resseguros fechado. Agora, com o mercado aberto, não precisamos mais de um sócio, pois contamos com cerca de 20 contratos negociados com os principais resseguradores do mundo que estão aqui no Brasil.”
A Bradesco voltou a competir em grandes riscos. “Tiramos o pé do acelerador para nos organizarmos. Agora já estamos prontos para atuar de forma competitiva nos riscos que nos interessam”, afirma Ricardo Saad, diretor-presidente da Bradesco Auto Re. Segundo ele, o grupo está mais seletivo e finalizando os contratos de resseguros depois de discussões com os resseguradores, sendo IRB e Munich Re os principais parceiros.
Otavio Bromatti, diretor de riscos industriais da Mapfre, diz que as seguradoras se mobilizaram para trazer capacidade financeira da matriz. A Mapfre tem US$ 100 milhões de capacidade para cada apólice de seguros de riscos de engenharia e riscos patrimoniais. “O apetite é grande. Mas para que as seguradoras possam aceitar o risco e oferecer coberturas competitivas, o comprador tem de ter informações e um corpo técnico reconhecido pelas seguradoras.”
Felipe Smith, diretor-técnico da Tokio Marine, está de olho no mercado de petróleo e gás. A expectativa é de que os investimentos atinjam R$ 295 bilhões entre 2010 e 2013. “Só para embarcações são R$ 18,2 bilhões do BNDES”, diz. Enquanto prepara a atuação do grupo em seguro garantia, a Tokio Marine conquista negócios de risco operacional. Fechou a apólice de seguros do grupo Schahin, prestador de serviços da Petrobras, para o seguro de seis equipamentos.
A Fairfax, comandada por Jacques Bergman, que deixou o Itaú Unibanco para comandar a operação do grupo canadense. Ele já contratou 34 pessoas e negociou, oito contratos de resseguro automático com as 26 maiores resseguradoras. “Nosso foco é ofertar soluções corporativas para empresas com faturamento acima de R$ 100 milhões por ano, em todas as linhas de negócios, exceto vida e automóvel.”

Denise Bueno
Valor Econômico

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