EXCLUSIVO – Um dos temas mais relevantes para enfrentar os desafios dos eventos climáticos extremos é a infraestrutura resiliente. Durante o painel “Infraestrutura e Cidades Resilientes”, especialistas e representantes do setor público e privado debateram o futuro dos investimentos em infraestrutura no Brasil e o papel essencial do seguro para garantir a continuidade e sustentabilidade desses projetos diante das mudanças climáticas e dos desafios urbanos.
De acordo com Roberto Guimarães, diretor de Planejamento da ABDIB, o país vive hoje o maior ciclo de investimentos em infraestrutura de sua história. “Estamos passando por uma revolução. O investimento privado ultrapassou 80% do total e deve chegar a R$ 280 bilhões em 2025 e R$ 300 bilhões em 2026”, afirmou. O levantamento faz parte do Livro Azul da Infraestrutura, que será lançado ainda este ano, com projeções atualizadas e a consolidação de cerca de 500 novos projetos de concessões, totalizando R$ 800 bilhões em CAPEX.
Guimarães destacou que esse movimento é resultado de três décadas de aprimoramento regulatório, fortalecimento dos órgãos de controle e da maior maturidade do setor privado. “Hoje há uma compreensão de todos – poderes concedentes, bancos, concessionárias e usuários – sobre a importância da infraestrutura bem estruturada”, pontuou.
Ele também chamou atenção para o papel do seguro nesse contexto: “Todo esse avanço precisa ser sustentado por garantias sólidas. O seguro de garantia é uma ferramenta mais barata e eficiente do que as fianças bancárias. Precisamos expandir esse instrumento para viabilizar os projetos e reduzir riscos”.
Representando o BNDES, Flávio Papelbaum, Head de Soluções Imobiliárias, apresentou o programa Cidade Resiliente, que apoia municípios na estruturação de projetos voltados à adaptação climática e à mitigação de desastres. “O problema não é apenas falta de funding, mas falta de bons projetos. É preciso estruturar iniciativas qualificadas para que as cidades possam enfrentar os eventos climáticos extremos que se tornaram cada vez mais frequentes”, explicou.
O programa oferece apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura urbana sustentável, saneamento, drenagem e mobilidade, com financiamento vinculado ao Fundo Clima. “Nosso objetivo é garantir que o município tenha uma carteira de projetos viáveis e financiáveis, com obras executadas de forma integrada e sustentável”, completou Papelbaum.
Para Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI, o conceito de resiliência urbana ainda é pouco compreendido pela população. “A maioria das pessoas nem sabe o que é resiliência. Precisamos traduzir essa linguagem: uma cidade resiliente é aquela que consegue voltar a funcionar depois de um evento climático extremo”, afirmou.
Muniz lembrou que 70% da população mundial estará concentrada em áreas urbanas até 2050, o que aumenta a pressão sobre os sistemas de saneamento, transporte e energia. “Temos mais de 100 milhões de brasileiros sem acesso a esgoto e 30 milhões sem água tratada. Essa carência é um problema de saúde pública, mas também uma oportunidade para inovar com soluções como reuso da água e dessalinização”, destacou.
Ele ressaltou ainda que a indústria tem papel central na transição energética e na construção de um futuro sustentável: “A antiga indústria da chaminé deu lugar à indústria da transformação, da inovação. Ela é o parceiro ideal para liderar o desenvolvimento sustentável”.
Encerrando o painel, Roque de Holanda Melo, CEO da Junto Seguros, destacou o papel decisivo do seguro-garantia na nova Lei de Licitações. Segundo ele, obras de grande vulto, acima de R$ 250 milhões, agora podem exigir o seguro com cláusula de retomada, permitindo que a seguradora conclua a obra sem necessidade de nova licitação.
“Esse era o grande sonho do Estado: garantir a conclusão da obra no menor prazo possível, sem custo adicional e sem depender de novo processo licitatório. Isso é possível apenas com o seguro-garantia com cláusula de retomada”, explicou.
Melo enfatizou que essa mudança exige mais preparo técnico das seguradoras. “Será preciso investir em engenharia, tecnologia e pessoas, para acompanhar cada etapa da obra. É um risco mais complexo, que demanda maturidade e diálogo entre o poder público e o mercado segurador”, afirmou.
Kelly Lubiato, de Brasília