Ultima atualização 20 de junho

Setor de seguros quer permanência do Reino Unido na União Europeia

Partido Conservador estuda referendo para população decidir sobre a permanência, ou não, do Reino Unido na União Europeia (UE)

Reino Unido

Durante a campanha eleitoral que renovou o parlamento britânico e garantiu o segundo mandato ao primeiro-ministro, David Cameron, o mercado segurador da terra da rainha estava ressabiado com um ponto polêmico da agenda do líder do Partido Conservador: a convocação, se eleito, de um referendo para população decidir sobre a permanência, ou não, do Reino Unido na União Europeia (UE).

Pois bem, ele venceu as eleições e colocou o referendo na agenda do governo mais rápido do que a comunidade empresarial do país esperava. Antes o “Brexit” era apenas um debate eleitoral polêmico, hoje é uma política efetiva com grandes chances de ser implementada ainda a partir deste ano, dependendo do resultado do referendo em 23 de junho, claro. A disputa está acirrada. Pesquisas do Instituto Yougov deste mês indicam que 39% dos britânicos querem permanecer na Europa, enquanto 38% querem o Reino Unido fora da UE – os 23% restantes se dizem indecisos. Especialistas dizem que os recentes atentados terroristas na Bélgica e divulgações sobre o elevado número de imigrantes europeus vivendo, trabalhando e usufruindo de benefícios sociais no Reino Unido devem dar um gás para a campanha do Sim, favorável ao “Brexit”, para não falar da insatisfação de britânicos com as contribuições bilionárias do país com a União Europeia.

O sentimento no mundo dos negócios é de estresse generalizado. O corretor Larry Ferguson, da Insurance Age, diz que o referendo é “o assunto mais importante do setor segurador em décadas” e vê um mercado dívidido. Executivos de grandes seguradoras e corretoras, liderados pelo Lloyd’s of London e pela Associação de Seguros Britânica (ABI, da sigla em inglês), abraçaram a campanha pró-permanência. Representantes de pequenas e médias firmas do setor acreditam que sair da União Europeia pode trazer benefícios. Todos já fazem cálculos e projeções sobre como será, eventualmente, fazer negócios no Reino Unido como um ex-membro da União Europeia.

Quem é contra a saída prevê prejuízos, perda de empregos, mais burocracia em transações, principalmente com os países europeus, e até elevação dos preços das apólices. Reunidos em um seminário promovido em março pelo Instituto de Seguros de Londres, os principais executivos das grandes firmas do setor detonaram, em uníssono, a ideia de saída do Reino Unido da UE.

Mark Wilson, CEO da Aviva, maior seguradora britânica, disse que o mercado segurador britânico não tem uma apólice para segurar os estragos de uma eventual partida do país para fora do bloco. “Eu sou neo-zelandês, não estou aqui recomendando como as pessoas devem votar no referendo. Mas como chefe de uma empresa que gere cerca de 350 bilhões de libras esterlinas em ativos e tem 33 milhões de clientes no mundo todo, sendo 16 milhões no Reino Unido, é meu dever alertar para os riscos, algo que fazemos diariamente na Aviva. Um dos principais riscos é simplesmente o baixo crescimento. O Reino Unido fora da UE verá seu crescimento econômico reduzido nos primeiros anos. Isso significa que as pessoas vão ficar mais pobres e deixarão de priorizar o seguros em seus orçamentos”, projetou Wilson.

Stephen Hester, CEO da RSA, integra um grupo de 36 executivos de grandes empresas listadas na bolsa de Londres que assinaram uma carta alertando para os impactos negativos de um eventual “Brexit”. Nas últimas semanas, com as pesquisas eleitorais mostrando avanço do apoio à saída britânica da UE, as ações de corporações britânicas vêm sofrendo golpe após golpe na bolsa. “Metade do nosso valor de mercado vem dos negócios que temos com a Europa, seja em comércio exterior, seja com as nossas filiais nos países membros. Alguns dos nossos principais concorrentes são europeus. Fora da União Europeia perderemos a igualdade de condições com os concorrentes europeus, o que é muito valioso para a gente longo prazo”, afirmou Hester.

Mas foi Sean McGovern, diretor da área de riscos do Lloyd’s of London, quem fez a defesa mais eloquente da permanência do Reino Unido na União Europeia no evento do Instituto de Seguros de Londres. McGovern pontuou que nos últimos dez anos atuou como representante do Lloyd’s na Comissão de Competitividade do Parlamento Europeu, em Bruxelas. “Muito foi feito em termos de regulação e de adequação de competitividade entre seguradoras e corretoras britânicas e europeias, seria muito arriscado pôr um fim nisso”, declarou.

“A adesão do Reino Unido a UE é parte da história de sucesso do Lloyd’s e de todo o mercado segurador da City of London, enquanto hub do setor. Isso é e será a chave para o nosso futuro crescimento e desenvolvimento e como lidamos com a concorrência de outros centros de seguros em todo o mundo. É por isso que temos sido tão focados em nosso trabalho de planejamento de contingência. Do ponto de vista do nosso negócio, estar na UE confere três benefícios muito importantes: nos proporciona o acesso ao mercado único europeu, com 500 milhões de consumidores; incentiva e facilita o investimento estrangeiro direto; e, por fim, facilita o comércio com países de fora da UE. Estes benefícios são, a meu ver, fundamentais para o sucesso do mercado de seguros de Londres e sua posição como o maior centro de seguros especializados e de resseguros do mundo”, resumiu McGovern, lembrando que numa votação interna entre os sindicatos que atuam no Lloyd’s, dois terços reivindicaram a permanência do Reino Unido como membro da UE.

Do outro lado da corda – talvez o lado mais fraco e com menor capacidade de mobilização – estão corretoras e seguradoras de menor porte, com menor acesso ao vasto mercado europeu. De acordo com consulta feita por Larry Ferguson, da Insurance Age, profissionais desse segmento “não ganham tanto quanto as empresas maiores por estar dentro da UE”. Os principais pontos levantados têm a ver com regulação e competitividade. “Eles mencionam questões como uma estrutura de mercado diferente, difícil de se adaptar, um regime de regulamentação diferente na Europa e ainda em fase de implementação intermediária aqui entre as empresas menores e é obrigatório para ser competitivo com base nas regras da União Europeia. Há uma certa divisão, mas deve-se salientar, porém, que a Associação dos Corretores de Seguros Britânicos (Biba, da sigla em inglês) defende firmemente a permanência na zona do euro”, relata Ferguson.

Um dos consultados por Ferguson, Ian Gosden, da Higos Insurance Services, disse que, pessoalmente, “enquanto cidadão”, prefere a permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas admite que como corretor de seguros quer que o “Brexit” seja vitorioso no referendo de junho deste ano. “Estamos totalmente em desvantagem, na minha opinião [em relação as grandes seguradoras, com mercados já consolidados no Reino Unido e na Europa]. Trabalhando como independentes, se quisermos atuar fora do país, a concorrência não permite disputar mercado. O mercado de seguros no Reino Unido é muito sofisticado, na Europa eles não têm os mesmos controles que temos, é uma regulamentação mais viciada”, reclama Godsen.

Luciano Máximo, jornalista, é repórter licenciado do jornal Valor Econômico, cobriu o setor de seguros e resseguros na Gazeta Mercantil

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