EXCLUSIVO – A Mapfre lançou ontem (18), na Casa do Seguro, em Belém, o Biosseguro, um novo produto para o mercado brasileiro voltado para proteger projetos de carbono baseados em florestas, um segmento em plena expansão e que ainda enfrenta barreiras importantes para atrair investimentos. A solução nasceu dentro de um programa interno de empreendedorismo da companhia e tem como objetivo preencher uma lacuna histórica: a falta de seguros capazes de destravar projetos de longo prazo ligados à economia verde, seja em floresta, agricultura ou outros biomas.
Segundo Fábio Damasceno, diretor Técnico de Seguro Agrícola, Pecuário e Patrimonial Rural da Mapfre, o produto surgiu para atender uma demanda concreta de parceiros da Mapfre que já atuam na construção e operacionalização de projetos de carbono. “Havia recursos, havia interesse de investidores, mas faltava cobertura de seguro para dar segurança às operações. O Biosseguro vem exatamente para cobrir esse buraco e alinhar sustentabilidade, governança e novos modelos de negócio”, explica.
Um dos principais desafios identificados foi o prazo. Enquanto o mercado segurador tradicional opera com vigências anuais ou, no máximo, contratos de até cinco anos, os projetos florestais de carbono podem durar 20, 30 ou até 40 anos. A solução encontrada pela Mapfre foi estruturar o produto em tranches de até cinco anos, acompanhando de forma sustentável a evolução dos projetos e permitindo renovações sucessivas.
Nos primeiros anos, quando ocorre o reflorestamento, o Biosseguro cobre custos de reposição de mudas e de implantação, etapa considerada por Damasceno como “a mais cara e sensível do ciclo”. Depois que a floresta está apta a emitir créditos, o seguro passa a oferecer cobertura para perdas de créditos de carbono, sempre calculadas por safra.
Caso ocorra um evento que comprometa a biodiversidade e reduza a geração prevista de créditos, a Mapfre indeniza o segurado em valor monetário, permitindo a compra de créditos no mercado e garantindo a continuidade contratual.
“O objetivo é manter o projeto vivo. O agente financeiro ou operador usa a indenização para comprar créditos e cumprir seus compromissos, sem que o investidor perca confiança na operação”, explica Damasceno. O primeiro público-alvo da seguradora, portanto, são os agentes financeiros, responsáveis por amarrar todas as pontas: área plantada, certificação, compradores e financiadores. 
Para desenvolver o produto, a Mapfre buscou apoio técnico de players já experientes no setor. A seguradora contou com contribuições do Itaú, da Reservas Votorantim e de parceiros especializados em monitoramento e certificação, como o MapBiomas, entre outras empresas nacionais e internacionais ligadas ao mercado de carbono.
Embora não se trate de um produto de massa, a Mapfre projeta um desempenho relevante para o primeiro ano. Segundo Damasceno, o Biosseguro deve gerar incremento de 10% a 15% no prêmio total do seguro florestal da companhia, alcançando algo entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões em seu primeiro ano de atuação.
A expectativa é elevada, mas cautelosa: “É um começo. Estamos testando o produto e validando aplicações. O importante é criar um ambiente seguro para que o mercado de carbono ganhe tração real”, afirma.
A Mapfre já estuda aplicar o conhecimento adquirido no Biosseguro para outras frentes, como agricultura regenerativa, recuperação de áreas degradadas e até modelos de seguro autossustentáveis, nos quais parte dos créditos de carbono gerados abateria o próprio valor do prêmio. Também está no radar a possibilidade de evoluir para seguros paramétricos ou até produtos que ofereçam indenização direta em créditos de carbono — algo já observado em mercados mais maduros.
O Biosseguro marca uma guinada importante no setor: é um dos primeiros produtos pensados especificamente para economia de baixo carbono e para projetos de longa duração, atendendo a uma necessidade real de investidores, agentes financeiros e operadores florestais. É também um movimento alinhado às discussões globais sobre adaptação climática, financiamento sustentável e o papel estratégico das seguradoras na transição verde.
Kelly Lubiato, de Belém/PA




