Os riscos cibernéticos são a principal preocupação global para as empresas em 2022, de acordo com o Allianz Risk Barometer. A ameaça de ataques ransomware, vazamento de dados ou interrupções de TI preocupa as organizações mais do que disrupções nos negócios nas cadeias de abastecimento, os desastres naturais ou a pandemia de Covid-19, temas que afetaram fortemente os negócios ao redor do mundo no último ano.
Incidentes cibernéticos estão no topo do relatório pela segunda vez em toda a história da pesquisa (44% das resposas), Lucros cessantes vêm logo na sequencia (42%) e Catástrofes naturais ficaram em terceiro (25%), depois de um sexto lugar em 2021. Mudanças climáticas sobem para sua posição mais alta até hoje no ranking (6° lugar com 17%), enquanto Surto pandêmico cai para quarto lugar (22%). A pesquisa anual da AGCS abrange a visão de 2.650 especialistas em 89 países e territórios, incluindo CEO’s, gestores de risco, brokers e experts em seguros. Veja aqui os rankings global e por país.
“Para a maioria das empresas, o maior receio é não conseguir produzir seus produtos ou entregar seus serviços. Em 2021 testemunhanos níveis sem precedentes de interrupção, causados por vários gatilhos. Ataques cibernéticos incapacitantes, o impacto na cadeia de abastecimento decorrente de eventos relacionados às mudanças climáticas, bem como problemas de fabricação relacionados à pandemia e gargalos de transporte causaram estragos. Este ano promete apenas uma flexibilização gradual da situação, embora outros problemas relacionados à Covid-19 não possam ser descartados. Desenvolver resiliência contra as muitas causas de interrupção nos negócios está se tornando cada vez mais uma vantagem competitiva para as empresas”, comenta o CEO companhia, Joachim Mueller.
Ranking Brasil
Pelo segundo ano consecutivo os riscos cibernéticos aparecem como principal preocupação para as empresas brasileiras, de acordo com o 11º Allianz Risk Barometer. Cerca de 64% dos respondentes consideram essa a maior ameaça para os negócios, seguido das catástrofes naturais (30%) e a interrupção de negócios (29%).
Ainda no ranking brasileiro, 26% dos participantes afirmam considerar o risco de fogo/explosão, 17% de desenvolvimento macroeconômico (exemplo: aumento de preços de commodities e inflação), e 14% o de pandemia que em 2021 ocupava o terceiro lugar, mas este ano caiu para a sexta posição.
Novos riscos apareceram na lista deste ano como o de perda de reputação ou valor de marca (13%), mudanças na legislação e regulamentação (12%), e falhas em infraestrutura, como apagões elétricos (10%). A preocupação com as mudanças climáticas caiu de 7º para 8º lugar, mas continua sendo um risco considerável pelas empresas, principalmente devido ao aumento de exigências relacionadas aos critérios ESG (ambiental, social e governança, em português).
América Latina: ransomware e vazamento de dados continuam a preocupar no Brasil enquanto as empresas argentinas sentem-se mais vulneráveis a interrupções nos negócios
Os incidentes cibernéticos estão entre os três principais riscos na maioria dos países pesquisados. Um dos principais fatores foi o aumento nos ataques de ransomware, que são confirmados como a principal ameaça cibernética para o próximo ano pelos entrevistados da pesquisa (57%). Segundo relatório da empresa de cybersegurança brasileira Apura, entre janeiro de 2020 e julho de 2021 foram identificados ataques ransomare que vitimaram 137 organizações na América Latina, no período. Deste total, 71 – ou 51% – se deram no Brasil, onde pelo menos 17 grupos de ransomware foram identifcados. Quase metade dos ataques concentraram-se nas áreas governamental, industrial e em empresas de saúde.
“Ano passado vimos um número muito alto de ataques maliciosos, orquestrados por grupos que exploraram vulnerabilidades dos mais variados sistemas, atacando-os de maneira sistemática. Esta tendência deve se manter em 2022, especialmente com a crescente especialização dos cibercrimonosos e os montantes envolvidos em suas atividades”, explica Gustavo Galrão, diretor Regional de Linhas Financeiras AGCS Ibero/Latam. O executivo ainda comenta que, no caso do Brasil, a LGPD é um estímulo para as companhias investirem em sua resiliência cibernética e que, neste ano, o foco dos criminosos pode ser ainda maior nas pequenas e médias empresas.
Lucros cessantes (BI) aparecem como o segundo principal risco global e o primeiro na Argentina, onde teve 58% das respostas. Em um ano marcado por uma disrupção generalizada, a fragilidade das cadeias de abastecimento e de produção ficou mais óbvia do que nunca. De acordo com a pesquisa, a causa de BI mais preocupante são os incidentes cibernéticos; refletindo o aumento dos ataques de ransomware, mas também o impacto da crescente dependência das empresas na digitalização e a mudança para o trabalho remoto. Catástrofes naturais e pandemia são os outros dois gatilhos importantes para interrupção de negócio na visão dos pesquisados.
