EXCLUSIVO – A inclusão e a educação financeira são temas que permeiam a sustentabilidade no mercado de seguros e foram novamente temas de debates no evento da CNseg, Pré-COP30 – Casa do Seguro. Júlia Lins, diretora técnica da Susep (Superintendência de Seguros Privados), destacou que o debate sobre conscientização do consumidor deve vir acompanhado de uma reflexão sobre o próprio acesso aos produtos de seguro. Segundo ela, é preciso olhar além da responsabilidade do consumidor e identificar as barreiras que ainda impedem a expansão do mercado, especialmente entre as populações mais vulneráveis.
“Quando falamos de conscientização, levamos a responsabilidade muito para o consumidor, mas ainda temos passos anteriores a isso. É necessário discutir o acesso ao seguro. Existem travas que podem ser regulatórias, de modelo de negócio ou mesmo de interesse das seguradoras. Nosso papel é entender e ajudar a destravar esses pontos”, afirmou Júlia Lins.
A executiva ressaltou que a Susep tem atuado com uma visão proativa e técnica para estimular o desenvolvimento do setor e aumentar a oferta de produtos mais acessíveis, incluindo microseguros. Segundo ela, embora o segmento tenha apresentado crescimento, o volume de contratação ainda está muito aquém do potencial brasileiro.
“Os números de microsseguros aumentaram, mas ainda são muito baixos. Sabemos que o consumidor quer o seguro – ele entende a importância do instrumento. O problema está na adequação da oferta. Muitas vezes, o mercado oferece uma ‘BMW’ para quem só pode pagar por um Fusca. É preciso pensar em soluções compatíveis com a realidade da população”, observou.
A discussão também destacou o papel do cooperativismo de crédito e de seguros como ferramenta essencial para democratizar o acesso à proteção financeira. Representantes do setor lembraram que, em muitos municípios brasileiros, as cooperativas são as únicas instituições financeiras em operação, com uma presença decisiva para promover a inclusão social e econômica.
“Hoje, em 470 municípios, a cooperativa é a única instituição financeira. Esse modelo tem um potencial enorme de apoiar o processo de inclusão e oferecer produtos mais customizados, especialmente para o público ainda não atendido pelo sistema tradicional”, afirmou Clara Maffia, gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB.
No cenário global, o cooperativismo representa cerca de 30% do mercado de seguros, mostrando a força e a viabilidade desse modelo. No Brasil, a expectativa é de expansão, com novas regulamentações e parcerias com seguradoras tradicionais, que se desenham a partir da nova lei que entre em vigor no mês de dezembro.
“Falar de inclusão e falar de cooperativismo é falar de sinônimos. Esse modelo é baseado na confiança — e confiança é também o fundamento do seguro. É um casamento natural que tem tudo para crescer no país”, destacou Clara.
Outro ponto central do debate foi a importância da educação financeira. Para a Susep, esse é um pilar fundamental para o amadurecimento do mercado e para o fortalecimento da relação entre consumidores e seguradoras.
“Precisamos falar sobre a experiência do consumidor após a contratação e sobre o quanto ele entende o que está contratando. O seguro não pode ser visto como algo distante ou inacessível. A educação financeira é a ponte para isso”, pontuou Júlia Lins.
O tema também foi reforçado por Nicolás Morales, gerente Regional para América Latina e Caribe da Microinsurance Network, que defendeu a necessidade de ampliar a visibilidade do seguro nas políticas públicas e nas estratégias nacionais de educação financeira.
“Temos que dar mais visibilidade ao seguro. Em muitos documentos oficiais, o setor é quase invisível. É preciso incluir o seguro nas agendas de política pública e fortalecer as parcerias entre reguladores, seguradoras, cooperativas e instituições financeiras para que os produtos cheguem a quem mais precisa”, enfatizou.
O debate apontou que o avanço do seguro inclusivo no Brasil dependerá da combinação entre regulação moderna, inovação tecnológica e novos canais de distribuição. Para Júlia Lins, o papel da Susep é justamente criar condições para que o mercado inove sem perder de vista a proteção ao consumidor.
“Queremos um mercado que se arrisque, que teste modelos e pense fora da caixa. Nosso papel como órgão regulador é garantir que essa inovação aconteça de forma responsável, mas com abertura para o novo”, concluiu.
Kelly Lubiato, de Brasília