Ultima atualização 11 de setembro

A nova fronteira da tecnologia no mercado financeiro

* Por Marcelo Blay
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Marcelo Blay

Estive semana passada em Las Vegas para um evento focado exclusivamente na aplicação de tecnologias na indústria de seguros, o Insurtech Connect 2016. O primeiro impacto foi a quantidade de pessoas: 1.500. A partir daí surgiu uma grande dificuldade em selecionar quais painéis assistir. Tive que optar por 20 entre mais de 50, o que por si só já foi uma tarefa penosa, pois a vontade era de estar em todos. Tentarei sumarizar neste artigo um pouco do que vi e ouvi em dois dias e meio de imersão.

O primeiro ponto, que talvez sintetize o que estamos vivendo mundialmente – e o Brasil não se encontra fora desta realidade – é que a indústria de seguros é uma das últimas fronteiras do mercado financeiro que ainda não havia sido drasticamente impactada pela revolução tecnológica trazida pelas startups de finanças, as já populares fintechs. O futuro chegou e como medida inicial este grupo de empresas se batizou com um nome próprio para se diferenciar: são as insurtechs.

Conversando com participantes do evento, a estupefação é que há um ano nem se falava do novo termo específico, muito menos poderia se imaginar um evento desta magnitude com tamanha audiência. A grande constatação é que existe muita coisa a ser feita na indústria, tomando como base um estudo do Financial Technology Partners chamado Insurance Technology Trends, aliado à minha experiência profissional e o evento em Las Vegas.

A maior parte da comunicação e o engajamento dos clientes com a categoria ainda é feita de forma ineficiente através dos canais de distribuição atuais. O sistema de preços e as características dos produtos (e uma gama enorme de serviços) ainda são vistos como uma caixa preta pelos consumidores. A coleta de dados para precificação e os processos operacionais são relativamente arcaicos comparados com as tecnologias disponíveis e em muitos casos ainda dependentes de papel. As seguradoras convivem com sistemas legados difíceis de manter e integrar com o novo mundo digital.

Os sistemas e processos não foram construídos com a nova demanda de usabilidade (UX – user friendly) e são pouco flexíveis e adaptáveis. Os modelos atuariais em uso, apesar de historicamente muito eficazes, podem ser um entrave para desenvolvimento de produtos personalizados, desenhados para situações específicas, como, por exemplo, os seguros on-demand, recém lançados no mercado por uma seguradora digital chamada Trov. Os processos de sinistros geralmente necessitam de presença física de vistoriadores, análises profundas por técnicos especializados e períodos relativamente longos para aprovação e pagamento da indenização.

Enquanto isso, o que temos visto nos mercados com o uso da tecnologia em estado avançado são corretores online com capacidade de apresentar produtos e preços de forma mais transparente, descomplicada e rápida. Além disso, o pagamento de sinistros “real-time” através do uso de inteligência artificial; precificação e subscrição de riscos flexíveis; uso de machine learning e aplicativos que permitem aos clientes a gestão de suas apólices; processos simplificados integrados por webservice para corretores e prestadores de serviços; grande conectividade dos corretores com as seguradoras; produtos personalizados e on-demand.

Finalmente, participei de um painel que lançou a provocação de tentar prever quais das iniciativas abaixo estarão sendo usadas daqui cinco anos, tentado prever o que veio para ficar e o que não passa de um modismo fadado ao desaparecimento. Colocarei os termos em inglês, pois ainda não achei as melhores traduções: driveless cars, telematics, wearables, artificial intelligence, blockchain, big data, usage based pricing, internet of things, P2P (peer to peer insurance), cloud computing e machine learning.

Concluindo, o tal futuro chegou e parece avassalador. As seguradoras que estão tendo sucesso são aquelas que se aproximam deste ecossistema digital e desenvolvem soluções em conjunto com as mais variadas startups ao invés de tentar buscar as soluções sozinhas. O maior exemplo disso é a seguradora chinesa Zhong An.

*Marcelo Blay, CEO e fundador da Minuto Seguros

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