Ultima atualização 23 de junho

Seguro rural enfrenta baixa adesão e alto custo no agronegócio

Neste artigo, Julia Guerra fala sobre o Seguro rural no Brasil que segue com baixa adesão e alto custo, comprometendo o agro.

O Brasil já conhece o problema, porém o cenário se repete: a cobertura do seguro rural segue baixa; os riscos climáticos aumentam; os produtores permanecem expostos; os custos das apólices são elevados e o crédito continua fragilizado. Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), em 2022 o setor pagou R$ 10,5 bilhões em indenizações, um aumento de 47% em comparação com o ano anterior. No mesmo período, o número de apólices caiu de 82 mil para 47 mil apenas no Paraná, um dos estados com maior representatividade no mercado. E, mesmo com a importância estratégica do agronegócio brasileiro na segurança alimentar global, apenas 16% da área agrícola do país conta com algum tipo de cobertura securitária.

Diante disso, a conclusão que fica é que falta coragem para executar soluções que já são conhecidas. O seguro rural não é mais uma teoria ou proposta futura, ele é, hoje, o pilar não estruturado da estabilidade agrícola brasileira. Porém, em muitas regiões, o acesso ao seguro rural permanece restrito e insuficiente. Poucas culturas dispõem de uma cobertura eficaz, enquanto o setor ainda enfrenta as consequências de anos de retração, provocados por prejuízos consecutivos que comprometeram a capacidade de subscrição das seguradoras.

Apesar de sinais recentes de crescimento, como o aumento no número de apólices e a diversificação de culturas e regiões atendidas, a evolução é lenta e insuficiente diante da complexidade do agronegócio brasileiro. O desafio agora é colocar em prática soluções que demonstrem, de forma concreta, como o seguro rural pode funcionar de maneira integrada e eficaz para produtores, instituições financeiras, cooperativas e demais agentes do mercado.

O custo da procrastinação já é conhecido, e é muito mais alto do que o investimento que falta. Nos últimos 20 anos, o governo brasileiro gastou bilhões renegociando dívidas agrícolas por meio de programas emergenciais após eventos climáticos extremos. De forma paradoxal, os recursos públicos já despendidos para cobrir essas emergências superam, com larga vantagem, o volume que seria necessário para estruturar uma política pública perene de mitigação de risco, com um programa robusto de subvenção ao prêmio e a criação de um fundo de catástrofe. Estamos pagando mais caro pela sua inércia do que pagaria por uma solução definitiva.

Além do aspecto financeiro, a instabilidade política é outro obstáculo estrutural. Cada ciclo eleitoral redefine o orçamento da subvenção ao prêmio do seguro rural e ao resseguro e cada mudança ministerial altera as prioridades de execução. Essa falta de previsibilidade orçamentária e técnica sabota qualquer tentativa de planejamento de longo prazo. Em um ambiente em que as regras mudam a cada temporada, nenhum agente privado consegue construir capacidade ou investir em soluções duradouras.

É claro que não cabe ao setor privado estruturar sozinho uma política pública de seguro rural. No entanto, o mercado pode continuar inovando, desenvolvendo tecnologia, aprimorando modelos de precificação e implementando monitoramento em tempo real. O Brasil já conta com satélites de alta resolução por talhão, algoritmos preditivos de risco produtivo, plataformas digitais para subscrição e regulação automatizada, além de modelos inteligentes de precificação dinâmica. Ainda assim, a sustentação de uma política eficaz de mitigação de risco depende de elementos que apenas o Estado pode garantir, como governança estável, previsibilidade orçamentária e segurança institucional. O seguro rural deve ser uma política pública de Estado, e não algo condicionado a governos ou períodos eleitorais.

Portanto, o caminho está desenhado. O país precisa fortalecer a expansão já em curso, consolidando o aumento no número de apólices e a diversidade de produtos e regiões atendidas. É fundamental desenvolver instrumentos de gestão de risco que dialoguem diretamente com o produtor e ampliar o conhecimento técnico dos agentes do campo sobre o uso correto desses produtos. A construção de um sistema nacional integrado de dados agroclimáticos e produtivos também é urgente, com informações sobre solo, histórico de produtividade, riscos agrícolas e perfil de crédito dos produtores, criando uma base técnica sólida para a expansão sustentável da atuação das seguradoras e financiadores. O agro brasileiro está pronto, agora, o Brasil precisa estar. 

Julia Guerra, Mestre em agronegócios, Diretora comercial da Picsel.

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