As preferências de investimentos no Brasil mudaram muito nos últimos anos. Enquanto a bolsa de valores brasileira (B3) registra um crescimento tímido no número de investidores, as criptomoedas vêm conquistando cada vez mais adeptos. Segundo dados divulgados pela própria B3, cerca de 5,3 milhões de pessoas físicas possuíam ações em 2024.
Em contrapartida, de acordo com a 1ª Pesquisa Nacional das Criptomoedas do Datafolha e da Paradigma Education, ao menos 16% da população (aproximadamente 25 milhões de brasileiros) já investiu em criptoativos, superando com folga a quantidade de acionistas na bolsa.
Não se trata apenas de uma moda passageira ou de um fenômeno isolado. Há múltiplos fatores que explicam por que o investidor brasileiro está cada vez mais atento às criptomoedas, em detrimento de investimentos clássicos. O perfil cultural de busca por maior liberdade e rapidez é um deles.
A facilidade de acesso às plataformas digitais e a percepção de que a bolsa ainda é burocrática e pouco inclusiva para o público geral são coisas que afetam o mercado cripto. Além disso, a adoção ampla das moedas digitais em diversos setores também tem muito influência nesses números.
Não falamos apenas de exchanges ou sites de compra. Os cripto cassinos no Brasil foram muito bem aceitos pelos jogadores, que encontraram nessas plataformas os benefícios da tecnologia blockchain: segurança, descentralização e anonimato. E esse é só um exemplo do porquê de o brasileiro médio preferir o risco e o dinamismo das criptomoedas à lógica mais previsível da bolsa de valores.
Crescimento dos investimentos em cripto: por que a bolsa não avança tanto no Brasil?
Um dos principais motivos para o avanço das criptomoedas no Brasil é a facilidade de entrada. Enquanto, no mercado de ações, muitos investidores sentem a necessidade de assessorias ou corretoras tradicionais para se familiarizarem com o sistema, as plataformas de cripto funcionam com interfaces simples e diretas.
Com pouco dinheiro, às vezes menos de R$ 10, qualquer pessoa inicia uma carteira de ativos digitais. Além disso, transações por Pix ou cartão de crédito tornam o processo ainda mais rápido. Outro fator que impulsiona esse crescimento é o acesso à informação. Hoje, existe uma oferta enorme de conteúdos em redes sociais, blogs e influenciadores que explicam o funcionamento do mercado cripto.
Esse ecossistema atrai principalmente o público jovem, que prefere aprender com vídeos curtos, infográficos e discussões online. No contraponto, a bolsa de valores é percebida por muitos como um ambiente “tradicional demais” ou “elitizado”, o que dificulta a comunicação com investidores iniciantes.
Há também o contexto econômico. Taxas de juros altas, instabilidade fiscal e as recentes crises políticas e econômicas alimentam a impressão de que os investimentos tradicionais podem ser tão arriscados quanto as criptos, porém, sem a “promessa” de retorno veloz. A volatilidade das moedas digitais assusta, mas também encanta quem busca multiplicar o capital.
Apesar de a bolsa brasileira contar com empresas sólidas e oportunidades de ganhos a longo prazo, o país ainda vê pouco engajamento no mercado acionário. De acordo com a B3, o número de investidores vem crescendo nos últimos anos, mas representa somente 6% da população economicamente ativa, o que está bem abaixo do potencial de um país do tamanho do Brasil.
Uma das razões para essa baixa adesão é a falta de cultura de investimentos. Nos Estados Unidos, mais da metade das famílias participa do mercado de ações de alguma forma, seja diretamente ou por planos de aposentadoria vinculados a fundos. No Brasil, ainda prevalece a preferência pela poupança, vista como um porto seguro, mesmo com rendimentos abaixo da inflação em muitos períodos.
Outro aspecto está na linguagem utilizada pelo mercado. Termos técnicos, necessidade de documentação extensa e processos de cadastro podem parecer intimidadores. Enquanto isso, as exchanges de criptomoedas adotam um estilo mais próximo ao do e-commerce, convidando mesmo o usuário iniciante a experimentar.
O impacto da educação financeira e da facilidade de acesso
A popularização de temas como NFTs, DeFi e metaverso trouxe uma nova dimensão ao setor cripto. As plataformas passaram a apresentar vídeos didáticos e tutoriais que mostram passo a passo como investir, como guardar as moedas com segurança e até como participar de projetos de governança descentralizada.
Entretanto, ainda há uma lacuna de educação financeira a ser preenchida no Brasil. O acesso à informação cresceu, mas nem sempre as pessoas entendem os riscos de um mercado marcado pela alta volatilidade. Conforme revelado pelo Datafolha, a maioria conhece o Bitcoin, porém desconhece outras criptomoedas.
E também não sabe como funcionam fundamentos importantes, como a tecnologia blockchain ou a oferta limitada de determinados criptoativos. A bolsa, por sua vez, apesar de ter iniciativas de educação e programas para iniciantes, muitas vezes não consegue “falar” a mesma linguagem do investidor jovem.
Além disso, a expansão de tutoriais, lives e comunidades online criou uma espécie de “efeito rede”. Quando o usuário vê amigos, influenciadores e conhecidos investindo em cripto, fica mais propenso a fazer o mesmo. Já a bolsa, apesar de contar com inúmeros analistas independentes no YouTube, ainda sofre com a imagem de formalidade e com processos burocráticos que não se encaixam no imediatismo atual.