Os especialistas em microsseguros e professores da matéria no MBA da Escola Nacional de Seguros, Adevaldo Calegari e Bento Zanzini, foram os convidados da 6ª edição de 2017 do Trocando Ideias. Realizado pela União dos Corretores de Seguros (UCS), o evento aconteceu no dia 22 de agosto, em São Paulo.
Os executivos apresentaram “Uma visão atualizada dos microsseguros no Brasil e no mundo” sob duas óticas: Calegari como corretor de seguros, que além de mentor do Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo é membro da Comissão de Microsseguros da Fenacor; e Zanzini como segurador, ex-vice-presidente da Mapfre Seguros e que agora atua como consultor para o mercado.
A presidente da UCS, Mara Borges Sutto, destacou que sua gestão tem como foco trazer para debate especialistas em determinados ramos de seguros, sempre com a presença de um corretor, para que orientem os associados sobre novas oportunidades de diversificação da carteira.
“Sabemos que hoje é imprescindível para o corretor de seguros diversificar sua atuação, e a ideia é que os especialistas apresentem produtos diferentes, abordem as partes técnica e operacional para cada um poder decidir se aquela oportunidade é ou não interessante para si”, disse.
Calegari explicou que microsseguros começou a ser discutido no Brasil em 2003, ainda com a ideia de seguro para consumidores de baixa renda, sem a proposta dos microsseguros.
“Em 2004 nós tivemos seguro de vida de caráter popular, em 2005 falou-se pela primeira vez de seguro de automóvel popular. Em 2008 foi constituída a primeira comissão consultiva de microsseguros da Susep, e entre 2010 e 2011 foi apresentada uma proposta para a criação dos microsseguros, cuja resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados saiu no fim de 2011. O CNSP publicou em 2013 a regulamentação para os canais alternativos de comercialização de microsseguros, e foram iniciadas as vendas de microsseguros”, relatou.
“Microsseguro não é subproduto, não é produto de segunda categoria, não é produto marginal. Microsseguro é uma tentativa de resolver um problema social que acaba voltando para o governo. O microsseguro atende todos aqueles que não têm acesso a seguros, que não entendem de seguros, que não tiveram oportunidade de ter seguros oferecidos a suas famílias, negócios”, defendeu Calegari.
Segundo ele, há um problema grave de distribuição desses produtos, pela baixa margem de remuneração dessas vendas, pois são tíquetes de valores muito baixos. Mas é possível viabilizar e tem muito potencial. “Para muitos de nós não faz sentido pagar R$ 5 por mês por uma apólice de R$ 20 mil de seguro de vida, mas para 72% da população brasileira, cuja margem de rendimento é até um salário mínimo, R$ 20 mil significam 24 meses de receita. O que é ainda mais importante quando se perde o líder da família”, disse, ressaltando que existem outros canais de distribuição que ainda podem ser utilizados, como parcerias com lojas, empresas de eletricidade etc. “Num período em que se está retomando o crescimento da economia, é um negócio a se pensar”.
Bento Zanzini explicou que a nova conceituação do microsseguro coloca o produto como seguro inclusivo. “Tivemos as regulamentações, mas o mercado não se mexeu. Primeiro por uma completa falta de cultura de seguros para a mais baixa renda. A baixa percepção por parte deles e a falta de uma comunicação adequada por nossa parte não nos permitiu causar impacto neste negócio. Nem os microsseguros nem os seguros populares ainda atingiram essa população”.
Ele abordou de forma ainda mais detalhada as dificuldades com os canais de distribuição, a ausência de uma rede de distribuidores, mesmo com a regulamentação do corretor de microsseguros, os ganhos de escala pouco atraentes para o corretor já estabelecido, os custos de administração elevados na parte de cobrança e controles operacionais, mas defendeu que é um grande negócio para quem souber trabalhar nele.
“Em 2016 foram emitidos R$ 233 milhões em prêmios de microsseguros, não é pouca coisa, é um volume maior do que em muitos países da Ásia e da África, por exemplo”.
Ricardo Ricci, da Ricci & Dias Corretora de Seguros, de Presidente Prudente, também foi convidado a participar do evento por ter um case de sucesso na venda de microsseguros. “Como a maioria dos corretores, 85% da minha produção era automóvel. Há um ano, um executivo da seguradora Tokio Marine me instigou a entregar neste segmento de microsseguros. Para mim, somente grandes redes de lojas conseguiriam viabilizar a venda de microsseguros. Mas a Tokio Marine lançou um produto para pequenos e médios varejistas, e tenho como cliente uma loja de eletrodomésticos, que tem mais cinco filiais na região, com isso começamos a fazer um trabalho de venda dentro dessas lojas”, contou Ricci.
“O legal deste segmento, principalmente deste produto para pequenos varejistas, é que são seguros vendidos para o cliente no cartão de crédito dele. As vendas estão sendo feitas todos os dias nessas lojas, trabalhamos com seguro de acidentes pessoais, residencial, celular e garantia estendida. Muitas pessoas nessas cidades não têm acesso à contratação de um seguro, então temos um público muito grande em potencial.”
O presidente do Sincor-SP, Alexandre Camillo, prestigiou o encontro e comentou o atual foco do Sindicato, juntamente à Fenacor, no combate às associações de proteção veicular, que atuam como se fossem seguradoras, mas na ilegalidade e sem garantias como reservas técnicas, podendo prejudicar os consumidores e a imagem do mercado de seguros legalizado.
“São os corretores de seguros que estão empunhando esta bandeira, se atentando para os riscos que o mercado marginal de seguros pode trazer a todos nós. Se precisarmos nos mobilizar em ações em Brasília, conto com todos da UCS, assim como demais entidades de corretores de seguros, para que possamos defender o que é certo, justo e legal”.
O encontrou, que reuniu cerca de 100 corretores de seguros, também empossou dois novos associados: Cristina Faviere, da Faviere Corretora de Seguros; e Jorge Teixeira Barbosa, da Valor Ação Corretora de Seguros.