Ultima atualização 05 de julho

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Os desafios do gerenciamento de riscos no mundo pós-pandemia

Apesar da dificuldade em prever a extensão dos danos decorrentes de alguns eventos, o gerenciamento de riscos deve analisar dados já obtidos por situações similares

O fator “doenças infecciosas” era considerado como a 10ª potencial ameaça à sociedade em termos de impacto, conforme indica o Global Risks Report 2020. Isso antes de março deste mesmo ano, quando o estado de pandemia foi decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde aquele momento, foi desafiador tentar prever quais seriam as principais consequências causadas pela Covid-19 na sociedade. Contudo, a extensão de riscos provocada por este histórico acontecimento evidenciou a importância de preparar-se para eventos que tenham potencial para causar prejuízos similares.

Gabriel Cruz

Para o setor de seguros, tornou-se cada vez mais determinante que o gerenciamento de riscos seja minunciosamente realizado, a fim de identificar e tratar as ameaças que possam desestabilizar a economia, garantindo assim a sustentabilidade financeira das partes envolvidas. Antes da pandemia, as preocupações de cunho geopolítico e econômico, tais quais conflitos entre potências, crise do mercado financeiro e desemprego, eram as principais ameaças constatadas por este relatório.

O Global Risks Report, elaborado anualmente pelo World Economic Forum, apresenta dois rankings através dos quais classificam-se os maiores riscos globais por probabilidade e impacto. Neste contexto, vale destacar que, apenas um ano depois, no relatório publicado em 2021, o item “doenças infecciosas” já figurava em 1º lugar no ranking de impacto, e, além disso, como a 4ª ameaça com maior probabilidade de ocorrência no mundo.

Em uma análise mais ampla, é possível verificar que, na última década, houve uma significativa ascensão de dois tipos de riscos: ambientais e tecnológicos. Anteriormente considerados como “emergentes”, hoje estes dois assuntos são protagonistas absolutos em termos de preocupação. Desde eventos climáticos extremos à possíveis cyberataques, a conjuntura atual contempla estes assuntos como potenciais ameaças da década, aliados à piora das consequências econômicas trazidas pela pandemia. Impactada por estes fatores, a gestão de riscos tende a ser adaptada a este novo panorama, e soluções aderentes à nova realidade para proteger a população tendem a ser buscadas com mais frequência.

Thamiris Bandeira

No mercado de seguros não é um desafio diferente, dado que historicamente existem segmentos tradicionais e com práticas consolidadas há décadas no portfólio das companhias. Sejam seguros corporativos ou massificados, estes campos mais “tradicionais” possuem uma vasta gama de profissionais com expertise para lidar com diferentes tipos de processos, seja na concepção da apólice, tratamento de dados pelo atuarial, na subscrição de riscos ou no gerenciamento de sinistros, por exemplo.

Fatores conhecidos possuem um vasto histórico, facilitando a análise das probabilidades e a mensuração de impactos. Em suma, nestes casos há maior facilidade em apresentar soluções aos clientes, consequentemente ajustar as demandas das seguradoras, tal como na contratação do resseguro. Por analogia, trabalhar em demandas não-convencionais torna-se uma tarefa complexa, devido à baixa disponibilidade de informações relacionadas.

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Constantemente autoridades governamentais e, mais especificamente, líderes envolvidos no mundo dos negócios, buscam avaliar a probabilidade da ocorrência de determinados eventos e mensurar os impactos à população mundial. Entretanto, o cenário atual comprova que o imprevisível é inerente às atividades econômicas, e que, por mais que haja preparo e planejamento em escala global, ocasionalmente riscos imprevistos provocarão perdas jamais mensuradas, que podem levar anos, quem sabe décadas, para retomada ao patamar anterior.

Thalles Nogueira

De forma concreta, podemos esperar para o futuro um aumento na incidência de ataques hackers a sistemas de informação, como os ocorridos no final do ano passado, que implicaram no vazamento dos dados pessoais de milhões de brasileiros. Em paralelo, a ocorrência de eventos climáticos extremos, tais quais incêndios florestais, tempestades e ondas de calor, são vistas de forma mais recorrente ao redor do mundo. Além disso, não é possível descartar o surgimento de um novo vírus que gere uma pandemia.

No que tange à gestão de sinistros, a ocorrência de eventos inesperados demanda esforços por novas ferramentas tecnológicas, que futuramente possibilitam a atualização dos padrões de regulação. O advento de atividades semipresenciais e o frequente uso de dispositivos operados de forma remota otimizaram os processos de análise de reclamações, priorizando o tempo, que é um recurso tão valioso.

Por fim, apesar da dificuldade em prever a extensão dos danos decorrentes destes eventos, o gerenciamento de riscos deve analisar os dados já obtidos por eventos similares ocorridos, a fim de obter embasamento suficiente para que o setor de seguros continue cumprindo sua missão de oferecer a capacidade de resiliência da economia global.

* Por Thalles Nogueira, coordenador de Sinistros; Thamiris Bandeira, analista de Sinistros; e Gabriel Cruz, analista de Sinistros da Austral Seguradora

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