EXCLUSIVO – O envelhecimento deixou de ser uma questão de tempo para se tornar uma questão de escolha. Hoje, viver mais exige mobilidade física, social e financeira, além de uma nova forma de pensar o futuro. Esse foi o ponto de partida do XVIII Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, realizado nesta terça-feira (21), no Teatro Bradesco, em São Paulo, que teve como tema “Longevidade em Movimento”. O evento propôs uma reflexão sobre como o Brasil pode transformar o aumento da expectativa de vida em um projeto coletivo de bem-estar.
A mediação ficou a cargo da atriz e apresentadora Cissa Guimarães, que abriu o encontro destacando que longevidade não se resume à idade cronológica, mas à disposição para “seguir em movimento”, seja em uma dança, uma caminhada ou um novo projeto. A abertura contou ainda com uma apresentação da atriz e cantora Zezé Motta.
O primeiro palestrante, Alexandre Kalache, gerontólogo e consultor de longevidade da Bradesco Seguros, lembrou que “a longevidade é construída no presente, não apenas projetada para o futuro”. Segundo ele, o Brasil vive uma transição demográfica acelerada que exige, além de políticas públicas, uma cultura voltada para o envelhecimento ativo.
Durante o segundo painel, o debate foi dividido em dois eixos: as escolhas individuais e os ambientes que favorecem uma vida longa e saudável. A especialista em comportamento financeiro Ana Leoni, CEO da Planejar e cofundadora da BEM Educação, destacou que a estabilidade financeira na velhice é construída durante o ciclo produtivo. “A janela entre 25 e 65 anos é o melhor ciclo para poupar e usufruir das suas escolhas para o resto da vida”, pontuou Leoni, chamando a atenção para o viés comportamental que dificulta a poupança. “Não conseguimos planejar para o ‘eu futuro’ porque o cérebro o processa como um estranho”. Ela finalizou com um alerta pragmático: “Atenda aos seus planos financeiros primeiro antes de ajudar o próximo ou os outros”.
Em seguida, o consultor em saúde e qualidade de vida Márcio Atalla enfatizou que a longevidade depende menos da genética e mais das escolhas diárias. “Longevidade é mais do que viver mais, é viver bem e com qualidade”, defendeu Atalla. “O estilo de vida, sendo saúde, alimentação e exercícios, é responsável por 75% da longevidade, sendo a genética apenas 25%.” Ele criticou a desconexão entre informação e prática, alertando que mais de 70% da população brasileira é sedentária e mais de 80% dorme mal. Atalla também enfatizou o papel do capital social como fator de longevidade, reiterando que “viver em grupo” contribui para a felicidade e a extensão da vida.
Em um dos momentos mais técnicos, a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo analisou o envelhecimento sob o ponto de vista da saúde pública e das desigualdades. “O desafio não é apenas viver mais, mas viver com menos barreiras, de saúde, mobilidade e acesso. Esse movimento ainda está em construção no Brasil”, afirmou.
A escritora e palestrante internacional Ashton Applewhite foi uma das vozes mais aplaudidas. Em tom firme, defendeu que a longevidade é um direito e que o etarismo precisa ser combatido. “Quando pararmos de invisibilizar pessoas mais velhas, a sociedade inteira ganha”, disse. Para ela, envelhecer não é retroceder, mas redirecionar. “O meu movimento impacta além de mim”, completou.
Aproveitando os momentos, os executivos do Grupo Bradesco Seguros reforçaram que envelhecer é um desafio coletivo, que envolve responsabilidade pessoal e social. Para Ney Dias, presidente da Bradesco Auto/RE, há importância em se preparar para essa etapa da vida. “Estamos vivendo na prática essa questão de preparação, aprendendo a mudar nossa vida do ponto de vista da saúde e das finanças, para lidar melhor com o que muitos dos nossos parentes não puderam”, afirmou. Em tom leve, associou o tema do evento à essência do setor. “Somos seguradores, administramos riscos. E o envelhecimento, de certa forma, é um risco que pode e deve ser calculado.”
Na sequência, Carlos Marinelli, presidente da Bradesco Saúde, lembrou que a longevidade é um privilégio, mas que envelhecer exige entendimento e preparo. “Viver é um privilégio. Mas precisamos reconhecer que envelhecer é natural e não é simples”, disse. Para ele, o Fórum representa um espaço de aprendizado e prática. “Cabe a cada um de nós tornar o processo mais saudável, produtivo e agradável”.
Bernardo Castello, presidente da Bradesco Vida e Previdência, celebrou os 18 anos do evento e sintetizou o espírito da companhia: “Nós acreditamos verdadeiramente na longevidade em movimento. O longevo é um jovem que deu certo.” Ele ressaltou que o conceito permeia os valores e produtos da seguradora, citando a plataforma Viva Longevidade como exemplo de iniciativa que aproxima o tema do cotidiano das pessoas.
O Fórum também homenageou a coreógrafa e diretora Dalal Achcar e a atriz e escritora Beth Goulart, que falaram sobre a responsabilidade de envelhecer de forma ativa e inspirar outras gerações. O encerramento artístico ficou com Tony Ramos e Denise Fraga, que protagonizaram um diálogo leve sobre tempo, memória e experiências, lembrando que a longevidade também se constrói por meio das histórias compartilhadas.
Indicadores e perspectivas
Durante o evento de divulgação, a Bradesco Seguros apresentou a mais recente edição do seu Indicador de Longevidade Pessoal (ILP). A pesquisa revelou que a pontuação média se manteve estável, com as mulheres atingindo 62 pontos e os homens, 61. Essa constância nos resultados demonstrou positivamente o equilíbrio entre os elementos que compõem o índice de saúde, finanças, propósito e bem-estar, além de evidenciar que o público brasileiro tem sustentado um padrão de autocuidado consistente ao longo dos últimos anos, mas que o desafio da longevidade ainda é financeiro.
O Fórum encerrou com uma mensagem clara. O aumento da expectativa de vida no Brasil, que passou de 45 anos em 1940 para 76,4 anos em 2023, com projeção de 83,9 anos em 2070, exige uma revisão urgente das estruturas sociais, econômicas e de saúde. Como destacou Kalache, é preciso buscar não apenas “anos à vida, mas principalmente vida aos anos”.
Nicholas Godoy, de São Paulo