O mercado global de seguros de Property & Casualty (P&C) dobrou de tamanho nas últimas duas décadas, alcançando US$ 2,4 trilhões em prêmios em 2024, e deve quase duplicar novamente até 2040, quando pode chegar a US$ 4,3 trilhões, acompanhando o ritmo do PIB mundial. O dado faz parte do estudo sigma 3/2025: Growing stronger – How the Property & Casualty market adapts to a riskier world, divulgado pelo Swiss Re Institute durante o encontro de Monte Carlo.
O levantamento mostra que a cadeia de valor de P&C vem se tornando mais eficiente, sobretudo nos Estados Unidos, onde houve redução de custos administrativos e de sinistros nos últimos anos. Ao mesmo tempo, o papel de corretores e MGAs (Managing General Agents) ganhou força, o que elevou as comissões e trouxe mais especialização à distribuição e subscrição, ainda que com custos adicionais e desafios de supervisão.
A pesquisa destaca que funções antes concentradas em seguradoras integradas estão sendo desagregadas entre diferentes players, de corretores a pools e seguradoras cativas. Esse movimento tem ampliado a capacidade do mercado e reduzido a concentração: em nove dos onze maiores países analisados, a fatia dos cinco principais grupos de P&C caiu desde 2004. Ao mesmo tempo, os níveis superiores da cadeia, como resseguro e retrocessão, estão absorvendo uma parcela maior dos riscos. Os prêmios de resseguro cresceram 7% ao ano na última década, contra 4,2% do mercado primário, enquanto a retrocessão e os títulos vinculados a seguros (ILS) avançaram entre 8% e 10% ao ano, dobrando de volume desde 2013. Essa arquitetura em camadas aumenta a eficiência, mas também cria maior dependência do mercado de capitais e dos investidores.
No recorte regional, o estudo mostra que nos mercados avançados os ramos de propriedade e responsabilidade civil lideram o crescimento, enquanto o automotivo perde espaço. Nos Estados Unidos, por exemplo, as linhas de responsabilidade civil comercial passaram de taxas de crescimento baixas para dígitos altos desde 2019, impulsionadas pela inflação das ações judiciais. Já nos mercados emergentes, que hoje representam cerca de 20% dos prêmios globais, a expectativa é de maior participação, com expansão de seguros automotivos e desenvolvimento de capacidades técnicas. Entre 2024 e 2034, os prêmios comerciais nessas regiões devem crescer em média 6,5% ao ano, enquanto os de linhas pessoais devem avançar 5,5%.
O relatório também aponta a expansão de soluções alternativas de transferência de risco. As seguradoras cativas movimentam entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões em prêmios anuais, permitindo que empresas se auto-segurem em riscos de maior frequência e tenham acesso ao resseguro para exposições mais severas. Pools público-privados e mecanismos residuais, como os FAIR Plans nos EUA e os seguros agrícolas no Brasil e na Índia, sustentam a disponibilidade de cobertura em áreas de alta volatilidade.
Outra tendência em destaque é a adoção crescente de inteligência artificial e tecnologias digitais, já aplicada por grandes grupos globais para ganhar escala em processos de subscrição e sinistros, enquanto insurtechs passam por um “reset estratégico”: depois de anos de expectativa de disrupção, o foco agora está em oferecer dados, distribuição e underwriting especializado para ampliar a capacidade do mercado.
Em termos de rentabilidade, os corretores têm superado seguradoras e resseguradoras ao longo das últimas duas décadas, apoiados em modelos asset-light. Já os resseguradores seguem como pilares de estabilidade e amortecedores de choques, mas precisam manter bases de capital robustas para sustentar esse papel. Para o Swiss Re Institute, a resiliência do setor dependerá da capacidade de alinhar inovação, diversificação de players e fortalecimento do capital em um ambiente global cada vez mais arriscado.
O estudo completo está disponível em Swiss Re sigma.
N.G.