Os EUA estão travando uma intensa batalha com a mãe natureza que certamente está fazendo sua fúria ser sentida. O país passou por duas recentes catástrofes com o furacão Harvey e o furacão Irma que causaram destruição nos estados do Texas, Louisiana e na Flórida.
No dia 27 de agosto, o furacão Harvey atingiu o Texas e a Louisiana no que foi chamada de “a mais economicamente devastadora catástrofe natural na história dos EUA”, de acordo com Howard Mills, líder global de regulação da Deloitte.
O país não deve descanso. Um pouco depois da dissipação do Harvey, no dia 2 de setembro, a tempestade tropical categoria 4, Irma, atingiu a Flórida e a intensidade do desastre, conforme era esperado, foi histórica, podendo ultrapassar sua antecessora como a catástrofe natural que mais causou perdas financeiras no país.
Portanto, a principal pergunta que tem sido feita no setor é: a indústria de seguros será capaz de arcar com duas catástrofes históricas em tão curto período de tempo?
A resposta, de acordo com Mills, é sim. A indústria de seguros está em uma posição muito forte para lidar com grandes catástrofes por ser “muito bem capitalizada” e ter tido tempo de se recuperar e reconstruir seu capital desde o grande furacão Sandy.
“Os furacões Harvey e Irma são eventos muito significativos e as perdas certamente serão gigantescas”, afirmou Mills; “Porém, a indústria de seguros é muito bem capitalizada e bem posicionada para suportar essas tempestades. Não vejo nenhum problema relacionado à habilidade da indústria em absorver essas perdas”, colocou.
O executivo complementou ainda dizendo que “graças ao regime regulatório nos EUA, os órgãos responsáveis exigem um capital para catástrofes. Eles anteviram eventos significativos, como essas tempestades, para que o capital necessário estivesse disponível. Não tenho nenhuma dúvida de que a indústria de seguros terá uma rápida, massiva e útil resposta a esses acontecimentos”, disse.
Quanto ao furacão Harvey, os danos econômicos deverão ser maiores do que as perdas seguradas por conta de uma grave lacuna de proteção no que diz respeitos às coberturas. A quantidade de pessoas não seguradas ou sub-seguradas no Texas e que tiveram suas vidas inteiras destruídas é uma das grandes tragédias da tempestade, conforme ressaltou Mills.
“As pessoas não entendem que as apólices residenciais básicas não cobrem enchentes”, comentou o executivo da Deloitte. “A aquisição do seguro contra enchentes no Programa Nacional de Seguros para Enchentes é acessível e já está disponível, mas as pessoas simplesmente acreditam que um evento dessa magnitude não vai acontecer com elas. Isso faz com que a venda de coberturas adicionais seja muito difícil. É um problema que nós temos lutado há anos para resolver” lamentou.
Poder público
Para ele, isso tem a ver com a crença da população de que o poder público vai regatá-los. Haverá um grandioso esforço para haver recuperação após o Harvey no Texas, mas esse dinheiro irá principalmente para infraestrutura pública. Se uma pessoa não tem nenhum tipo de seguro, o governo fornecerá alguma assistência, mas não poderá reconstruir sua casa, como seria possível tendo uma apólice residencial que compreendesse a cobertura contra enchentes. Então, as pessoas terão perdas muito significativas.
Já na Flórida, o índice de apólices que têm cobertura para enchentes é muito maior, então as perdas seguradas deverão ser maiores do que no Texas; dependendo do caminho que o furacão Irma percorrer. “A boa notícia é que o mercado de seguros é tão bem estruturado que está plenamente preparado para lidar com esses casos”, finalizou Mills.
Projeções de perdas
O furacão Irma chegou à Flórida e com ele as discussões sobre os seguros envolvidos na catástrofe se tornaram ainda mais intensas. Reunidos em Monte Carlo, distrito de Mônaco, executivos do mercado faziam as contas dos custos da tempestade no mercado de seguros.
O cenário mundial de seguros é marcado hoje por forte concorrência e queda de preços e tanto a tempestade Irma como o furacão Harvey, que causaram grandes inundações, afetarão seriamente os lucros da indústria.
Mesmo assim, de acordo com Reuters, num primeiro estágio os danos não deverão ser capazes de balançar as estruturas da base de capitais das companhias – como os preços dos seguros ou suas classificações de crédito.
A tempestade Irma é uma “grande catástrofe para a Flórida e também para o mercado de seguro”, afirmou Torsten Jeworrek, membro do conselho da companhia alemã Munich Re, que participa, junto com outros 2,5 mil executivos, de um encontro anual, realizado em Mônaco, que discute preços e acordos de subscrição do mercado ressegurador.
Cifras
A indústria de seguros ainda está começando a enfrentar os custos causados pelo Harvey; Jeworrek afirmou que a avaliação de perdas é complexa e que “levará um longo tempo para que se faça a estimativa necessária das perdas, o que causa incerteza no mercado segurador”.
No entanto, o executivo acredita que as perdas globais do setor causadas pelo Harvey ficarão entre US$ 20 e US$ 30 bilhões, o que colocaria a catástrofe no mesmo patamar do furacão Sandy, que causou uma gigantesca inundação em Nova York, em 2012.
No que diz respeito à tempestade Irma, que atingiu a Flórida no último domingo, 10, após devastar a região do Caribe, a estimativa é que o valor das perdas seja muito mais severo.
O AIR Worldwide divulgou, nesta segunda, uma previsão total entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões em perdas seguradas.
Juntas, as tempestades deverão atingir, em média, US$ 75 bilhões em perdas seguradas. Outra grande indagação para o setor é se os danos serão tão grandes a ponto de fazê-los colocar preços mais altos em suas coberturas. Essa seria a maior reviravolta de mercado desde o Katrina, o desastre natural que causou mais prejuízos na história dos EUA – com perdas seguradas que chegaram a quase US$ 80 bilhões.
O veredicto final é que os lucros deverão sofrer um impacto, mas a dinâmica do capital e a precificação não. “Nós não vemos isso como um evento que deverá mudar o mercado”, afirmou Brian Schneider da Fitch Ratings. “Mas os preços não devem mudar”.
com informações: Reuters e Insurance Business
A.C.
Revista Apólice