Os últimos 30 anos moldaram um novo panorama para o mercado de seguros no Brasil. Desde os primeiros passos de modernização regulatória até os movimentos mais recentes de digitalização, ESG e gestão de riscos complexos, a indústria evoluiu acompanhando (e muitas vezes antecipando) as transformações da economia, da sociedade e do clima.
A participação do setor de seguros no PIB brasileiro aumentou quase cinco vezes nas últimas três décadas. Em um país marcado pela volatilidade econômica, o setor mostrou resiliência, crescendo mesmo em ciclos adversos. Os períodos de juros altos e inflação elevada impactaram a penetração de produtos como seguros de vida e saúde, enquanto ciclos de estabilidade abriram espaço para o microsseguro e o fortalecimento da capitalização como ferramenta de inclusão.
O ambiente competitivo também passou por uma intensa reorganização. Fusões e aquisições reformularam o mercado, com seguradoras nacionais se unindo a grupos internacionais e o nascimento de conglomerados que integram seguros, saúde, previdência e investimentos. A consolidação trouxe ganho de escala, mas também exigiu sofisticação operacional, especialmente na gestão de canais e no uso de dados.
Recentemente, o seguro garantia — impulsionado pela Circular 662 e pela nova Lei de Licitações — voltou à cena como um dos motores de crescimento. A combinação entre novas regras e maior demanda por garantias contratuais do setor público recolocou esse ramo como estratégico, sobretudo diante dos investimentos em infraestrutura.
Desde a criação da Susep, o arcabouço regulatório brasileiro evoluiu de forma consistente. As últimas décadas testemunharam a profissionalização da supervisão e a migração de um modelo centrado no controle de produtos para um regime de supervisão baseada em riscos.
O novo Marco Legal dos Seguros, que busca unificar e modernizar as normas do setor, representa um divisor de águas. Ele pode simplificar regras, reforçar a segurança jurídica e incentivar a inovação. A criação de mecanismos como o sandbox regulatório e as normas específicas para cooperativas de proteção veicular evidenciam a busca por inclusão e pluralidade no mercado.
Por outro lado, cresce a demanda por soluções públicas frente aos riscos sistêmicos, como desastres naturais. O debate sobre um seguro social contra catástrofes ganha espaço — não apenas como proteção financeira, mas como política de Estado.
O ESG, inicialmente tratado como agenda corporativa, começa a se traduzir em compromissos reais — desde investimentos sustentáveis até a exclusão de riscos associados à degradação ambiental ou práticas antiéticas. A transição para uma economia de baixo carbono traz oportunidades, mas também riscos não seguráveis que desafiam modelos tradicionais.
O avanço da digitalização e a crescente judicialização colocaram novos riscos em foco. O ciberseguro passou de nicho técnico a prioridade estratégica. Ao mesmo tempo, cresce a relevância do seguro de responsabilidade civil profissional, diante do aumento de litígios contra médicos, engenheiros, advogados e executivos.
Na dimensão social, o envelhecimento populacional e novas formas de trabalho exigem novas soluções. O crescimento da gig economy e da informalidade traz desafios de cobertura para trabalhadores autônomos. Paralelamente, iniciativas de diversidade, inclusão e educação financeira tornam-se fundamentais para garantir a sustentabilidade do setor.
Alexandre Dominguez, CEO da Seguradora ALM.
*Artigo originalmente publicada na Revista Apólice #311.