EXCLUSIVO – Discutir a pandemia da Covid-19 é fundamental para ajudar a entender qual caminho devemos seguir. A Confederação Nacional de Seguros Privados, CNseg, reuniu presidentes de três seguradoras para mostrar o panorama externo e a como pode ser o futuro do mercado brasileiro. O evento foi comandado por Marcio Coriolano, presidente da entidade, que logo na abertura ressaltou que a indústria global de seguros é a principal fonte estabilizadora do mundo atualmente. “Todas as companhias seguiram seus planos de continuidade de negócios, com programas de pagamentos flexíveis, providências voluntárias para a sociedade e medidas de proteção para os seus colaboradores e familiares”.
“Ninguém estava pronto para uma situação de pandemia, em todos os países e em qualquer setor da economia”, sentenciou Luis Gutierrez, CEO da Mapfre. Na Europa, as associações de seguradoras e reguladoras fizeram algumas recomendações ao mercado, principalmente focando em produtos e na solvência das companhias de seguro.
Gutierrez lembrou que apesar do seguro de vida ser o maior tema no cenário de pandemia, por conta da exclusão da cobertura, a maior parte das empresas optou por realizar a indenização por morte por qualquer causa. “Um problema interessante são as coberturas por lucros cessantes, que dependem de um evento que de gatilho para a cobertura, como um incêndio. No caso de clientes que não podem mais consumir produtos, não há cobertura”, lamentou o executivo, ressaltando que não se está falando de exclusão mas de falta de cobertura.
O setor de seguros conseguiu manter a continuidade da sua operação mesmo na fase de transição para o home-office, colocando a segurança de seus colaboradores e suas famílias em primeiro lugar. Os serviços foram mantidos, tanto para segurados quanto para corretores e prestadores de serviços.
José Adalberto Ferrara, CEO da Tokio Marine, usou como exemplo o sistema de home-office adotado na Ásia, em países que estão retomando suas atividades e onde a companhia opera. “Na Ásia, praticamente todos os países estão em home-office, com exceção da China (com proteção do grupo de risco e horários flexíveis, para garantir o distanciamento social); em Hong Kong, eles chamam de 80-20 (80% no escritório e 20% em casa, com alternância de dias por pessoa); no Japão, 50% dos funcionários estão em home-office, mas somente em 7 de abril decretaram um estado de emergência e 70% do colaboradores passaram a trabalhar em casa e 30% no escritório, em dias alternados”, explicou.
O que a pandemia ensina
A primeira lição da Covid-19 é que não se pode ser negacionista ou minimizar o problema. Esta é a opinião do CEO da Zurich, Edson Franco. Esta é a maior crise desde a segunda grande guerra, com agravante do nível de interdependência global. “A consequência é a recessão e o desemprego recorde para todos da nossa geração, com crise arrastada para 2021”.
Franco disse que é possível perceber que as medidas a serem adotadas não são muito diferentes em qualquer lugar. “A resposta para uma crise desta magnitude são ações de governo com pacotes emergenciais para proteção de emprego, renda e capital de giro, com estímulo ao crédito com linhas incentivadas para pequenas e médias empresas e medidas de redistribuição de renda via programas assistenciais”. Porém, ele chamou atenção para o fato de que a crise não pode ser uma desculpa para distorcer relações privadas com excesso de intervencionismo estatal. As medidas tem que ter caraterística emergencial e transitória, com começo, meio e fim”.
A digitalização dos processo de todos os processos é uma realidade agora, que deverá ser um legado para o período pós-pandemia. “Se estas mudanças serão permanentes, não sabemos, porém há uma quebra de paradigmas relacionados à virtualização dos processos”, pontuou Franco.
Outra lembrança importante dos líderes é que as empresas aprenderam que agora não precisam mais de espaço fisico, pois o trabalho remoto se mostrou viável. “Estamos diante de um ponto de inflexão, em que poderemos privilegiar o trabalho em home office, questionando o espaço que ocupamos. Em termos de produtos, acredito que os corretores e seguradores precisam enxergar que tipo de produtos podemos desenvolver para atender a indústria de seguros”, apontou Ferrara.
Futuro e corretores
Luis Gutierrez, declarou que ainda não se sabe como será o mercado de seguros no futuro, nem como será a evolução da economia. “O brasileiro e o mercado estarão mais dispostos a escutar sobre produtos de seguro, mas outra coisa é procurar a conversa. Estar junto ao cliente para fazer oferta e o assessoramento para descobrir o que ele necessita será o foco dos corretores de seguros”, garantiu.
O CEO da Mapfre destacou que é necessário perceber que o mundo está mudando e a tecnologia tem que servir para ajudar no contato com o cliente. “O cliente precisa da venda consultiva, mas temos que chegar até ele”. Para ele, a sociedade está mais aberta mas ela guarda sua memória, portanto, é difícil dizer quais serão as suas necessidades.
Os corretores de seguros e todos os prestadores estão demonstrando que o setor é capaz de fazer muito mais coisas do que sabia. Temos que ter capacidade de nos reinventar e realizar novos negócios, nas mãos de milhares de pessoas que trabalham no setor segurador.
Ainda não é possível prever como será o consumidor do futuro, porque a sociedade tende a manter um viés de normalidade após a crise. Não dá para saber qual será o novo normal. “O que sabemos é que o corretor deverá fazer um assessoramento de risco para os clientes e não apenas vender produtos. A ferramenta tecnológica é fundamental, vinda de corretores ou dos seguradoras. Não acredito na desintermediação”, sentenciou Franco.
Marcio Coriolano concluiu que a confiança que temos é de que o mercado foi construído com muita competência.
Kelly Lubiato
Revista Apólice