O mercado de previdência aberta voltou a crescer acima de 20% em 2009, superando as previsões traçadas no início do ano, ainda em meio à crise global. A arrecadação dos planos PGBL, VGBL e tradicionais atingiu R$ 38,7 bilhões, alta de 21,8%. O saldo das provisões técnicas, formadas pelos recursos acumulados pelos titulares dos planos, cresceu 24,45%, para R$ 176,6 bilhões.
“Depois de um começo de ano complicado, o setor conseguiu bater todos os recordes, o que mostra que o brasileiro está mais preocupado com a longevidade”, diz o presidente da Mapfre Seguros, Antonio Cássio dos Santos, que encerra o mandato à frente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). No seu lugar, assume Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros e Previdência.
Um dos destaques, segundo Santos, foi a conquista de 1,2 milhão de novos planos, elevando o total para 12,2 milhões. A expansão, aponta ele, atesta que a previdência é percebida não só como uma opção de poupança de longo prazo, mas como um instrumento de preservação de capital. Os benefícios fiscais de curto prazo e seus efeitos no longo prazo têm valorizado o produto, mesmo em relação a um fundo tradicional, diz.
Na Brasilprev, dos R$ 6,2 bilhões arrecadados em 2009, R$ 2,7 bilhões foram para planos com tabela regressiva de imposto, o que equivale a 43,5% do total. No ano anterior, esse número ficou em R$ 1,5 bilhão, ou 37,5% da arrecadação total (R$ 4 bilhões). “O investidor mostra que está mais maduro ao perceber as vantagens do modelo regulatório”, diz o presidente da Brasilprev, Tarcísio Godoy. Pela tabela regressiva, quanto maior o prazo, menor o imposto a pagar.
A previdência sofre mais quando a perspectiva de longo prazo é ruim, afirma o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo. Isso porque as pessoas ficam receosas de comprometer recursos por tanto tempo. Quando o ambiente é de estabilidade, como o atual, o investidor fica mais motivado a optar por instrumentos de longo prazo, dadas as vantagens fiscais, diz. Para este ano, sua expectativa é de que o setor repita o crescimento de 20%.
O bom desempenho dos fundos de previdência contribuiu para o crescimento em 2009, acredita Russo. “Os retornos polpudos animaram os investidores.” Nem a queda da bolsa em 2008 atrapalhou. Além de a parcela de renda variável ainda ser pequena na previdência, o investidor em ações conhece o mercado, explica o também vice-presidente da Fenaprevi.
A Brasilprev, além de investir em produtos como o Ciclo de Vida (que ajustam a parcela de ações ao longo do tempo), ampliou seu percentual em crédito privado em busca de mais retorno, conta Godoy. Hoje, dos R$ 27 bilhoes em ativos, R$ 6,2 bilhões estão em renda fixa privada e ações. Em 2007, do total de R$ 16 bilhões, apenas R$ 2 bilhões iam para o segmento.
Russo destaca ainda o movimento de maior segmentação dos planos, por faixa de renda e tipo de investimento. Para ele, essa é uma tendência que vai se acentuar este ano e só contribui para o desenvolvimento do mercado. “A segmentação traz mais clareza para o investidor sobre os planos e características, além de ajustar a oferta à demanda, ao público-alvo.”
Nessa linha, as classes de menor renda ganharam a atenção do setor, até em função do ganho de renda e aumento do emprego. “Essa é uma fatia da população que estamos mirando”, afirma Russo. Os aportes vêm caindo, com planos a partir de R$ 35.
Alessandra Belloto / Valor Econômico