EXCLUSIVO – O número de idosos usuários de planos de saúde mais que duplicou em 20 anos. É o que apontou o Panorama dos Idosos Beneficiários de Planos de Saúde no Brasil, desenvolvido pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar). Entre março de 2002 e o mesmo mês deste ano, os vínculos saltaram de 3,4 milhões para 7 milhões, registrando uma alta histórica de 107,6%.
Segundo o estudo, do total de beneficiários com mais de 60 anos, em março de 2022, o maior volume está no grupo etário de 60 e 69 anos (52%), seguido por 70 a 79 anos (31%) e idosos com 80 anos ou mais (18%). A maior prevalência (60%) é do sexo feminino, correspondente a 4,2 milhões de vínculos. Além disso, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os estados que têm mais idosos tanto na população (45% do total), quanto entre os beneficiários (63% do total).
“Alguns fatores justificam estes sucessivos crescimentos. Um deles é o processo natural de envelhecimento da sociedade, o que acontece de forma muito rápida no Brasil. Além disso, é natural que com a idade, fiquem mais necessárias as visitas ao médico, a realização de exames, a internação e os casos graves. Muitos desses idosos tinham um plano oferecido pelas empresas em que trabalhavam e, normalmente, a aposentadoria importa o fim da relação de emprego e, portanto, também do plano. Entretanto, a pessoa que entende a importância desse benefício fará de tudo para mantê-lo”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
A pesquisa ainda apontou que, nas últimas duas décadas, o grupo de pessoas com 80 anos ou mais foi o que mais cresceu (194%). A quantidade de vínculos praticamente triplicou, saindo de 422,7 mil, em março de 2002, para 1,2 milhão em março de 2022. Logo atrás, aparece a faixa entre 70 e 79 anos, que dobrou o número de beneficiários, passando de 1,1 milhão para 2,2 milhões. “Outro ponto relevante foi o impulsionamento da busca de planos de saúde provocado pela Covid-19. A expansão foi maior entre quem tem acima de 59 anos, população mais vulnerável no início da pandemia. O aumento da procura por quem tem acima de 59 anos ilustra como esse sistema é importante e funciona como seguro, sobretudo em épocas críticas como a atual”, diz Vera Valente, diretora executiva da Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar).
O estudo também constatou que, em relação ao tipo de contratação, houve grande alta em aquisições a planos coletivos, especialmente os empresariais. A modalidade quase quadruplicou com registro de alta de 280,5%. No caso dos coletivos por adesão, o número quase triplicou, saindo de 570,7 mil para 1,5 milhão. Segundo Vera, a preocupação com a Covid-19 tornou ainda mais relevante o papel dos planos de saúde nos pacotes para atração e retenção de talentos no setor privado. “Já o aumento da procura por planos coletivos por adesão foi incentivado pela busca por atendimento de qualidade e preços acessíveis. Essa modalidade oferece opções mais acessíveis para o consumidor, principalmente no atual cenário econômico do país, que agora está sofrendo com a queda do poder de compra e inflação em alta”.
A diretora executiva da FenaSaúde lembra que o principal impacto de uma carteira com beneficiários mais idosos é o aumento dos custos do setor. “É preciso entender que o setor da saúde suplementar é bastante impactado pelas transformações sociais e econômicas, e isso acontece no mundo todo. Para preservar a sustentabilidade do setor, é necessário que ele acompanhe essas transformações de perto. As mudanças de composição etária da população, no perfil demográfico dos beneficiários de forma geral, as alterações na razão de dependência, bem como a expansão do uso de tecnologias aplicadas a tratamentos são alguns dos exemplos de questões importantes que precisam ser discutidas pela sociedade”, afirma Vera.
Cechin diz que, para o mercado continuar crescendo, as seguradoras e operadoras deve estar focadas em oferecer um atendimento mais humanizado e com qualidade. Além disso, o superintendente executivo do IESS ressalta a importância dessas empresas investirem em um bom canal de comunicação com o consumidor. “Eu não poderia deixar de incluir um item essencial se desejarmos mensalidades mais em conta, que é conter o crescimento dos custos. Isso pode ser feito de muitas maneiras. Uma delas, que acredito ser a principal, é a promoção da saúde, pois ela evita que as pessoas adoeçam tanto, o que consequentemente diminui os valores dos planos”.
Nicole Fraga
Revista Apólice