Ultima atualização 12 de setembro

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Carros sustentáveis ganham incentivo fiscal e obrigam setor a se reinventar

EXCLUSIVO – O anúncio do decreto presidencial que zera o IPI para carros sustentáveis abre uma nova fase para a mobilidade no Brasil. A medida, publicada em julho, cria a modalidade de “Carro Sustentável” e garante isenção do imposto para modelos compactos, de alta eficiência energética e fabricados no país. Mais do que um incentivo fiscal, a decisão acelera a transição da frota brasileira para veículos menos poluentes, trazendo repercussões diretas para o setor de seguros.

A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) trouxe um levantamento em que só no mês de julho desse ano, já havia mais de 500 mil veículos eletrificados leves em circulação, somando elétricos, híbridos plug-in e híbridos convencionais. O número, embora ainda pequeno em comparação com a frota nacional, aponta uma curva de crescimento acelerada. Para as seguradoras e corretoras, esse movimento representa tanto uma oportunidade de expansão quanto um conjunto de desafios inéditos.

Na visão de Michel Tanam, gerente da Minuto Seguros, a medida do governo deve ampliar a base de clientes com veículos elétricos e híbridos, gerando mais dados para análise de risco e permitindo uma precificação mais precisa no futuro. “A redução do IPI atua como facilitador da entrada desses modelos no Brasil. Com mais consumidores adotando a tecnologia, o setor de seguros terá condições de oferecer soluções mais adequadas e competitivas”, afirma.

Esse cenário amplia a procura por apólices adaptadas às particularidades da eletrificação. O consumidor que busca um seguro para carro elétrico ou híbrido encontra questões que não estavam presentes em contratos tradicionais, como a proteção de baterias ou a logística de recarga em situações emergenciais.

Se por um lado a política fiscal estimula a demanda, por outro os custos ainda representam um entrave para a popularização desses seguros. Peças como baterias e componentes eletrônicos têm valor de reposição elevado, o que encarece os reparos e se reflete diretamente no preço das apólices.

Além disso, a manutenção desses veículos exige mão de obra qualificada e oficinas equipadas, muitas vezes concentradas em regiões específicas. “O valor do seguro não depende apenas do tipo de motorização, mas do risco associado ao veículo. Como os custos de reparo são mais altos, isso inevitavelmente impacta na precificação”, explica Tanam.

Enquanto a frota sustentável ainda está em fase inicial, seguradoras e corretoras lidam com um desafio adicional: a baixa escala de operação. O cálculo de risco, em teoria, segue os mesmos parâmetros aplicados a veículos a combustão — perfil do motorista, região de circulação, histórico de sinistros. A diferença é que, com menos informações históricas sobre elétricos e híbridos, o setor precisa recorrer à inteligência de dados para reduzir incertezas.

Tecnologias de monitoramento em tempo real, cruzamento de informações de mercado e acompanhamento de registros locais são algumas das ferramentas utilizadas para ajustar preços e condições de forma mais assertiva. Essa transição, no entanto, ainda depende de um crescimento mais consistente da frota.

A chegada dos elétricos e híbridos ao mercado exige também uma transformação da rede de serviços. Oficinas começam a investir em equipamentos específicos, enquanto seguradoras estabelecem parcerias com centros de reparo especializados. O processo é gradual, mas essencial para dar suporte à nova demanda.

Segundo Tanam, o setor está se preparando para tornar a contratação de seguros para esses veículos tão simples quanto para modelos convencionais. “Estamos ampliando o portfólio de apólices que contemplam elétricos e híbridos e utilizando tecnologia de dados para entender melhor esse público”, destaca.

Embora a estrutura básica das apólices se mantenha, já existem coberturas exclusivas para o público dos elétricos e híbridos. Entre elas, destacam-se serviços de guincho até pontos de recarga, proteção contra danos à bateria em caso de acidente e cobertura para cabos e carregadores residenciais. Essas assistências refletem a adaptação do setor às necessidades específicas da frota sustentável e tendem a ganhar espaço à medida que a eletrificação avança.

Um dos pontos levantados pelo executivo é o desconhecimento do consumidor em relação às diferenças nos seguros para carros sustentáveis. Muitos sabem que os custos podem ser mais altos, mas não compreendem as razões nem conhecem as coberturas adicionais disponíveis.

Nesse sentido, o papel das corretoras e seguradoras vai além da precificação: envolve transparência e educação, explicando o que justifica o valor do seguro e quais benefícios extras estão associados à contratação.

A tendência de eletrificação deve impulsionar o surgimento de produtos mais customizados. Tanam acredita que, assim como aconteceu com os seguros para celulares e notebooks, a alta demanda deve estimular a criação de soluções modulares, combinando proteção veicular com serviços de energia e manutenção preventiva.

A projeção da consultoria McKinsey reforça essa perspectiva: até 2040, o Brasil poderá ter uma frota de 11 milhões de veículos elétricos. Esse crescimento ampliará a competição e estimulará a inovação, criando um ambiente fértil para apólices mais acessíveis e conectadas às necessidades do consumidor.

O avanço da digitalização no setor de seguros anda lado a lado com a eletrificação da frota. O uso intensivo de dados, plataformas digitais de contratação e atendimento remoto tornam a jornada do cliente mais simples e transparente. Esse movimento será determinante para que a adoção dos carros sustentáveis venha acompanhada de uma oferta de seguros compatível com a nova realidade. “O futuro do seguro auto estará cada vez mais ligado à inovação tecnológica. Digitalização e eletrificação caminham juntas para garantir uma transição assertiva”, conclui Tanam.

Nicholas Godoy, de São Paulo.

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