No ano passado, problemas de demanda pós-lockdown somaram-se a interrupções na produção industrial e logística, já que os surtos de Covid-19 na Ásia fecharam fábricas e causaram níveis recordes de congestionamento nos portos de transporte de contêineres. Atrasos relacionados à pandemia agravaram outros problemas da cadeia de abastecimento, como o bloqueio do Canal de Suez ou a escassez global de semicondutores após o fechamento de fábricas em Taiwan, Japão e Texas devido a eventos climáticos e incêndios.
“A pandemia trouxe à tona questões como a interconectividade das cadeias abastecimento atuais, nas quais eventos não relacionados criam uma disrupção generalizada. Os ataques cibernéticos, problemas com disponibilidade de peças, atrasos logísticos, mudanças de hábitos dos consumidores, protestos relacionados às medidas restritivas…esse fatores tornam qualquer empresa mais suscetível a uma interrupção em suas operações”, comenta Felipe Orsi, diretor de Property da América Latina.
De acordo com o Euler Hermes Global Trade Report, a pandemia de Covid-19 provavelmente levará a altos níveis de interrupção da cadeia de abastecimento no segundo semestre de 2022, embora os descompassos na demanda e oferta globais e na capacidade de transporte de contêineres acabem por diminuir, assumindo que não haja outros desenvolvimentos inesperados.
Empresas estão mais bem preparadas para uma pandemia
Surto pandêmico continua uma preocupação para as companhias, mas que agora caiu da segunda para a quarta posição no ranking global (embora a pesquisa seja anterior ao surgimento da variante Ômicron). Embora a crise do Covid-19 continue ofuscando as perspectivas econômicas em muitos setores, de forma encorajadora, as empresas sentem que se adaptaram bem.
A subida dos temas Catástrofes naturais e Mudança climática para terceiro e sexto lugares respectivamente (NatCat também é nº 2 no Brasil), mostram estreita relação entre essas tendências. Os últimos anos mostraram que a frequência e a gravidade dos eventos climáticos estão aumentando devido ao aquecimento global. Em 2021, as perdas globais por catástrofes seguradas foram bem superiores a US$ 100 bilhões – o quarto ano mais alto já registrado. O furacão Ida nos EUA pode ter sido o evento mais caro, mas mais da metade das perdas vieram dos chamados perigos secundários, como inundações, chuvas fortes, tempestades, tornados e geadas. Exemplos incluem o sistema climático de baixa pressão Bernd, que desencadeou inundações catastróficas na Alemanha e Benelux, a tempestade Filomena na Espanha, e ondas de calor e incêndios florestais no Canadá e na Califórnia.
Os respondentes do Allianz Risk Barometer estão mais preocupados com eventos climáticos relacionados às mudanças climáticas que causam dano ao patrimônio (57%), seguidos por BI e impacto na cadeia de abastecimento (41%). No entanto, eles também estão preocupados em gerenciar a transição de seus negócios para uma economia de baixo carbono (36%), cumprir com complexos requisitos de regulamentação e evitar possíveis riscos de litígio por não tomar medidas adequadas para lidar com as mudanças climáticas (34%).
“A pressão nas empresas para agir sobre as mudanças climáticas aumentou notavelmente no ano passado, com um foco crescente em contribuições net-zero”, observa Line Hestvik, diretor de Sustentabilidade da Allianz SE. “Há uma clara tendência das empresas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa nas operações ou explorar oportunidades de negócios para tecnologias climate-friendly e produtos sustentáveis. Nos próximos anos, muitos tomadores de decisão corporativos estarão analisando ainda mais de perto o impacto dos riscos climáticos em sua cadeia de valor e tomando as devidas precauções. Muitas empresas estão desenvolvendo competências dedicadas à mitigação de riscos climáticos, reunindo especialistas em gerenciamento de riscos e sustentabilidade.”
As empresas também precisam se tornar mais “à prova de” eventos climáticos extremos, como furacões ou inundações. “Eventos anteriores que ocorrem uma vez a cada século podem ocorrer com mais frequência no futuro e também em regiões que foram consideradas ‘seguras’ no passado. Tanto os edifícios quanto o planejamento de continuidade de negócios precisam se tornar mais robustos em resposta a essa mudança”, explica Maarten van der Zwaag, diretor Global de Property Risk Consulting.
Outros riscos que fazem parte do ranking global do Allianz Risk Barometer deste ano são:
– Falta de mão de obra qualificada (13%) está em nono lugar. Atrair e reter trabalhadores raramente foi tão desafiador. Os entrevistados classificam isso como um dos cinco principais riscos nos setores de engenharia, construção, imobiliário, serviço público e saúde, e como o principal risco para transporte.
– Mudanças na legislação e regulamentação manteve-se em quinto (19%). Iniciativas regulatórias proeminentes nos radares das empresas em 2022 incluem práticas anticompetitivas voltadas para grandes tecnologias, bem como iniciativas de sustentabilidade com o esquema de taxonomia da UE.
– Fogo e explosão (17%) são riscos perenes às empresas, ficando em 7º lugar, assim como no ano passado. Desenvolvimentos de mercado (15%) caíram do quarto para o oitavo e os Desenvolvimentos macroeconômicos (11%) desceram duas posições, ficando em décimo lugar.